AS 16 DERROTAS QUE ABALARAM O BRASIL, Sebastião Nery, Pgs. 123-125
1- De como se faz um governador indireto
A Paraíba é shakespeariana. Não tem meias medidas. É ser ou não ser. Os outros tinham cinco, dez vinte candidatos a governador. Ela, dois só. Do começo ao fim. Quem era um estava contra o outro. Na Paraíba, ninguém fica em cima do muro. Se ficar, empurram d outro lado.
Quando ninguém falava em sucessão estadual, quando o governo Geisel ainda engatinhava surpresas Largo da Misericórdia, no Rio, Paraíba já tinha dividido o seu mar vermelho ao meio. José Américo e Ernani Sátiro com Ivan Bichara. João Agripino e o imponderável com Juarez Faria.
Um dia, Petrônio Portela chegou lá. Queria uma lista de nomes. Mas lista como, se a Paraíba a tabuada política só conta até dois? De qualquer maneira, arrumaram a lista:
Ivar Bichara, O UM.
Juarez Faria, o dois.
E, para constar, Dorgival Terceiro Neto: Teotônio Neto, deputado federal de 34.147 votos nas eleições de 70; e um quarto, que não era neto, mas fora secretário da Fazenda de João Agripino e é presidente do Tribunal de Contas do Estado.
Não adiantou mesmo lista nenhuma. Mais votado, Ivan, depois Juarez. Dorgival teve uns votos de homenagem a seu dinamismo administrativo e sua simpatia. A Paraíba estava dividida Só que dividida como caça de onça e gato. O depois Juarez. Só que dividida como caça de onça e gato. O pedaço grande, muito grande, com Ivan, e o resto com Juarez.
A partilhar tinha que ser feita em Brasília, para ver quem ficava com o botim. De João Pessoa, Petrônio foi a Natal, voltou direto. Ivan estava no Rio, foi a Brasília conversar com Petrônio. Saiu tranquilo, Dinarte Mariz Esteve com Petrônio, disse a Ivan:
- Meus parabéns.
Domingo, Dinarte telefona a Ernani, em João Pessoa :
- Venha Urgente que as coisa estão mal.
Segunda cedo, às 8 horas. Ernani sai para pegar em Recife o avião das 8,30. Perde o avião vai para o hotel Guararapes, Telefona a Armando Falcão e Petrônio:
- Espero que o nome não seja anunciado antes de eu falar com o Presidente.
Às 17 horas, segue para Baseia com o deputado Álvaro Gaudêncio (44.893 votos em 70) No aeroporto, esperando-o, Dinarte, Teotônio Neto, Wilson Braga (43.055 votos em 70 - e 65 mil em 74). Vai direto à casa de Petrônio. Petrônio jantando. Na mesa, conversam. Petrônio tranqüiliza-o:
- Fique certo de que não anunciarei o nome antes que você fale com o Presidente.
Então sai, pede ao general Golbery, uma audiência com o Presidente. Sentiu má vontade em Golbery. Desconfiado , pede a Luís Viana E Vitorino Freire, que almoçavam quarta-feira com o Presidente Geisel, que consigam a audiência. Geisel marca a audiência para a 4ª seguinte. Em Brasília diz-se que Juarez já estava escolhido. E o enfarte de Ernani resistindo.
Ernani vem esperar a audiência no Rio. Fica sabendo que Petrônio chamou Ivan de parado e mole, que José Américo mandou carta a Petrônio desmontando os adjetivos. Foi ao general Reinaldo de Almeida. O general não queria nada com a história.
Não me meto no assunto. É político, de competência do Presidente.
Mais autorizou a falar em nome dele, com Geisel, defendendo Ivan. Ernani volta a Brasília, com um documento de oito itens para a audiência com Geisel, marca para as 17 horas de quarta, véspera da viagem do presidente à Bolívia. Chega ao Planalto às 16,45, já lá estava o vice Adalberto Pereira dos Santos para assumir às 18 horas. Aparece um oficial da Marinha do gabinete:
- Governador, o senhor tem audiência marcada para agora. Mas o Presidente está despachando com o ministro do Exterior, revendo documento para o encontro com o presidente da Bolívia, amanhã. Logo em seguida às 18 horas passará o governo ao senhor Vice-Presidente da República, já aqui presente.
- Lamento muito, mas quem me concedeu a audiência foi ele, e só ele pode desmarcar.
Às 18,25 horas, o presidente Geisel pede ao general Adalberto pereira dos Santos que espere um pouco, porque vai receber o governador da Paraíba. Ernani entra, cumprimenta o ex-colega Superior Tribunal Militar.
- Sátiro, você sabe que é o único governador que recebi até agora para tratar de sucessão.
- Sei, Presidente. E por isso mesmo vou entrar logo no assunto.
Abre a pasta, tira o documento escrito e vai tratando, um a um, dos itens levados como lembretes. Três vezes o Presidente o interrompe, perguntando detalhes. No oitavo item, Ernani já está falando alto:
- Presidente, se Ivan não for o governador, não tenho autoridade para voltar à Paraíba. Um contínuo do Palácio, se eu pedir um cafezinho, não me atenderá.
O Presidente levanta-se:
Sátiro não se exalte. Vá tranqüilo.
No dia seguinte, quinta-feira, viajou para a Bolívia. Sexta-feira voltou. À tarde, 24 de maio, Ivan Bichara Era anunciado governador da Paraíba. Presente de aniversário. Naquele dia fazia 56 anos.
Acabava assim, um diário Ionesco na Paraíba de Shakespeare.
Bela página - isso são os bastidores
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