Beltia Aditi Blog
Inimigos que nunca os teve? Qual de nós que nunca desejou ardentemente suplantar o outro? Ninguém… ou Todos? Aposto que cada um de nós alguma vez  na vida já passou por isso e estando em amabos os lados ;)

A sabedoria judaica que conhecemos as pessoas por 3 maneiras: por seu CORPO, por seu BOLSO e pela sua RAIVA. “Somos feitos, segunda a Cabala, de dimensões minerais, animais, vegetais, animais e divinas.  Percebemos, então, que o universo da consistência e da forma são expressões minerais; a respiração, a alimentação, o crescimento e o sexo são de essência vegetal; a locomoção (copo, busca de alimentos), ambição (bolso) e a competitividade (raiva) são fenômenos animais. (…) Tal predomínio da dimensão animal como a forma de nos conhecermos se explica pelo fato de que em seus limite, quando se faz possível idealizar e criticar, nos deparamos com o humano – ponto de interseção entre as esferas animal e divina.” (Rabino Nilton Bonder).
Eu vou usar nesse e nos próximos posts como estrutura mestre as subdivisões do livro A Cabala da Inveja, do Rabino Nilton Bonder. É um ótimo livro e me abriu os olhos para muitos aspectos meus que eram um tanto equivocados e me que me davam uma tremenda dor de cabeça… Invejosa bom eu nunca fui, ao contrário acho ótimo quando todo mundo se da bem, se realiza, porque tudo flui mais fácil, mas já fui alvo de inveja, como qualquer pessoa é.
Eu não tenho essas paranóias de ter medo de “olho gordo” até porque pra mim, invejo tem é olho magro mesmo… O que me preocupa é o aspecto prático da inveja, pois a inveja é um dos estados emocionais mais devastadores e impressionantes que podemos ter, ela faz com sejamos capaz até suplantar o instinto de sobrevivência, colocarmos tudo em jogo só para derrubar o outro… É um sentimento kamikaze e um estado de auto-imolação perpétua. O pior da inveja é que ela se instala de maneira insidiosa e silenciosa, tal como um câncer na alma, ao longo da vida. Mas, pior ainda é que a inveja inclui a todos até os santos, os justos ,os piedosos e tem tudo e qualquer coisa como alvo.
Nilton Bonder cita Nachmânides e seu comentário a respeito da frase: “ama o próximo como a ti mesmo”:
“Ás vezes amamos nosso vizinho em algumas situações, e assim lhe fazemos o bem ou lhe prestamos favores… Às vezes conseguimos amá-lo com grande intensidade, de forma que desejamos que ele tenha riquezas, propriedades, honra, conhecimento e até mesmo sapiência. Porém, não desejamos que seja igual a nós,  pois sempre esperamos em nosso coração que tenhamos mais destes itens do que os nossos vizinhos.”
Como diz o Rabino Bonder a inveja é um sentimento endêmico e é impossível evitar a sensação de inveja e ódio a partir de frustração no decorrer de nossas vidas. Daí sermos todos invejosos, ainda que lá no fundo, bem lá no fundo de nossas almas ;) Sendo assim, ainda segundo Bonder, “isolar o vírus da inveja, identifica-lo em meio as suas inúmeras dissimulações é investir na descoberta de nossa verdadeira cara; é olhar a realidade com outra visão. Poder enxergar  em meio à escuridão da superficialidade reduz o nível de agressividade deste mundo e torna nossa realidade mais aceitável, tolerável.”
Quando falamos de inveja, falamos do sentimento de injustiça com que vivenciamos cada  parte de nossa existência. Ainda segundo Bonder, podemos construir enormes, gigantescas estruturas de injustiça em nossas mentes e sentimentos para lidar com a mágoa e com a inveja. Então temos que nos cuidar porque essas estruturas não passam de armadilhas que nos encurralam sozinhos nesse sentimento.
