sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Os votos de Vanderley Caixe

por Francisco Frassales Cartaxo
Vanderley Caixe morreu em sua terra natal, Ribeirão Preto, onde exercia a profissão de advogado e desenvolvia atividades políticas como militante de esquerda no PT. Nem sempre ele foi do PT. Como candidato a deputado federal, Caixe obteve 83 votos em Cajazeiras na eleição de 1982. Os quase 14 mil sufrágios na Paraíba foram insuficientes para levá-lo a Brasília, mas o deixaram em honrosa suplência do PMDB.
Vanderley Caixe chegou à Paraíba a convite de dom José Maria Pires, aí pelos meados de 1970, depois de cumprir alguns anos de prisão, condenado pela prática de “ações subversivas”, segundo o linguajar da ditadura. Em João Pessoa, ele ajudou a fundar o Centro de Defesa dos Direitos Humanos, entidade ligada à Arquidiocese da Paraíba, e caiu em campo como advogado de gente lutadora, mal vista pelo regime militar, em particular, trabalhadores rurais espezinhados pelo latifúndio, sobretudo, na várzea paraibana. Zona onde se mantinha a tradição de explorar, perseguir, prender e matar camponês por motivação política, como registra a história das lutas populares no Nordeste, desde muito tempo, notadamente, nas agitadas décadas de 1950 e 1960, com a formação das Ligas Camponesas e de Sindicatos Rurais.
Vanderley Caixe, um paulista de Ribeirão Preto, veio mexer nessa caixa de maribondo. De início, ao abrigo do prestígio e da popularidade de Dom Pelé e, mais tarde, ao lado de outras forças políticas, quando se distanciou da Arquidiocese. Nessa época ele se filiou ao PMDB, a frente ampla que abrigava gregos e troianos da esquerda brasileira, naquele começo da conquista do estado de direito democrático, ainda capenga por causa dos “resquícios do entulho autoritário”, representado em particular pelas regras eleitorais aplicadas até à eleição de 1982. Com pouco tempo, Caixe migrou para o PT.
A eleição de 1982 teve caráter geral no sentido de abranger a escolha de candidatos a vereador, prefeito, deputado estadual e federal, senador e governador. Neste caso, pelo voto direto, o que não acontecia desde 1966. Eleição direta para presidente da república, como sabemos, só ocorreu mais adiante, pois a escolha de Tancredo Neves se deu no colégio eleitoral restrito. Infelizmente, quem tomou posse foi Zé Sarney, nas circunstâncias conhecidas de todos.
Em 1982, eu fui candidato a prefeito de Cajazeiras pelo PMDB, justo no ano em Bosco Barreto negociou com os Gadelha e Wilson Braga sua migração para o PDS, o partido que sucedeu à ARENA, braço partidário do regime militar. Naquele ano foram eleitos: prefeito, Epitácio Leite Rolim; governador, Wilson Braga; senador, Marcondes Gadelha. Eleito também Edme Tavares, candidato a deputado federal mais bem votado em Cajazeiras (6.932 votos), seguido de Ernani Sátyro e Burity. Em 13º lugar da lista aparece Vanderley Caixe, com 83 votos. O sétimo da legenda do velho PMDB. Não sei quem trabalhou para ele nem se esteve em Cajazeiras durante a campanha. Acho que não. Lembro-me bem do candidato a deputado estadual, Simão Almeida, (também do chamado Bloco Popular do PMDB) que conseguiu apenas 29 votos em Cajazeiras, onde disputavam 7 candidatos da terra, sem contar José Lacerda (1.703 votos) e José Dantas Pinheiro (256 votos), ambos da região. O professor Francisco Ferreira, do PT, alcançou 173 votos, quase os mesmos 190 sufrágios de Zé Maria Gurgel, candidato a prefeito. Naquele tempo o PT era um partido disciplinado e unido.
A notícia da morte de Vanderley Caixe me trouxe a lembrança desses episódios eleitorais, que ele viveu no velho guerreiro PMDB, antes de abraçar o Partido dos Trabalhadores.


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