Adhemar
Pereira de Barros (Piracicaba, 22 de abril de 1901 — Paris, 12 de março de
1969) foi um aviador, médico, empresário e influente político brasileiro entre
as décadas de 1930 e 1960.
Pertencente
a uma família de tradicionais cafeicultores de São Manuel, no interior do
estado de São Paulo, foi prefeito da cidade de São Paulo (1957 — 1961),
interventor federal (1938 — 1941) e duas vezes governador de São Paulo (1947 —
1951 e 1963 — 1966). Seus seguidores, até hoje existentes, são chamados de
ademaristas.
Concorreu
à presidência da república do Brasil em 1955 e em 1960, conquistando, nestas
duas eleições, o terceiro lugar. Os bairros paulistanos Cidade Ademar e Jardim
Ademar de Barros e a rodovia paulista Rodovia Adhemar de Barros são nomeados em
sua homenagem.
AAdhemar de Barros com a esposa, Leonor Mendes de Barros, na varanda do Palácio dos Campos Elíseos, então residência oficial do governador, em 1947. Ao fundo, a torre da Estação Júlio Prestes. |
Formou-se
em medicina em 1923 pela Escola Nacional de Medicina, (atualmente pertencente à
Universidade Federal do Rio de Janeiro). Fez especialização no Instituto
Oswaldo Cruz. Estudou nos Estados Unidos e fez residência médica em várias
cidades europeias, onde se tornou aviador, retornando ao Brasil em 1926.
Poliglota, Ademar era fluente em alemão, francês, inglês e espanhol.
Em
6 de abril de 1927 casou com Leonor Mendes de Barros, com quem teve quatro
filhos: Maria Helena Saad, Ademar Filho, Maria (a Mariazinha) e Antônio (já
falecido).
Clinicou
até 1932 quando se engajou nas fileiras da Revolução Constitucionalista de
1932, como grande parte dos jovens paulistas de sua época. Com a derrota do
movimento constitucionalista de 1932 exilou-se no Paraguai, onde se alistou
como médico na Guerra do Chaco, e na Argentina. Nos seus governos sempre
procurou beneficiar os ex-combatentes de 1932 com pensões e homenagens, tendo,
em 1947, iniciado a construção do Monumento do Soldado Constitucionalista, em
São Paulo.
O deputado Adhemar de Barros posa ao lado do carro oficial da Assembléia. |
“São Paulo le- vantou-se em armas em 9 de julho
de 1932 pa- ra livrar o Brasil de um governo que se apos- saria de sua direção por
efeito de uma revo- lução… e se perpetua- va indefinidamente no poder, esmagando os
direitos de um povo livre.. e que trazia o sempre glorioso São Paulo debaixo de
das botas e o chicote do senhor!”
Vida pública
Primeiros passos
Foi
lançado na política parti- dária por um tio, que fora se- nador estadual na
República Ve- lha, José Au- gusto Pereira de Resende, chefe político do Parti- do
Republicano Paulista (PRP) da região de Botucatu.
Em
1934 elegeu-se deputado estadual constituinte pelo PRP, fazendo forte oposição
ao governador Armando de Sales Oliveira, denunciando principalmente desmandos
na administração do Instituto Butantã na gestão daquele governador. A nova
constituição de São Paulo foi promulgada em 9 de julho de 1935.
Quando
deputado estadual defendeu a cultura do café, apoiou o candidato José Américo
de Almeida, que disputava contra Armando de Sales Oliveira, a presidência da
república, nas eleições que deveriam ocorrer em janeiro de 1938. Defendeu
presos políticos, entre eles Caio Prado Júnior, e fez oposição ao governo
federal de Getúlio Vargas.
Foi
deputado estadual até 10 de novembro de 1937, quando Getúlio deu o golpe do
Estado Novo e fechou todas as casas legislativas do Brasil.
