domingo, 2 de janeiro de 2011

Presidente Lula, até logo mais

Francisco Cartaxo
O jeito de sair é o prenúncio da volta. Foi quase assim com Juscelino Kubitscheck, mesmo tendo ele que entregar o governo a um adversário, Jânio Quadros, em 1961. Mais comedido, JK não se exibiu tanto quanto Lula 50 anos depois. O impulso dado à economia brasileira, a audaciosa construção de Brasília, seu contagiante otimismo e, sobretudo, o afago em nossa auto-estima, tudo isso pavimentaria o retorno de JK ao poder. Talvez para tentar outro salto ousado de 50 anos em 5, como ele mesmo alardeava.
JK não voltou.  Tinha uma pedra no meio do caminho, posta pelos militares, que o impediu até de ser candidato. Que ironia! O golpe de 1964 começou em Minas Gerais e o verso, publicado em 1928, é de Carlos Drummond de Andrade, também mineiro como Juscelino.
Haverá pedra no caminho de Lula?
Em 2008, o slogan da campanha vitoriosa do então prefeito do Recife para eleger seu sucessor era João é João. Sairia João Paulo e entraria João da Costa. Simples, bom de assimilar, até porque João da Costa seguia com extrema fidelidade os passos do outro João, desde sempre, e fora preparado para sucedê-lo na prefeitura. Se o slogan de campanha era fácil, a realidade pós-eleição fez-se difícil, enviesada, traiçoeira, complicada. De tal modo que, seis meses de exercício do mandato, João é João já se tornara uma incômoda lembrança a causar arrepio no núcleo duro do grupo petista vitorioso. Assim, mal saído dos cueiros, João é João virou peça de museu.
E daí? Que tem isso a ver com Lula?
Tudo. E nada. Mas eu sou avesso à futurologia e mais propenso à análise histórica, mesmo quando os fatos queimam na saída do forno. Lula conquistou seu lugar na vida política brasileira com tenacidade. Após intenso aprendizado no movimento sindical e partidário, persistiu na busca do poder com a insistência de vencedor. E o alcançou no momento certo. Um desastre teria sido derrotar Fernando Collor em 1989, quando ainda estava despreparado e o PT não passava de um infante a fustigar governantes, no exercício primitivo do há governo, sou contra.
Esse tempo lhe foi extremamente benéfico. Em 12 anos de perseverança, Lula acumulou nas caravanas pelo Brasil mais conhecimento empírico, juntando à própria experiência de retirante nordestino o contato direto com a rica diversidade da sociedade brasileira, as fraquezas e potencialidades de todas as regiões brasileiras. Lula captou também algumas manhas com intelectuais amigos, o verniz econômico, as tramas internacionais, essas coisas. Até corrigiu erros tolos em sua fala espontânea: o menas gente, por exemplo, nunca mais se ouviu dele!
O sucesso de seu governo tem muito a ver com as convicções formadas ao longo desses anos de aprendizagem. Aliás, sucesso enorme, do agrado de miseráveis, pobres a caminho da classe média, e da própria. E de banqueiros e ricos empresários. Por isso, Lula sai leve, fagueiro, mais brincalhão ainda. Olha só o que ele disse:
Só existe uma hipótese na qual Dilma não seria candidata à reeleição: ela não querer ser.
Faltou uma coisa. O próprio Lula completar o raciocínio: ela não vai querer se candidatar em 2014... Daí se conclui que o jeito de sair é prenúncio da volta.

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