sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Forças de segurança fecham cerco ao Complexo do Alemão; traficantes estão encurralados, diz PM

Daniel Milazzo 
Especial para o UOL Notícias 
No Rio de Janeiro     

O Coronel Lima Castro, porta-voz da Polícia Militar, afirmou que o cerco formado por 1.500 homens do Exército, Marinha e das policiais Militar, Civil e Federal ao Complexo do Alemão foi finalizado e que os traficantes já estão encurralados. As forças de segurança estão de prontidão em 44 saídas do conjunto, mas o porta-voz disse que não há pressa para entrar nas favelas.

  “Estamos no coração da facção”, afirmou Lima Castro, referindo-se ao Comando Vermelho. “O tempo é favorável a nós. Uma das táticas utilizadas quando se tem que tirar alguém de um território é a inquietação”, disse. A estimativa da polícia é que cerca de 500 traficantes estejam no conjunto.
Segundo Lima Castro, essa concentração de bandidos já era esperada e faz parte da estratégia de pacificação das favelas cariocas. O PM disse que o governo resolveu começar a ocupar comunidades menores para depois com mais inteligência e maior efetivo, entrar nas grandes.  “Numa guerra urbana, o avanço é mais lento, temos que separar o joio do trigo. Já numa guerra convencional, a missão é tomar todo o território que há pela frente."
O cerco ao Complexo do Alemão foi motivado pela fuga de aproximadamente 200 criminosos da favela Vila Cruzeiro, na tarde de ontem. A polícia e as Forças Armadas pretendem impedir, inclusive, o acesso dos criminosos a mantimentos com o objetivo de sufocá-los. Em resposta à operação, os traficantes fizeram vários disparos em direção às forças de segurança.

  Segundo Lima Castro, a operação de hoje não permite brecha para que os bandidos rompam o cerco formado. O PM disse que a operação é um sacrifício para os moradores e toda a cidade e não descarta que inocentes podem acabar sendo atingidos. “A operação ocorre visando não pôr inocentes em risco, o que não significa que algumas pessoas não sejam feridas”.
Quinze blindados do Exército também estão no local --cinco modelo Clanf (Carro Lagarto Anfíbio), quatro modelo Piranha e seis modelo M113. Outros dez blindados da Marinha devem ser utilizados.

  Varredura na Vila Cruzeiro

O coronel informou que nesta sexta-feira está sendo feita uma varredura, inclusive com auxílio de cães farejadores, na Vila Cruzeiro, em busca de mais armamentos, drogas e também corpos. “Há que se fazer um pente fino, verificar casa por casa”.
A polícia apreendeu 3,2 toneladas de maconha apenas ontem na comunidade. Lima Castro confirmou que foi encontrada na favela uma espécie de “enfermaria do tráfico”, uma casa com estrutura razoável para receber bandidos com ferimentos mais graves.
Homens do Bope (Batalhão de Operações Especiais da PM) apreenderam três fuzis, duas metralhadoras, um revólver, mais de 1.200 munições, bombas caseiras e duas granadas. Também foi apreendida uma farda cinza sem identificação.

Já os policiais do 16º Batalhão (Olaria), apreenderam uma submetralhadora 9 mm, de fabricação italiana, um fuzil .30, um fuzil 762 (FAL), uma granada, 33 bombas caseiras, 15 mil papelotes de cocaína prontos para a venda, 57 kg de maconha, uma balança de precisão, três coletes a prova de bala, seis fardas semelhantes às utilizadas pelo Bope e seis pares de coturno.


  Balanço

De acordo com o último balanço da PM, desde domingo, dia do início dos ataques em série dos criminosos, 96 veículos foram incendiados, entre eles, vários ônibus. Nos seis dias de conflito entre policiais e traficantes até hoje, a PM diz que foram apreendidas dezenas de armas, granadas, drogas e garrafas de gasolina. Pelo menos 217 pessoas foram presas ou detidas, quatro policiais foram feridos e 34 pessoas foram mortas.

Pelas informações passadas pelos hospitais e pela Secretaria Estadual de Saúde, mais seis pessoas morreram ao longo do conflito --quatro na quarta-feira e mais duas hoje.

O Rio de Janeiro vive uma guerra contra o tráfico. As operações em morros e favelas visam acabar com a série de ataques, arrastões e incêndios em veículos. Falar em cena de guerra não é exagero: veículos blindados da Marinha estão sendo usados nas operações. Mesmo assim, os bandidos desafiam as autoridades e continuam impondo tentativas de ataques.

As autoridades fluminenses consideraram os ataques uma resposta à política de ocupação de favelas por UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) e à transferência de presos para presídios federais. A intenção seria colocar medo na população.

A polícia investiga se os ataques estão sendo orquestrados pelas facções criminosas Comando Vermelho e ADA (Amigos dos Amigos). Na quarta-feira, oito presidiários foram transferidos do Rio para o presídio de segurança máxima em Catanduvas (PR). Ontem, líderes que estavam em Catanduvas foram transferidos para Porto Velho (RO).

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