O ódio como Inveja – A descoberta da rixa:
A inveja incorpora a ganância e o ciúme, criando um estado de ódio não aplacado e estabelece uma relação de rixa.Devemos ser meticulosamente cuidadosos com o que entra no nosso coração para que ele não fique poluído e com isso a nossa de vida fique turva. Daí nos livros Sapienciais constar a advertência de guardamos o nosso coração ;) Daí também Jesus nos Evangelhos falar que o que polui é o que saí e não o que entra, nesse caso ele estava se referindo ao zelo que acoberta a inveja… Já perceberam que quando temos rixa com alguém, ou com algo como somos criteriosos? Suspeitosamente criteriosos, minuciosamente criteriosos, de um zelo descomunal… Quando esbarramos com situações em que agimos assim, ou somos alvo de tal zelo é bom desconfiar no que está oculto no coração do outro e no nosso também… A dor da inveja nos faz cair o semblante….
Tem uma citação muito interessante do Rabino Bonder, atribuída a Radviler, e que situa a inveja no mesmo patamar da idolatria, ou melhor coloca a inveja como sinonimo de idolatria:
“Aquele que não dispõe de autodisciplina para cumprir esta proibição com relação à cobiça deve começar tudo de novo, repassando o primeiro mandamento: amar e reconhecer a justiça divina. Pois se realmente tal indivíduo acreditasse em D’us, não teria inveja daquilo que foi alocado como parte de seu vizinho.”
Essa citação fala sobre o décimo mandamento: Não cobiçar  o que é do outro… Então aquele que diz que inveja, então crê pela metade, pelo prumo, tem um Deus próprio e particular e geralmente esse tipo de gente são invejosos clássicos, legalistas, um tipo bem comum em meios “espirituais”. Produzem um monoteísmo de quinta, onde uma divindade passa a ser subjugada pelos caprichos e desejos de seus seguidores… A inveja pode ser resumida como um sentimento de injustiça frente a ordenação natural e universal das coisas. E assim se torna uma idolatria bem perniciosa.
Temos todo o direito de não sermos bonzinhos, de negarmos algo sim, não precisamos ceder tudo ao mesmo tempo, muito menos abrir mão de algo que conquistamos ou que ganhamos só para que o semblante do outro não caia.  Temos por dever sermos bons, apenas isso, até porque ser bom é bom mais para nós mesmos do que para os outros ;) Com isso criamos muitas das vezes situações de rixa, mas a vingança é quem limita rixa. Daí está escrito na Bíblia do Antigo ao Novo Testamento (para nós cristãos) e na Torá e nos livros proféticos, para os judeus a ordem: “A vingança pertence ao Senhor.”. Isto é um limite que nos é dado Porque cada vez que nos vingarmos alimentos a rixa e tudo que há de ruim com ela. Se apenas não nos vingarmos e de preferência conseguirmos perdoar aí sim a inveja é completamente aplacada em seus efeitos. Por isso nos é ordenado amar, abençoar e rezar por aqueles que nos perseguem…  E podem apostar que isso é um santo remédio para limitar a inveja alheia a nossa respeito.
E quanto a nossa? Aquela que sentimos e que nos corroí por dentro e por fora? Aplacarmos quando nós ao vermos alguém com algo que desejávamos ou com alguém que desejávamos, em situação que consideramos que somos mais merecedores do que ele, simplesmente pedirmos a Deu para que aquilo abençoe e prospere e não nos permitir pensarmos mais naquilo. Mas se ainda assim a idéia retornar a mente abençoamos de novo, até que aquilo vira um hábito e com isso ao menor estado de inveja que ameaça insurgir e se instaurar novamente teremos como dete-lo.