Interventor federal (1938 – 1941)
Durante
o Estado Novo foi nomeado interventor federal no estado de São Paulo pelo então
presidente Getúlio Vargas, recomendado por Benedito Valadares e Filinto Müller.
Governou São Paulo, como interventor, de 27 de abril de 1938 a 4 de junho de
1941.
Inaugurou,
neste seu primeiro governo, as visitas frequentes às pequenas cidades do
interior do estado, antes ignoradas pelos governadores. Foram 58 cidades do
interior visitadas por Ademar somente nos dois primeiros anos da interventoria,
inclusive visitando, em 1939, no extremo oeste do estado, em Andradina, o Rei
do Gado, Antônio Joaquim de Moura Andrade.
Cabia
a Adhemar, como interventor, nomear todos os prefeitos do estado, através do
“Departamento das Municipalidades” que prestava assessoria às prefeituras.
Ademar preferiu nomear jovens técnicos para as prefeituras, renovando o quadro
político de São Paulo e preterindo os políticos do antigo PRP.
Iniciou,
em 1939, a construção do Edifício Altino Arantes, sede do Banco do Estado de
São Paulo, que foi inaugurado por Adhemar em 1949, no seu segundo governo.
Iniciou a construção do atual edifício-sede da Secretaria da Fazenda do Estado
de São Paulo.
Cria
e organiza em 5 de dezembro de 1938, pelo Decreto estadual 9.789, a Casa de
Detenção de São Paulo, extinguindo a Cadeia Pública e o Presídio Político da
Capital. Este decreto previa a separação de réus primários dos presos
reincidentes e a separação dos presos pela natureza do delito. Iniciou em 1940
a construção das atuais dependências da Academia de Polícia Militar do Barro
Branco.
Iniciou,
em 1939, as obras da Rodovia Anchieta, a primeira rodo- via brasileira com
túneis. Iniciou as obras da Rodovia Anhanguera em 1940. Ambas as ro- dovias
seriam du- plicadas no seu primeiro manda- to como gover- nador (1947-1951). Ampliou
o Aeroporto de Congonhas. Iniciou a retificação do Rio Tietê. Iniciou a
construção do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo e do Hospital
e Maternidade Leonor Mendes de Barros. Construiu no complexo do Hospital do
Mandaqui, um hospital para portadores do pênfigo foliáceo, (fogo selvagem),
doença que não recebia, na época, nenhuma assistência.
Para
dar impulso às grandes rodovias, reformou o DER, Departamento de Estradas de
Rodagem, e criou, nele, um setor especializado nos grandes empreendimentos
rodoviários, pelo Decreto estadual n° 10.235, de 30 de maio de 1939, a
“Comissão Especial para Construção de Estradas de Rodagem de Alta Classe”.
As
escolas estaduais, mesmo as rurais, recebiam, no tempo da interventoria,
material escolar para as crianças.
Iniciou
a eletrificação da Estrada de Ferro Sorocabana e terminou a Estação Júlio
Prestes daquela ferrovia. Iniciou o prolongamento da Estrada de Ferro
Araraquara de Mirassol a Santa Fé do Sul, que foi decisivo para o povoamento
daquela região, a Alta Araraquarense, na década de 1940. O plano de Ademar era
estender a Araraquarense até Cuiabá.
Construiu
o Estádio do Pacaembu, em parceria com o então prefeito de São Paulo Prestes
Maia, para ser utilizado na Copa do Mundo de 1942, a qual acabou não
acontecendo devido à Segunda Guerra Mundial. Também, em parceria com Prestes
Maia, realizou o Plano de Avenidas de São Paulo, inaugurando, em 1938, com a
presença de Getúlio Vargas, o túnel da Avenida 9 de Julho.
Em
1940, confiscou o jornal O Estado de S. Paulo, pertencente à família Mesquita e
ao seu desafeto político Armando de Salles Oliveira. O jornal só foi devolvido
aos seus proprietários em 1945.
