segunda-feira, 12 de agosto de 2013

"Eu sou o arquivo vivo hoje", diz perito responsável por reviravolta no caso PC Farias

O médico legista George Sanguinetti
questionou a tese da morte de PC Farias
e Suzana Marcolino, assegurando se tratar
de duplo homicídio e não morte seguida de suicídio
O júri popular dos quatro militares acusados de matarem Paulo César Farias e Suzana Marcolino deve encerrar um dos casos policiais mais repercutidos da história do país, mas não vai pôr um fim às dúvidas que ainda cercam o crime. As investigações do duplo assassinato, que completa 15 anos na próxima quinta-feira (23), não conseguiram denunciar o mentor intelectual do assassinato e apontam apenas os possíveis autores.

O caso PC é marcado por uma grande reviravolta. Logo no começo das investigações, as mortes foram definidas pelos policiais responsáveis pelo inquérito como homicídio seguido de suicídio. Um laudo do legista da Universidade de Campinas (Unicamp) Badan Palhares atestou o que então seria a versão oficial por dois anos.

Mas, na contramão das autoridades, o coronel da Polícia Militar e então professor de medicina legal da Universidade Federal de Alagoas, George Sanguinetti, questionou a tese desde o seu início, assegurando se tratar de duplo homicídio.

Depois de ser chamado de “maluco” por investigadores alagoanos, ele conseguiu mudar o rumo do processo. Foram necessários dois anos de investigação para que a tese levantada por Sanguinetti fosse levada em conta pelo Ministério Público e se tornasse oficial no processo. O ponto-chave para a mudança, diz ele, ocorreu em 1998, com a contratação de outros dois peritos –Genival Veloso de França (da UFPB) e Daniel Munhoz (USP)–, que atestaram que a tese de crime passional não se sustentava. Uma nova investigação teve início.

Para Sanguinetti, o caso só teve uma reviravolta por conta da repercussão na imprensa e porque ele denunciou o "esquema" a autoridades em Brasília, como o então ministro da Justiça, Nelson Jobim, e o procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro.

“O Estado teve interesse que o caso fosse arquivado como passional. As autoridades alagoanas trabalharam para tornar o caso um crime passional, mas não foi. Ele morreu porque era um arquivo vivo. Quatro dias após a morte ele iria depor na CPI das Empreiteiras, e ele estaria falando demais”, alegou.

Sobre o julgamento que deve ocorrer até setembro, Sanguinetti diz que o júri não deixará de ser “frustrante”. “Eles [ex-seguranças] participaram do crime, sem dúvida. Mas o processo como está não chega ao grande beneficiário com a morte do PC”, disse.

Quinze anos depois, Sanguinetti não esconde que ainda teme algum ato de violência. “Hoje, eu que sou o arquivo vivo. Eu sei o caminho percorrido para que PC fosse silenciado. Tudo que eu tenho transferi para três autoridades de alta confiança, que são de fora do Estado. Se fiquei vivo, devo à imprensa, que nunca aceitou a farsa do crime passional”, disse, citando que hoje mantém seguranças particulares e sai pouco de casa.


O médico legista afirma que ainda tem uma ponta de esperança que, com o julgamento dos ex-seguranças, o caso tenha uma nova reviravolta. “Existindo vontade política, poderá haver uma nova reviravolta. A morte de PC foi um crime político-financeiro. O caminho percorrido pelos que tramaram está nos autos. Não precisa ir longe. Suzana foi uma coadjuvante, estava no lugar errado, na hora errada”, defende.


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