Celso Aquino dos Santos teve que esperar o Século XXI para realizar um sonho que parecia impossível: ter a sua própria sala de cinema.
Último operador cinematográfico ainda vivo em São Luís, Celso Aquino há cinco meses abriu o Cine Bar, na Rua de Nazaré 328. Das 9h30 às 21 horas em duas salas do prédio são projetados filmes proibidos para menores de 18 anos. Por dia são oito filmes exibidos. Na Sala 1 a exibição do filme na telona é feita através de dois projetores. “Para agüentar 11 horas e meia de filmes, ininterruptamente, são necessários dois projetores”, explica o operador aposentado.
Cícero Aquino é uma testemunha viva da história do cinema no Maranhão. Durante anos trabalhou no Cine Roxy, templo contemporâneo do pornô na rua do Egito, centro de São Luís, adquirido recentemente pela prefeitura de São Luís com projeto de ser transformado em teatro municipal.
Antes do Roxy, o operador cinematográfico se iniciou na profissão no Cine Rival que já não existe. O cinema ficava no início da Rua Grande, próximo ao Cine Éden, que ainda conserva o nome na fachada portentosa de uma loja de departamento.
Apaixonado pelo cinema, sem puxar para si a denominação de cinéfilo, Cícero Aquino dos Santos tem história para contar. A memória não o trai. Nascido em São Luís e criado em Teresina, retornou a ilha em 1957. Na época, nas cabines de projeção existia uma equipe trabalhando. Eram dois operadores e um auxiliar. Foi um vizinho, pai de um amigo de infância, que também era operador, que o iniciou na profissão.
Cinema das Estrelas
O magnata do cinema naquele tempo era o empresário Moisés Tajra, proprietário dos cinemas Roxy, Éden, Rival, Rialto (na rua do Passeio) e Cine Ribamar, situado na avenida Gonçalves Dias da cidade balneária, distante 37 quilômetros do centro de São Luís. Destes, somente o Roxy ainda é sala de cinema. Todos sucumbiram à invenção do cinema em casa e ao avanço do comércio na área do centro.
Apesar de ser o maior deles e também o mais luxuoso, com características arquitetônicas neoclássicas, o Éden com seus 1.200 lugares não desfrutava da condição de “o mais fulgurante”. Com 670 lugares era o Cine Roxy que recebia o nome de “cinema das estrelas”. “Para lá iam todas as famílias da alta sociedade maranhense. Vestiam-se a caráter para assistir às sessões que aconteciam invariavelmente à noite”, recorda Cícero Aquino.
28 de novembro de 1957 é uma data inesquecível para o operador cinematográfico hoje dono do Cinebar. Foi quando teve sua carteira assinada. No ano seguinte o Cine Roxy, inaugurado em 1939 com a exibição de “As Aventuras de Robin Hood”, fechou para reforma. Seria reinaugurado no ano seguinte com o filme “A Caldeira do Diabo”. “Apesar do título, era um melodrama. Se passava em uma pequena cidade americana onde todos compartilhavam seus segredos, medos e mentiras”, resume Aquino.
Só para homens
Ele lembra que no Rival, primeiro cinema que trabalho, as sessões eram freqüentadas somente por homens. Sem placa de GLSBT, o cinema era rejeitado pelas mulheres por ter bancos sem encosto. “Eram bancos parecidos com os que existiam nas igrejas católicas”, compara.
Quando veio “a revolução”, Cícero Aquino era chamado à Polícia Federal para receber instruções sobre a exibição dos cinejornais. Eram peças que propagandeavam o “milagre brasileiro” impingido pelos militares no país tropical a partir de 1º de abril de 1964.
Na década de 60 os cinemas se replicaram no centro e pelos bairros da cidade. Donos do Cine São Luís, que funcionou no Teatro Arthur Azevedo, a família Duailibe em 1962 abriu o Monte Castelo. Na virada da década de 70 inaugurou o mais moderno do centro, o Cine Passeio, no canto da Rua do Passeio com a Rua Grande. O primeiro filma da programação foi “Candelabro Italiano”. No local funciona também uma loja.
Com a morte de Bernardo Tajra, herdeiro de Moisés, o operador cinematográfico assistiu a derrocada do “cinema das estrelas”. Aos poucos viu sendo dilapidado o passado glorioso da sala. O declínio do cine Roxy, em termos de público, se acentuou a partir da década de 90. Até a década de 80, a sala disputada clientela com as demais localizada no centro. A exibição do filme “O Império dos Sentidos”, produção japonesa dirigida por Nagisa Oshima, proibida de passar nas telas brasileiras durante décadas prenunciou o futuro da sala.
“Essa desintegração do cinema se deve muito ao advento da televisão, depois do vídeo e, por fim, da pirataria. Hoje o acesso é universalizado. Todo mundo assiste todos os filmes. Ainda mais que todos agora são dublados”, explica.
Sessão gigante
O Cine Bar tem capacidade para 60 pessoas. O preço do ingresso é R$ 5,00, sem meia, mas com validade para o dia inteiro. Por isso a sessão é denominada de gigante.
Nas duas salas são exibidos diariamente oito filmes intermitentemente. A divisão é meio a meio.
“A preferência do público é pelo filme nacional. Quando programamos filmes estrangeiros, o cliente geralmente reclama”, constata Cícero Aquino. Junto com o filho ele mantém a empresa funcionando diariamente.
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