Foi
acusado de corrupção, e exonerado do cargo de interventor federal pelo presidente
Getúlio Vargas, em 1941, mas conseguiu provar sua inocência no Tribunal de
Contas do Estado de São Paulo, em 1946, no processo 001/1946.
1945 – 1951: o PSP e o primeiro
mandato como governador
Em
1945, foi permitida novamente a existência de partidos políticos, os quais
haviam sido extintos em 1937. Ademar se filiou à UDN e apoiou o brigadeiro
Eduardo Gomes para presidente da república nas eleições de 2 de dezembro de
1945.
Ademar,
porém, logo se afastou da UDN e, em 1946, fundou o Partido Republicano
Progressista (PRP) que pouco depois se fundiu com o Partido Popular
Sindicalista e com o Partido Agrário Nacional, formando o Partido Social
Progressista (PSP).
O
PSP se tornou o maior partido político de São Paulo do período de 1946 a 1965,
e o único partido político com diretórios em todos os municípios do estado de
São Paulo.
Com
o retorno de Armando Sales de Oliveira, do exílio, em 1945, Ademar tentou se
reconciliar com ele, porém não conseguiu por recusa da família de Armando
Sales.
Neste
período tiveram continuidade importantes obras iniciadas em sua época de
interventor, como a construção da segunda pista da Rodovia Anhanguera e a
segunda pista da Rodovia Anchieta, ambas pavimentadas e que se tornaram as duas
primeiras rodovias brasileiras de pista dupla. As rodovias Anhanguera e
Anchieta foram as primeiras rodovias brasileiras com duas faixas de rolamento de
cada lado. Adhemar seguiu uma tradição de antigos governantes paulistas, como
Washington Luís, que dizia que: “Governar é abrir estradas”.
A
pavimentação de estradas, com asfalto e concreto, uma inovação na época, feita
por Ademar, era malvista e criticada por muitos políticos, que a consideravam
um processo muito caro. Muitos políticos da época entendiam que os recursos
públicos estariam mais empregados se
fossem usados na construção de novas estradas de terra e na manutenção e
conservação das estradas de terra já existentes.
Seu
lema era “São Paulo não pode parar”, que tempos depois seria reiterado por
Paulo Maluf. Este lema tornou-se ideal da maioria dos políticos de São Paulo, a
tal ponto que, em 1973, o então prefeito de São Paulo, e ex-secretário de obras
de Ademar, José Carlos de Figueiredo Ferraz, foi exonerado pelo governador
Laudo Natel por ter dito que São Paulo tinha que parar de crescer.
Neste
seu segundo governo estadual, o prefeito da capital paulista era de livre
nomeação do governador do estado, o que fez com que Ademar controlasse também a
prefeitura de São Paulo. Em 1947, Ademar nomeou para a prefeitura de São Paulo,
Paulo Lauro que foi o primeiro negro a ocupar o cargo de prefeito da capital
paulista.
Cria
o Plano Hidrelétrico de São Paulo, base da atual infra-estrutura energética de
São Paulo. Este plano foi convertido em lei, em 1955. Cria o Ceasa, Centrais de
Abastecimento de São Paulo, para distribuição de alimentos no atacado,
administrado atualmente pela Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São
Paulo (CEAGESP).
É
criada, depois de uma violenta greve nos transportes na capital, a Companhia
Municipal de Transportes Coletivos (CMTC), empresa estatal de linhas de ônibus
urbanos, em 1947.
É
inaugurado o Museu de Arte de São Paulo (MASP) em 1948. É instalada em 1949, na
capital paulista, a primeira linha de trólebus do Brasil. É inaugurada a TV
Tupi em 1950. Inaugurado, em 1951, a rodovia Presidente Dutra, na época chamada
de BR-2, rodovia duplicada apenas em um pequeno trecho de São Paulo até
Guarulhos, obra iniciada por Ademar em 1947.
