terça-feira, 2 de novembro de 2010

Letra do nosso hino levou 91 anos para ficar pronta

DEMOROU!

Letra do nosso hino levou 91 anos para ficar pronta

Versos de Ovídio Saraiva
Versos de Ovídio Saraiva
Em 1831, o imperador Pedro I anun ciou que dei xa va o trono para o filho e vol ta ria a Por tu gal. Foi a oportunidade que o mú si co Fran cis co Ma nu el da Silva es­pe ra va para apre sen tar sua com po si ção. Pôs a letra do de sem bar ga dor Oví dio Sa rai va e o hino foi can ta do em 13 de abril, na des pe di da de Dom Pe dro I.
Durante algum tempo, a música teve o nome de Hino 7 de Abril, data do anúncio da ab di ca ção. Os portugueses consideram a le tra ofen si va a eles, por isso ela foi es que­ci da, mas a partitura de Francisco Manuel passou a ser executada em solenidades pú bli cas a partir de 1837. Para comemorar a coroação de Dom Pedro II, em 1841, o hino re ce beu novos ver sos, de au tor des co nhe ci do. A música passou a ser con si de ra da o Hino do Im pé rio. Era também tocada no ex te ri or sem pre que o im pe ra dor estivesse pre sen te. Francisco Ma nu el fi cou fa mo so. Recebeu convites para dirigir e fundar ins ti tui ções mu si cais. Mas o Brasil con ti nu a va com um hino sem le tra.
Com a República, em 1889, o governo provisório fez con cur so para o novo hino. Primeiro escolheram um poema de Me dei ros e Al bu quer que, aquele que diz “Liberdade, liberdade/ Abre as asas sobre nós”. No primeiro julgamento, dia 4 de janeiro de 1890, 29 músicos apresentaram seus hinos. A Co mis são Julgadora se le ci o nou quatro para a finalíssima.
No dia 15, em sessão de homenagem ao Marechal Deodoro no Te a tro Santana, per gun ta­ram ao novo pre si den te se ele estava an si o so pela escolha do novo hino. Ele dis se: “Pre fi­ro o velho.” Cinco dias depois, no Teatro Lí ri co, uma banda e coro de trin ta vozes re gi dos por Carlos de Mes qui ta exe cu ta ram as fi na lis tas. Segundo o re gu la men to, es ta vam proi bi­dos os aplausos. Após um in ter va lo, a ban da exe cu tou de novo os qua tro hinos. Aí, sim, o pú bli co pôde se ma ni fes tar. O mais aplau di do foi o do ma es tro Le o pol do Mi guez, tam bém es co lhi do pela Co mis são Jul ga do ra. O pre si den te De o do ro e qua tro mi nis tros dei xa ram o ca ma ro te ofi ci al e vol ta ram em se gui da. O mi nis tro do In te ri or, Aris ti des Lobo, leu o de­cre to que con ser va va a mú si ca de Francisco Ma nu el como hino na ci o nal. Mes mo sem a par­ti tu ra, a or ques tra to cou a música e a pla téia delirou. Como prê mio de con so la ção, a obra de Me dei ros e Al bu quer que-Le o pol do Mi guez ficou co nhe ci da como Hino da Pro cla ma ção da Re pú bli ca. Só que o Brasil con ti nu a va com um hino sem letra. Mas, se a música já era tão bonita, para que letra?
Só em 1909 apareceu o poema de Joaquim Osório Duque Es tra da. Não era ainda oficial. Tanto que, sete anos depois, ele ainda foi obri ga do a fazer onze modificações. Ganhou 5 con tos de réis, di nhei ro suficiente para comprar metade de um carro. O Cen te ná rio da In­de pen dên cia já estava chegando. Aí o presidente Epi tá cio Pes soa de cla rou a letra oficial no dia 6 de setembro de 1922. Fran cis co Ma nu el tinha morrido em 1865 e o maestro ce a­ren se Alberto Ne po mu ce no foi cha ma do para fazer as adap ta ções na música. Fi nal men te, depois de 91 anos, nosso hino es ta va pronto!

Reprodução/AB
MARCELO DUARTE é jornalista e escritor. Autor de O Guia dos Curiosos (Cia. das Letras), escreveu também Ouviram do Ipiranga - A história do hino nacional (Panda Books). Para conhecer todos os seus livros, visite o site www.guiadoscuriosos.com.br
Marcelo Duarte

Nenhum comentário:

Postar um comentário