PARRICÍDIO NOS COCAIS
Kleiton e Alexandre Lopes confessaram o assassinato e disseram que o umbandista Antonio Lopes espancava a mãe deles e os humilhava por serem gays
POR OSWALDO VIVIANI
A polícia de Timon (a 434 quilômetros de São Luís) prendeu, na quinta-feira (6), os irmãos Kleiton de Sousa Lopes, 21 anos, e Alexandre de Sousa Lopes, 19. Eles são acusados de dopar e em seguida enterrar vivo o próprio pai, o aposentado Antonio Carlos Lopes, 57, um conhecido "pai de santo" do Bairro Parque Piauí, onde ocorreu o assassinato. Também foi preso um vizinho dos irmãos, João André da Costa Rocha, 23 anos, acusado de ter cavado a cova onde o aposentado foi enterrado, num quarto de fundos da casa da vítima.
De acordo com o delegado de Homicídios de Timon, Ricardo Freire, os irmãos confessaram o crime, que, segundo eles, foi motivado pelos frequentes espancamentos que o pai aplicava em sua mãe, Maria da Conceição Lopes, 45 - que era separada do "pai de santo", mas que vivia sob o mesmo teto do ex-marido.
Os irmãos também disseram ao delegado que o pai bebia muito, e nessas ocasiões os ofendia e humilhava, "notadamente em relação à homossexualidade assumida dos filhos", disse o delegado Ricardo Freire.
Conforme o depoimento prestado por Kleiton e Alexandre à polícia, o crime foi premeditado. Começou a ser posto em prática na véspera de Natal (dia 24 de dezembro), quando os irmãos encomendaram a cova do pai ao vizinho João André. A cova foi cavada num cômodo de fundos da casa em que moravam a vítima os filhos e a ex-mulher, na rua 90, Bairro Parque Piauí.
Na noite de 30 de dezembro, segundo relatou Kleiton ao delegado Ricardo Freire, o "pai de santo" mais uma vez chegou bêbado em casa.
O rapaz, então, aproveitou-se da situação de embriaguez em que o pai se encontrava para colocar num recipiente com suco uma grande dosagem dos medicamentos Diazepam e Carbamazepina, que o aposentado tomava todas as noites antes de dormir, por causa de sua hipertensão.
"Ele nem percebeu o gosto estranho do suco porque só vivia bêbado, era alcoólatra. Logo foi ficando roxo e nós o enterramos", afirmou Kleiton Lopes.
Os irmãos declararam que após o cometimento do crime se arrependeram e resolveram confessar o assassinato a um tio - o comerciante José Lopes de Sousa, de 60 anos -, que, depois de ouvir o relato dos sobrinhos, levou o caso à polícia.
"Nós temos quase certeza de que a vítima foi enterrada viva, mas é preciso aguardar a perícia", disse o delegado Ricardo Freire.
O local em que o corpo de Antonio Lopes estava enterrado foi indicado pelos próprios autores e, ao ser desenterrado por funcionários do Instituto Médico Legal (IML) de Timon na quinta-feira, já estava em adiantado estado de putrefação.
A mãe dos jovens viajou na manhã seguinte ao crime, sem notar a ausência do ex-companheiro, e, segundo a polícia, não teria participado do assassinato de Antonio Lopes.
Kleiton, Alexandre e João André já foram transferidos da Delegacia de Homicídios de Timon para a Penitenciária Jorge Vieira, no mesmo município.
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