Investindo
muito em sanatórios, Ademar torna Campos do Jordão um centro nacional de
tratamento da tuberculose. Os sanatórios eram importantes naquela época porque
não havia ainda a vacina BCG contra a tuberculose. Ao assumir o governo, Ademar
encontrou deficientes mentais misturados aos presos nas cadeias de São Paulo, e
os transferiu para hospitais psiquiátricos. Somente no início de 1947, foram
transferidos 947 doentes. Criou a FEBEM, Fundação para o Bem-Estar do Menor, e
a Campanha do Agasalho.
Foram
desapropriados imóveis e executados projetos para a construção da cidade universitária
da USP. Criada a FAU da USP. Através da Lei Estadual nº 161, de 24 de setembro
de 1948, leva a USP para o interior de São Paulo, criando, entre outras, a
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, e a Escola de Engenharia de São
Carlos, (por intermédio do deputado federal Miguel Petrilli, cuja base
eleitoral era São Carlos), que deu origem do Pólo Tecnológico de São Carlos.
Oficializou
o Palácio do Horto Florestal de São Paulo como residência de verão do
governador do estado. Criou, em 1948, o salário-família para o funcionalismo
público estadual. Iniciou a construção do Aeroporto de Viracopos que foi
terminado no seu segundo mandato como governador.
Criou,
em 10 de janeiro de 1948, a Polícia Rodoviária do Estado de São Paulo, pelo
decreto estadual nº 17.868, composta inicialmente por 60 ex-pracinhas da Força
Expedicionária Brasileira (FEB). A Polícia Rodoviária de São Paulo foi
popularizada, na década de 1960, através do programa Vigilante Rodoviário da TV
Tupi.
Criou,
em 14 de dezembro de 1949, pelo decreto estadual n° 19.008-A, a primeira
Polícia Ambiental da América do Sul. Criou, em 16 de agosto de 1950, pelo
Boletim Geral nº 182, a Delegacia da Polícia Militar, atual Corregedoria da
Polícia Militar do Estado de São Paulo.
Acusado
de corrupção na Estrada de Ferro Sorocabana e em obras viárias, por deputados
estaduais, entre eles Caio Prado Júnior do PCB, fez sua defesa, na Assembléia
Legislativa de São Paulo, o seu secretário de viação e obras públicas, Caio
Dias Baptista, em 19 de janeiro de 1948, o qual qualificou de caluniosas as
acusações.
Às
vezes agia diretamente no plano social, como quando recebeu, no Palácio do
Governo, segundo depoimento da senhora Irene Silveira, de Penápolis, ela e seu
marido, que eram pais de uma menina que sofria de hidrocefalia e ordenou
pessoalmente exames e tratamentos nos hospitais públicos. Também enviava, junto
com a primeira-dama paulista Dona Leonor Mendes de Barros, cartas, agasalhos e
presentes para os pacientes dos sanatórios que construiu. Em 1947, Ademar
terminou o balneário de águas terapêuticas de Ibirá, cujas obras, iniciadas por
particulares, estavam paralisadas.
Em
1950, Ademar não se candidatou à presidência. E deu seu apoio, como governador,
ao candidato Getúlio Vargas, o que foi decisivo para a eleição direta de
Getúlio à Presidência da República em 3 de outubro daquele ano. Getúlio teve,
em São Paulo, 25% do total de seus votos. Ademar esperava que, em
contrapartida, Getúlio o apoiasse nas eleições presidenciais de 1955.
Outro
motivo de Ademar não se candidatar à presidência, em 1950, era que teria que
deixar o governo de São Paulo com seu vice-governador e adversário político
Luís Gonzaga Novelli Júnior, genro do presidente Eurico Dutra.
Ademar
conseguiu eleger como seu sucessor, em 1950, o engenheiro Lucas Nogueira
Garcez, que governou São Paulo de 1951 a 1955. Durante seu governo, Lucas
Garcez rompeu politicamente com Ademar, não o apoiando na sua tentativa de
voltar ao governo de São Paulo, nas eleições de 1954, as quais foram vencidas
por Jânio Quadros.
