Num momento em que se debate tanto se vale a pena ou não importar médicos de Cuba, o Diário faz um mergulho no tema.
Estudantes americanos formados pela aclamada Escola de Medicina América Latina |
O que a
Grã-Bretanha pode aprender com o sistema médico de Cuba?
Assim começou uma reportagem de
um dos mais prestigiosos programas jornalísticos britânicos, o Newsnight, da
BBC.
Uma equipe do programa foi
enviada a Cuba para entender por que é tão comum o “olhar de admiração” sobre a
medicina cubana.
O Diário selecionou trechos que
jogam luzes sobre um tema que vem despertando discussões apaixonadas no site e
fora dele: a questão da importação de 6 000 médicos cubanos para trabalharem em
áreas remotas no Brasil.
O relato do Newsnight foi
acrescido de trechos do relatório de uma visita de integrantes do Comitê de
Saúde do Parlamento britânico. Da mistura surgiu um retrato da saúde de Cuba.
Bom proveito.
“A lógica subjacente do sistema
cubano é incrivelmente simples. Em razão principalmente do bloqueio econômico
americano, a economia cubana continuamente sofre.
Saúde, no entanto, é uma
prioridade nacional, por razões em parte românticas : Che Guevara, ícone do
Partido Comunista, era médico. Mas muito mais por pragmatismo: a saúde
admirável da população é certamente uma dos principais razões pelas quais a
família Castro ainda está no poder.
A prioridade em Cuba é impedir
que as pessoas fiquem doentes, em primeiro lugar.
Em Cuba você recebe anualmente
a visita de um médico. A idéia não é apenas verificar a sua saúde, mas ter um
olhar mais amplo sobre seu estilo de vida e o ambiente familiar. Essa visita é
feita de surpresa, para ser mais eficiente.
Os médicos estão espalhados por
toda a população, e o governo lhes fornece habitação, bem como às enfermeiras.
A expectativa de vida em Cuba é
maior do que a dos Estados Unidos. A relação médico-paciente ser comparada a
qualquer país da Europa Ocidental.
Há em Cuba um médico por cada
175 pessoas. No Reino Unido, é 1 por 600 pessoas.
Cuba dá ênfase à formação
generalista. O currículo foi alterado na década de 80 para garantir que mais de
90 por cento de todos os graduados completem três anos em clínica geral.
Há um compromisso com o
diagnóstico triplo (físico / psicológico / social). Os médicos são reavaliados
frequentemente.
Também chama a atenção a
Policlínica – uma engenhosa invenção que visa proporcionar serviços como
odontologia, pequenas cirurgias, vasectomias e raios-X sem a necessidade de uma
visita a um hospital.
Cada Policlínica tem uma série de especialistas (pediatria,
ginecologia, dermatologia, psiquiatria) que resolvem boa parte dos problemas de
saúde das comunidades e assim reduzem a necessidade de busca de hospital. Com
isso, a lista de espera nos hospitais é quase inexistente.
Todos os lugares que visitamos
eram geridos por profissionais da saúde (médicos e enfermeiros).
Fizemos uma visita à Escola de
Medicina América Latina, onde médicos estagiários de todo o mundo - muitos deles, para nossa surpresa, americanos
– recebem treinamento à moda cubana.
E nos deparamos em nossa visita
com pequenos detalhes que podem fazer
uma grande diferença: pelotões de aposentados se exercitando todas as manhãs
nos parques de Havana.
Apesar de os hospitais não
serem equipados com o nível de TI encontrado no Reino Unido, por causa do
bloqueio americano, os profissionais de saúde têm uma paixão por dados e
estatísticas que eles usam com frequência para fins de governança na saúde.
O contexto da revolução cubana
e as estruturas sociais desenvolvidos localmente levaram ao envolvimento
contínuo do Estado no sistema de saúde. Isto é visto não como a cereja no topo
do bolo, mas como uma parte muito importante do próprio bolo.
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