Segundo Bonder a Ética do Ancestrais estabelecem uma hierarquia em relação a natureza do ódio:
  1. Raiva grau 1: é aquela que é fácil de provocar e também fácil de apaziguar, o que há de negativo neutraliza-se com o positivo;
  2. Raiva grau 2: é aquela que é difícil de ser provocado e também difícil de ser apaziguado, o que há de positivo neutraliza-se com o negativo;
  3. Raiva grau 3: A Raiva do Sábio, é aquele que é difícil de ser provocado e fácil de ser apaziguado;
  4. Raiva grau 4: A Ravia do Perverso, é aquele que é facilmente provocado e dificilmente apaziguado.
O primeiro grau de raiva, diz respeito a raiva do nada,  representando aqui aquele que está totalmente perdido. O segundo grau de raiva, caracteriza o tolo, categoria na qual me incluo sem o menor pudor, mas com uma certeza tristeza. Pois preferia ser sábia a ser tola, mas estou trabalhando pra isso e é provável que um dia alcance nem que seja uma pequena dose de sabedoria ;) O terceiro grau, fala da raiva do sábio, que como tem uma boa leitura da vida, tem a capacidade se ajustar-se rapidamente as situações cotidianas. Já o ultimo grau pertence ao perverso, porque esse se perde nos pântanos da raiva, sendo tragado por ela, afogando-se em mágoas e ódios, não conseguindo assim se desvencilhar de nada, de uma mínima ofensa. Perdendo-se em meio a devaneios, tragédias imaginárias e com isso mergulhamos de cabeça nas rixas e muitas vezes por toda uma vida.
O grau um de raiva, a raiva do nada leva a malícia da calúnia, é assim que o nada expressa a sua malícia, pois é voraz e movido pela ganância. Ele está preso a dimensão material e expressa o seu ódio através da calúnia. Já o tolo é movido pelo ciúme, busca a revanche e tem uma má-lingua, usa expressões que ferem e machucam o outro, pois ele se encontra na dimensão afetiva.Já o perverso se encontra no nível mental, é movido pela arrogância e pela inveja mesmo e cria em torno de si uma rede de fofocas para aprisionar o alvo de sua inveja. O perverso desce ao nível da rixa e nela mergulhada, mira todo seu arsenal de maneira fria, medida e cuidadosamente calculada de modo a aniquilar por completo o outro que tanto o incomoda.
Para neutralizarmos o ódio precisamos compreender que a diferença é uma tendência da criação, que embora em essência sejamos todos iguais, nos manifestamos ao mundo de modo diverso e com isso com uma diversidade de dons, dons estes que podem ser usados tanto para o bem quanto para o mal. Não existe ninguém que é mais ou menos que nós, somos todos da mesma essência, padecemos dos mesmo sofrimentos, das mesmas angustias… Como diz um ditado popular: “todo mundo vê os goles que eu tomo, mas ninguém vê os tombos que eu levo” ;)
Não há coisas grandes nem pequenas, pois as grandes não funcionam se as pequenas e vice-versa. Quer um exemplo? Eu amo chegar num lugar e encontrar tudo limpo, arrumado, um bom aroma no ambiente e isso só é possível porque tem alguém que faz o seu trabalho bem feito e com o coração direcionado ao céu. Porque quem faz bem o seu trabalho, o faz por amor e com harmonia, sendo assim está com o seu coração direcionado ao céu, trazendo um pouco mais de luz por onde passe e independente do que faça.
Posso chegar num lugar como descrevi, mas se o “grande” profissional que me for receber também não está em harmonia eu sinceramente, me sinto como estivesse vendo tudo sujo e escuro ao estar na presença dele. Então qual é o tamanho do seu trabalho? Pra qual direção ele aponta? Porque de nada adianta o seu trabalho ser “grande” se ele apontar a boca do inferno, e nos colocar na boca da besta, porque um profissional de mal com a vida é uma obra prima do diabo.
E como diz aquele frase de para-choque de caminhão, de adesivo de carro que está pra todo lado:  Não inveje, apenas trabalhe… Porque  agindo assim você não será tragado pela rixa ;) Quando direcionamos o nosso coração ao céu, trabalhando com amor, harmonia e compaixão estamos criando uma tecnologia de paz.