Derrotas sucessivas, prefeito da
cidade de São Paulo
Em
1954, Ademar foi candidato der- rotado ao governo do estado de São Paulo. Jânio
Qua- dros foi o eleito, com 18 mil votos a mais que Adhemar. Em 1955,
candi- datou-se à pre- sidência da re- pública pelo PSP, sendo novamente derrotado. O
presidente da república Café Filho, que também era do PSP, não apoiou Ademar.
Juscelino Kubitschek foi eleito presidente.
Acusado
de corrupção pelo “Caso dos Chevrolet”, exilou-se, pela segunda vez, no
Paraguai e na Bolívia. Inocentado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, voltou
ao Brasil. O promotor público deste caso foi o jurista Hélio Bicudo.
Em
24 de março de 1957, Ademar foi eleito prefeito da cidade de São Paulo,
derrotando Francisco Prestes Maia. Foi eleito para o mandato de 1957 a 1961,
sucedendo o prefeito Vladimir de Toledo Piza.
Governou
a cidade de São Paulo de 8 de abril de 1957 até 7 de abril de 1961, em uma
época que a cidade de São Paulo era chamada de “a cidade que mais cresce no
mundo”.
Encontrou
a prefeitura de São Paulo com grande déficit orçamentário e excesso de
funcionários. Ademar demitiu funcionários públicos e recuperou as finanças da
prefeitura de São Paulo. Também foram destaques nesta gestão de Ademar na
prefeitura de São Paulo:
-A
construção de um pequeno túnel no Vale do Anhangabaú, no cruzamento com a
Avenida São João – o Buraco do Ademar.
-A
visita de Fidel Castro, em 1958, pedindo apoio à Revolução Cubana.
-A
inauguração da Ponte aérea Rio-São Paulo em 6 de julho de 1959.
-A
Construção da Estação Rodoviária de São Paulo pelos empresários Carlos Caldeira
Filho e Octávio Frias de Oliveira, inaugurada em 1961 e desativada em 1981.
-Em
1958, afastou-se do cargo de prefeito, e candidatou-se novamente ao governo do
estado de São Paulo, sendo derrotado por Carvalho Pinto, que tinha o apoio de
Jânio Quadros.
Em
1960, licenciou-se, novamente da prefeitura de São Paulo para concorrer
novamente à presidência da república, quando foi novamente derrotado. Jânio
Quadros foi o eleito. Intitulando sua postulação como “candidatura de
protesto”, obteve o terceiro lugar, com 20% dos votos válidos. E assim, definiu
sua campanha à presidência da república, que disputou contra Jânio Quadros e o
Marechal Henrique Teixeira Lott:
“Eu
protesto contra a deturpação do regime. Se não vamos entrar numa guerra, para
que espada? Se não vamos fazer ditadura, mas democracia, para que precisamos do
ódio, da vingança, das perseguições e do juízo final, a que se propõe o homem
da vassoura? “Entre a Força do Mal e o Mal da Força”, simbolizados na vassoura
e na espada, eu sou o caminho. O caminho da Democracia, da Verdade e do
Entendimento, simbolizado num “salva-vidas” que é o de que a Nação anda
precisando neste caos em que se debate!
Em
1961, após a renúncia de Jânio Quadros à presidência da república, foi um dos
poucos políticos a apoiar o movimento a favor da posse de João Goulart na
presidência. Em 1962, concorre ao governo do estado novamente e é eleito.
Foi
eleito, em 1962, pela se- gunda vez, go- vernador de São Paulo, derrotando Jânio
Quadros, com 20 mil votos de diferença, os quais foram ob- tidos nas pe- quenas
cidades do interior de São Paulo, que Jânio se recusou a visitar, alegando que
não precisava de seus votos.
Sucedeu,
em 31 de janeiro de 1963, o governador Carvalho Pinto, para governar até 31 de
janeiro de 1967, porém governou somente até 6 de junho de 1966.
