sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

E as lapinhas?

Presépio

Em 1583, o Padre Fernão Cardim registra: “Tivemos pelo Natal um presépio na povoação, aonde algumas vezes nos ajuntávamos com boa e devota música, e o irmão Barnabé nos alegrava com seu berimbau”. Presépio e Folia de Reis, obrigatórios no Natal, estão nesta e nas duas páginas seguintes.
José C. Moraes/ABI
Na cidade, na roça, por todo o Brasil, é tradição armar o presépio, representação da Natividade. “Quem armar um ano terá que armá-lo sete anos seguidos, senão acontecerá uma desgraça. O marido armará primeiramente sete anos, depois a mulher poderá armar outros sete.” Assim diz a crendice popular. Montam o presépio em dezembro, fiéis ao hábito português, e atraem visitas pelo esplendor e novidade da apresentação. Exibem-no nas igrejas, residências. Curiosos e devotos o visitam e deixam, depois da oração, a espórtula, a esmola.
Ricardo Breda/ABINa cena de adoração, na manjedoura de Belém, estão José, Maria, Anjo da Glória, Anjo da Guarda, pastor com ovelha nos ombros, tocador de pífano, de sanfona, camponesa com flores, caçador e seu cão, o profeta Simeão. O galo do céu, carnei-rinho de São João, vaca, jumenta, gambá, cabrito e mula. A caminho, Gaspar, Melchior e Baltasar. Em 6 de janeiro, os três Reis Magos se aproximam para contemplar o nascimento do Deus-menino. Nas casas onde não há presépio, tem-se a Lapinha, maneira mais singela de abrigar o menino Jesus. Lapa ou gruta também pode ter sido o lugar onde Jesus nasceu.
Após o pôr-do-sol, luz artificial ilumina o presépio por toda a noite. A sabedoria popular ensina que “o presépio tem que pousar iluminado, porque quando nasce uma criança é preciso ter uma luz acesa na casa até ser batizada”.
De onde vem a palavrapresépio
Vem do latim praesepium, palavra formada por prae (por causa de) e sepes (cerca, sebe), ou seja: estábulo, curral, cocheira. Na língua portuguesa, designa a instalação que representa o nascimento de Cristo.
Na noite de Natal, à espera da Missa do Galo, encena-se o Pastoril, popular fol-guedo natalino. Antigamente, as pas-torinhas visitavam presépios da cidade, cantavam nas casas e pediam esmolas em benefício do Natal das crianças pobres. “Faziam visitas aos presépios, porque a camponesa foi visitar o Deus- menino; elas imitavam-na”, conta a lenda.
Hoje, em muitas regiões, grupos de pastoras se dividem em cordões azul e encarnado. Diante do presépio, cantam e dançam em louvação ao Natal.  Ordenando as fileiras, vêm a mestra do cordão encarnado e a contramestra do azul. Oferecem flores ao público e vestem chapéus de palha, saias de chita, laços de filó. A Diana, elemento neutro, traja vestido metade encarnado, metade azul. Fazendo folia, bailam o anjo, a cigana, o velho e outras figuras. As pastoras cantam com pandeiros, acompanhando a orquestra de violões, cava-quinhos e pífanos.

Entrai, entrai pastorinhas
por este portal sagrado
vinde ver a Deus-menino
numas palhinhas deitado.
Reprodução/AB
Os foliões relembram os três Reis-Magos que, guiados por uma estrela, foram adorar o recém-nascido Jesus na manjedoura, levando oferendas.
Reprodução/AB
Da noite de 24 de dezembro até 6 de janeiro, grupos de músicos percorrem zonas urbanas e rurais, cantando e louvando o nascimento do Deus-Menino. Imitam os Reis Magos, que viajavam guiados por uma estrela. Por isso, a Folia de Reis só sai à noite.Rosa Gauditano/Estúdio RO rancho de foliões se compõe de umas 15 pessoas. Cantam e respeitam o Alferes, porta-estandarte da Folia. Tocam violões, cavaquinho, pandeiro, pistão, tantã, clarinete, rabeca. É costume receber os foliões, dar-lhes um dinheiro (o óbolo), oferecer café e receber a bênção. São emissários do Deus-menino, representam os Reis Magos e cantam o nascimento divino. “Como reis devem ser recebidos.”
As folias também cumprem a função de pagar promessa ou alcançar graça. Para isso, é necessário que saia às ruas por, no mínimo sete anos. Os foliões passam somente pelas casas onde há presépio. E quando, no local visitado, se acende uma luz, vem a música.
Os três Magos do Oriente / foram visitar Jesus,
trouxeram por sua guia / a brilhante estrela luz.
O dono da casa convida a entrar. Eles tiram os chapéus em frente do presépio:
Foi onde Jesus nasceu, / no presépio de Belém,
salvamos a Deus-menino / e a Maria também.
Nesta jornada, ao lado da bandeira, sem nunca passar-lhe à frente, seguem os palhaços mascarados, saltando, dançando, recitando chulas e fazendo brincadeiras. Tentam desviar os Reis do caminho. Na folia capixaba, eles representam satanás. Em Minas Gerais, fazem alusão a Herodes. São também chamados “guardas da companhia” ou mocorongos. Os palhaços têm a obrigação de “tirar” os sete anos. Segundo o dito popular, são seres malfazejos, soldados de Herodes, e só por meio da árdua penitência das máscaras poderão livrar-se do mal. Os rostos devem estar sempre cobertos, os pés descalços.
Quando a bandeira se ergue, o Alferes convida a família para a missa, agradece a hospitalidade e o grupo parte.
Minha bandeira se despede / vai no giro de Belém.
Adeus, senhores e senhoras, / até o ano que vem.
Reprodução/AB
Você sabia…
… que para lembrar aos fiéis o ambiente em que Jesus nasceu, São Francisco de Assis construiu o primeiro presépio, em Greccio, Itália, em 1223? Ele o exibia à meia-noite, hora simbólica do Natal. Seguia-se missa, que entrava pela hora em que os galos cantam. Daí surge o nome de missa do galo para esta celebração.
Da Redação

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