AS 16 DERROTAS QUE ABALARAM O BRASIL, Sebastião Nery, Pgs. 123-125
2- DE COMO SE ELEGE UM SENADOR DIRETO
Juarez Faria, secretário de Planejamento do governo João Agripino, vice-governador, depois diretor do BNH, tem biografia curta. A biografia dos derrotados é sempre curta.
Ivan Bichara Sobreira foi deputado estadual em 1947 (1.990 votos, último numa bancada de 21 da UDN), reeleito em 51 (3.248) pela Coligação Democrática Paraibana (PDS-PL) que elegeu José Américo governador; líder dos governos Oswaldo Trigueiro e José Américo; deputado federal (PDS-PL) em 54 com 9.951 votos; segundo suplente de federal (UDN) em 62, com 9.249; presidente do Conselho Consultivo das Caixas Econômicas Federais em 65, nomeado por Castelo Branco.
Os políticos gostam dele. José Américo é tio e patrono. Claudio Leite, deputado federal da Arena (29.660 votos em70);
- “É um excelente homem público, paciente, hábil, e sem dúvida será capaz de unificar a Arena paraibana”.
Marcondes Gadelha, maior votação do MDB em 70 (43.532):
- “É um homem correto, um liberal de grande vivência política, enfim uma escolha feliz”.
E os intelectuais aplaudiram, em 68, seu lúcido e bem escrito ensaio de crítica literária sobre “O Romance de José Lins do Rego”. Talvez muito do homem que ele é e do que ele pensa esteja nas três epígrafes que escolheu para abertura do livro.
a) “Ver bem não é ver tudo; é ver o que os outros não vêem” (José Américo de Almeida);
b) “Se eu morrer, morre comigo um certo modo de ver” (Carlos Drummond De Andrade);
c) “Ver só com os olhos é fácil e vão. Por dentro das coisas é que as coisas são” (Carlos Queiroz).
O mesmo não se pode dizer de Aluísio Campos, O incansável e insistente candidato da Arena da Paraíba ao Senado. Já três vezes tentou, três vezes foi derrotado. Certamente por incapacidade de ver o que os outros não vêem, por falta de um certo modo de ver, principalmente, por não saber que as coisas só são por dentro delas.
Quando o convidaram a disputar, mais uma vez este ano, ele fez as contas: a Paraíba tem 170 municípios, gastando 10 mil cruzeiros por município, é um bilhão e meio. Diz-se que ele gastou o dobro. E não adiantou nada.
O velho Rui Carneiro, que sabe das coisas por dentro e por fora, fez a análise exata:
- Eu sei que Arena, na Paraíba, é um partido mais forte do que o MDB. Mas mais forte do que a Arena e o MDB é o povo. E quem elege não é partido, é o povo.
Tinha o povo, ganhou (297.780 votos contra 278.590). Sem gastar os bilhões de Aluísio nem a garganta rouca de Ernani, que perdeu em sua própria terra, Patos. O velho Rui é um campeão de eleições. Em janeiro de 1947, já lá estava ele como cabeça da chapa estadual do PSD: 6.401 votos. Em 1950, senador (144.451 votos). Suplente Abelardo Jurema (143.917). Na mesma eleição, José Américo, para governador, teve 147.093. era a coligação PSD-PL derrotando de ponta a ponta a frente UDN-PR.
A partir daí, numa mais o velho Rui Carneiro saiu do Senado: 58, 66. 74; fez agora 25 anos. Bodas de prata. Ao fim deste mandato, 33 anos. Desde o Império, não se viu coisa igual. Um dia, quando ele sair, pode-se cunhar em bronze uma placa no Senado:
- Aqui viveu meio século um homem que acreditava na força do povo.
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