Ademar
voltou a governar em parceria com Prestes Maia que novamente era prefeito de
São Paulo (1961-1965). Prestes Maia fora prefeito de São Paulo quando Ademar
era interventor no estado de São Paulo (1938-1941).
No
início do governo, em 2 de abril de 1964, lançou a Aliança Brasileira para o
Progresso, visando incentivar o desenvolvimento econômico através de planejamento
e financiamento à ciência e à tecnologia.
Ademar
recebeu o presidente Charles de Gaulle, em 1964, em sua visita ao Brasil,
visita esta sugerida por Ademar quando este visitou De Gaulle em 1961 em Paris.
No
segundo mandato focou a construção de usinas hidrelétricas, sanatórios e
hospitais, iniciando as seguintes obras e medidas administrativas:
-Projeto
básico do Metrô de São Paulo, criação da comissão encarregada do projeto do
Metrô e a liberação de recursos, em 12 de fevereiro de 1963, para o início das
obras do Metrô. Ademar disse, no discurso de lançamento do Metrô paulistano,
que desconsiderou os conselhos de seus assessores técnicos que não queriam que,
em São Paulo, se construísse um Metrô por considerarem muito cara a sua
construção.
A
Rodovia Castelo Branco foi, na sua época, a maior obra viária da América
Latina, a primeira rodovia brasileira com 3 faixas de rolamento de cada lado e
a primeira rodovia brasileira a usar faixas pintadas refletivas.
-Construção
da residência oficial de inverno do governador, o Palácio Boa Vista, em Campos
do Jordão. Esta obra fora iniciada na interventoria de Ademar em São Paulo
(1938-1941).
-Cria,
em 1963, a Secretaria de Transportes, e a organiza em 1966.
-Embora
tendo apoiado a posse, em 1961, de João Goulart na presi- dência para que seu
rival Jânio Quadros não vol- tasse ao poder, Ademar participou ativamente da
conspiração que resultou na Revolução de 1964, liderando a Marcha da Família
com Deus pela Liberdade, em São Paulo, em 19 de março de 1964.
Entretanto,
isto que não impediu que, em 6 de junho de 1966, fosse afastado do cargo de
governador, pelo presidente da república Castelo Branco, e tivesse seus
direitos políticos cassados por dez anos, sob a acusação de corrupção, e
tivesse confiscadas todas as suas condecorações.
O
pretexto para a cassação de Ademar, que vinha fazendo oposição ao regime
militar, foi a acusação que Ademar tinha feito nomeações de funcionários
públicos em número excessivo. No dia 4 de junho, dois dias antes de ser
cassado, Adhemar publicou no Diário Oficial do Estado de São Paulo, uma nota,
garantido que as nomeações eram legais e uma necessidade administrativa. Foi
substituído pelo vice-governador Laudo Natel que conclui seu mandato e governa
até 15 de março de 1967.
Exílio, morte e homenagens
Exilou-se,
pela terceira vez em sua carreira política, em Paris, logo depois de ter sido
cassado seu mandato de governador, o qual foi seu terceiro mandato político a
ser cassado.
Ademar
foi operado em janeiro de 1969, de hérnia e litíase. Em 7 de março, Ademar
tentou se curar no santuário e gruta de Lourdes na França, onde se acredita
haver águas milagrosas. Em Lourdes teve uma síncope. Faleceu, em Paris, em 12
de março de 1969, aos 68 anos, metade dos quais dedicados à vida pública.
Seu
corpo foi transladado para o Brasil. Do Ae- roporto de Vi- racopos que ele
construíra, até São Paulo, pela Via Anhanguera que ele cons- truíra, houve um
grande cortejo fú- nebre que chegou a 10 quilômetros de extensão. Foi enterrado
no Cemitério da Consolação, na região central da capital paulista, em 16 de
março, com grande presença de público. Foi executado o toque de silêncio para o
veterano da Revolução de 1932.
