As expressões encabeçadas por Mayara Petruso, na internet, após o resultado das eleições de 2010 merecem um contraponto. Isso se deve ao instinto selvagem que se propaga e o esvaziamento das ideias: “nordestito não é gente, faça um favor a Sp, mate um nordestino afogado”! “Afunda Brasil. Deem direito de voto pros nordestinos e afundam o país de quem trabalhava para sustentar os vagabundos que fazem filho para ganhar o bolsa 171.” Porém, essa visão doentia não se reflete na maioria dos paulistas. Hoje, é rotina, muitas paulistas se casam com nordestinos e vice-versa.
Não se deve questionar o mérito da necessidade de ajustamento gramatical das colocações destacadas pela autora. Tanto o poeta pernambucano Manuel Bandeira quanto o paulista Mário de Andrade, talvez, não fariam objeção ao coloquialismo adotado pela moça, mas o conteúdo, sim. Este cheira o holocausto abominado no período complexo da história.
Remete-se à lembrança de Marcélia Cartaxo. Esta atriz paraibana, em visita à Berlim para receber o Urso de Prata referente ao filme A Hora da Estrela, foi agredida fisicamente por um xenófobo por confundi-la com uma turca.
A estudante de Direito parece fugir da amplitude da luz da informação, caminhando-a na contramão. O Estado de SP não é um bem privado e não está fora do contexto nacional e internacional. O Brasil é composto por uma Federação de Estados organizados, cujos habitantes têm o direito à livre locomoção em todo território. A estudante deveria colocar tais fundamentos em prática, assim como os dispositivos legais que tratam do crime de racismo.
Deve-se enxergar o todo, não uma parte; e esta sendo enviesada de preconceito, perde-se a linha ótica. SP foi construído por uma multiplicidade de raças. A contribuição do nordestino para o crescimento de SP se constata em vários setores: empregados, empregadores, artistas, profissionais liberais, intelectuais e esportistas.
O Museu de Arte de São Paulo Chateaubriand conhecido como MASP, situado na Av. Paulista, foi criado e inaugurado pelo polêmico magnata paraibano Assis Chateaubriand; assim como famosas ruas e avenidas de SP são fontes inspiradoras de cantores nordestinos. “Cruzo a Ipiranga e a Avenida São João”. “E atravesse a Rebouças sem olhar pra lado algum”. Na outra ponta, um respeitável empresário brasileiro, colunista de um famoso jornal paulista, em seu discurso, citou a importância do seu bisavô pernambucano para o Grupo Empresarial da família instalado em SP.
Há, atualmente, um processo de descentralização da economia brasileira. Na década de 80, SP representava 50% da economia do país, hoje, o percentual é em torno de 30%. Não significa, porém, que SP perdeu economicamente. Tal efeito se deve ao crescimento de outras regiões, a exemplo do Nordeste, Centro-Oeste e Norte, o que é positivo para reduzir a disparidade socioeconômica do país.
Em 2009, outro ponto positivo para o Brasil, o Ceará ficou entre os primeiros em números de alunos do ITA, bem como estudantes do Nordeste ganham espaço nas universidades paulistas nos cursos de graduação e pós-graduação.
O programa bolsa família é uma medida de inclusão social. Não se trata de “bolsa para vagabundos”. Ao contrário, o Brasil vem reduzindo o índice de desemprego e natalidade, em especial no NE, tornando-se um país de idosos. Ao contrário, o programa bolsa família tem um duplo efeito: além da inclusão social às famílias em situação de pobreza, apresenta-se um poder de consumo e, por conseguinte, maior demanda de emprego. Os EUA, também, adotam medidas similares. Segundo o Jornal “Wall Street Journal”, milhões de americanos dependem do programa bolsa família para comer (“food stamps”).
A política é um processo dinâmico. FHC obteve uma boa votação no NE, inclusive, venceu Lula. Em 2002, em razão do baixo crescimento econômico do Brasil, aumento do desemprego, crescimento da dívida externa e submissão ao FMI, Lula venceu Serra em todos os Estados da Federação, inclusive em SP, com exceção de um, o do Estado de Alagoas, a única Unidade Federativa que Serra o venceu. A democracia é fundamental para proceder à opção de escolha. Assim, o povo de SP o fez, elegendo políticos de diferentes concepções. Logo, devemos respeitar os cidadãos e não instigar artifícios inadequados.
A vitória de Dilma não se limitou ao NE. A petista venceu no Sudeste, maior colégio eleitoral, inclusive, obteve uma votação expressiva em SP. A seleção brasileira, do mesmo modo, consagra-se o brilhantismo com a unificação dos talentosos jogadores das diversas regiões do país.
Logo, o preconceito racial é perigoso. Ao invés de trazer para si essa insanidade, seria mais interessante, talvez, assistir a um filme de Hollywood, cujos estúdios de cinema têm uma participação significativa de empresários judeus. O desfecho dessa proposição requer uma frase de Nelson Mandela: “Eu odeio o racismo, pois o considero uma coisa selvagem, venha ele de um negro ou de um branco”.
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