por Francisco Frassales Cartaxo
Vanderley
Caixe morreu em sua terra natal, Ribeirão Preto, onde exercia a profissão de
advogado e desenvolvia atividades políticas como militante de esquerda no PT.
Nem sempre ele foi do PT. Como candidato a deputado federal, Caixe obteve 83
votos em Cajazeiras na eleição de 1982. Os quase 14 mil sufrágios na Paraíba
foram insuficientes para levá-lo a Brasília, mas o deixaram em honrosa suplência
do PMDB.
Vanderley
Caixe chegou à Paraíba a convite de dom José Maria Pires, aí pelos meados de
1970, depois de cumprir alguns anos de prisão, condenado pela prática de “ações
subversivas”, segundo o linguajar da ditadura. Em João Pessoa, ele ajudou a
fundar o Centro de Defesa dos Direitos Humanos, entidade ligada à Arquidiocese
da Paraíba, e caiu em campo como advogado de gente lutadora, mal vista pelo
regime militar, em particular, trabalhadores rurais espezinhados pelo
latifúndio, sobretudo, na várzea paraibana. Zona onde se mantinha a tradição de
explorar, perseguir, prender e matar camponês por motivação política, como
registra a história das lutas populares no Nordeste, desde muito tempo,
notadamente, nas agitadas décadas de 1950 e 1960, com a formação das Ligas
Camponesas e de Sindicatos Rurais.
Vanderley
Caixe, um paulista de Ribeirão Preto, veio mexer nessa caixa de maribondo. De
início, ao abrigo do prestígio e da popularidade de Dom Pelé e, mais tarde, ao
lado de outras forças políticas, quando se distanciou da Arquidiocese. Nessa
época ele se filiou ao PMDB, a frente ampla que abrigava gregos e troianos da
esquerda brasileira, naquele começo da conquista do estado de direito
democrático, ainda capenga por causa dos “resquícios do entulho autoritário”, representado
em particular pelas regras eleitorais aplicadas até à eleição de 1982. Com
pouco tempo, Caixe migrou para o PT.
A
eleição de 1982 teve caráter geral no sentido de abranger a escolha de
candidatos a vereador, prefeito, deputado estadual e federal, senador e
governador. Neste caso, pelo voto direto, o que não acontecia desde 1966. Eleição
direta para presidente da república, como sabemos, só ocorreu mais adiante,
pois a escolha de Tancredo Neves se deu no colégio eleitoral restrito.
Infelizmente, quem tomou posse foi Zé Sarney, nas circunstâncias conhecidas de
todos.
Em
1982, eu fui candidato a prefeito de Cajazeiras pelo PMDB, justo no ano em
Bosco Barreto negociou com os Gadelha e Wilson Braga sua migração para o PDS, o
partido que sucedeu à ARENA, braço partidário do regime militar. Naquele ano
foram eleitos: prefeito, Epitácio Leite Rolim; governador, Wilson Braga;
senador, Marcondes Gadelha. Eleito também Edme Tavares, candidato a deputado
federal mais bem votado em Cajazeiras (6.932 votos), seguido de Ernani Sátyro e
Burity. Em 13º lugar da lista aparece Vanderley Caixe, com 83 votos. O sétimo da
legenda do velho PMDB. Não sei quem trabalhou para ele nem se esteve em
Cajazeiras durante a campanha. Acho que não. Lembro-me bem do candidato a
deputado estadual, Simão Almeida, (também do chamado Bloco Popular do PMDB) que
conseguiu apenas 29 votos em Cajazeiras, onde disputavam 7 candidatos da terra,
sem contar José Lacerda (1.703 votos) e José Dantas Pinheiro (256 votos), ambos
da região. O professor Francisco Ferreira, do PT, alcançou 173 votos, quase os
mesmos 190 sufrágios de Zé Maria Gurgel, candidato a prefeito. Naquele tempo o
PT era um partido disciplinado e unido.
A
notícia da morte de Vanderley Caixe me trouxe a lembrança desses episódios
eleitorais, que ele viveu no velho guerreiro PMDB, antes de abraçar o Partido
dos Trabalhadores.
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