Recebeu
uma condecoração póstuma, em 1982, pelo governo de São Paulo, através do
decreto nº 18.732, de 23 de abril de 1982, pelo então governador Paulo Maluf,
um ademarista, quando foi admitido no grau de Grã-Cruz, no Quadro Regular da
Ordem do Ipiranga. A Lei estadual nº 2.457, de 1980, também da época de Paulo
Maluf, dá o nome de Dr. Adhemar Pereira de Barros, ao Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da USP.
Foi
homenageado, também, dando-se o seu nome à rodovia SP-340 – Rodovia Governador
Doutor Adhemar de Barros, que liga Campinas a Águas da Prata, pela lei nº 1382,
de 6 de setembro de 1977. Em 1978, na capital paulista, a Escola Municipal de
1º Grau do Jardim Ipê, tornou-se a “EMPG Prefeito Adhemar de Barros”. A Lei
estadual nº 4.369, de 9 de novembro de 1984, institui, no estado de São Paulo,
a Semana Doutor Adhemar de Barros, a ser comemorada, anualmente, de 22 a 28 de
abril.
Em
2001, foi comemorado o centenário de nascimento de Ademar, tendo, sua família,
doado seu arquivo particular ao Arquivo do Estado de São Paulo e lançado um
site e um livro sobre sua vida e obra.
Um
projeto de lei, do senador Henrique de La Rocque Almeida, de 1980, visando a
anistia a Ademar, devolvendo-lhe suas condecorações, não prosperou, sendo
arquivado em 1984.
O estilo Adhemar de governar
Construiu
usinas hidrelétricas e muitas rodovias de grande porte, continuando a tradição
de Washington Luís, do qual Ademar era admirador confesso. Por outro lado
realizou também muitas obras e ações de caráter social, construindo escolas,
bibliotecas no interior do estado, hospitais e sanatórios, afirmando, no seu
manifesto de candidato à presidência em 1960, que:
”Por onde passar a energia elétrica, passarão
o transporte, o médico e o livro”
O
estilo político “tocador de obra” e seu visual característico: mangas de camisa
arregaçadas e suspensórios, se opunha ao populismo conservador e moralizante de
Jânio Quadros. Esse estilo “tocador de obra” retornaria posteriormente, nas
gestões de outros governadores, como Paulo Maluf e Orestes Quércia que, em
alguns casos, incorporaram partes desse figurino ademarista de tocar obras,
arregaçar a camisa e amassar barro.
Ademar
era capaz de grandes frases de efeito, e uma das suas frases mais conhecidas foi
chamar, por ter grande concentração de comunistas, a atual Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo de “O abacaxi
deixado pelo doutor Armando de Sales Oliveira”.
Um
dos slogans de campanha eleitoral de Ademar de Barros, não assumido
abertamente, era: “Ademar rouba, mas faz”, que apesar de ser uma frase cunhada
por seu adversário Paulo Duarte, acabou por ser o lema de sua campanha
eleitoral para prefeito de São Paulo, em 1957, se promovendo em cima das
inúmeras acusações de corrupção, na época, chamadas de negociatas.
Era
acusado também de desvio de verbas públicas nos períodos em que era chefe do
executivo paulista. E quanto a desvio de verbas, seus adversários diziam que
existia a “Caixinha do Ademar” para financiar as campanhas eleitorais de
Ademar.
O
mais comentado processo contra Ademar foi, em 1956, o “Caso dos Chevrolets”,
que o levou a exilar-se no Paraguai e na Bolívia. Ademar logo voltou do exílio,
dizendo que queria ser absolvido pelo povo nas urnas. Foi eleito prefeito de
São Paulo em 1957. O promotor do caso foi o jurista Hélio Bicudo. Adhemar foi
defendido pelos advogados Ataliba Nogueira e Esther de Figueiredo Ferraz, que
se tornaria a primeira mulher a ocupar o cargo de ministro de estado no Brasil.
Foi absolvido das acusações pelo Tribunal de Justiça de São Paulo por 16 votos
contra 12. Ademar publicou na revista “O Mundo Ilustrado”, em 1956, um relato
das dificuldades que enfrentou neste seu segundo exílio. Entre outras
dificuldades, Ademar, piloto, conta que voou sem auxílio de instrumentos,
guiado só por mapas e que quando chegou ao Paraguai lhe informaram de um plano
para assassiná-lo.
Ademar
gostava muito de eleição e disputava todas que podia, mesmo quando tinha poucas
chances de ganhar. Foi alvo constante de caricaturistas e humoristas e do bom
humor do povo, que chamava um pequeno túnel por ele construído no centro da
cidade de São Paulo de o buraco do Ademar. A dupla caipira “Alvarenga e
Ranchinho”, parodiando um anúncio radiofônico do remédio Melhoral, cantava:
”Ademá, Ademá, é mió e num faz má”.
Também
provocava risos quando, já nos tempos do Palácio dos Bandeirantes, uma amante
telefonava para ele e Ademar atendia: – Como vai, Doutor Rui!… Um beijo Dr.
Rui!
Estava
sempre se revezando na prefeitura de São Paulo e no governo do estado de São
Paulo com Jânio Quadros, seu eterno rival, e cuja política era sempre suspender
suas obras. Curiosamente, ambos, Ademar e Jânio, eram adeptos da maçonaria,
como se vê na lista de maçons famosos nos sítios da maçonaria brasileira.
Ademar de Barros foi iniciado maçom, no dia 12 de dezembro de 1949 pela “Loja
Guatimozin 66″, conforme consta nas atas daquela loja. Na sua campanha
presidencial de 1960, o Arcebispo de Porto Alegre D. Alfredo Vicente Scherer
fez campanha contra Ademar, pedindo aos católicos que não votassem em Ademar
por este ser maçom.
A
visão dos ademaristas sobre a ascensão do janismo na política paulista é
explicada assim por um líder ademarista da região de Bauru:
O Brasil parou de se desenvolver quando
deixaram de votar neste homem (Ademar) para votarem em Jânio Quadros! — José
Manuel Álvares
A
rivalidade entre o ademarismo e o janismo marcou época em São Paulo nas décadas
de 1950 e 1960. Essa rivalidade e os comícios (meetings) pelo interior de São
Paulo entraram para o folclore político do estado de São Paulo e do Brasil, e
se tornaram acontecimentos inesquecíveis para os paulistas daquela época.
Três exemplos deste folclore
político:
-Em
um comício em Bauru, Ademar, batendo a mão no bolso, exclamou: – Neste bolso
nunca entrou dinheiro do povo! -Está de calça nova, Doutor! Gritou alguém na
multidão, segundo depoimento de Paulo Silveira.
-Em
São José dos Campos, segundo depoimento do Sr. Mário Carvalho de Araújo, Ademar
não hesitou em descer do palanque, interrompendo seu comício, e se dirigir a um
homem que estava encostado em uma árvore com um charuto e fumá-lo com o homem,
deixando todos surpresos e rindo.
-Em
Penápolis, houve um acontecimento inusitado: Sempre ligado ao social, Adhemar
escutou prostitutas, no palanque, em um comício, onde elas reclamaram de suas
más condições de vida, segundo depoimento da moradora Luciana de Castro.
O caso do cofre do Ademar
Mesmo
depois de falecido, Ademar foi alvo de escândalo: em 18 de junho de 1969,
membros do movimento guerrilheiro VAR-Palmares assaltaram, no Rio de Janeiro,
um suposto cofre de Ademar, localizado na casa de sua ex-secretária Anna Gimel
Benchimol Capriglione, que teria sido, segundo algumas versões, sua amante. O
episódio ficou conhecido como o “Caso do Cofre do Ademar”, e entre os
participantes da ação, denominada PAC (Plano de Ação do Cofre), estaria,
segundo algumas versões, a ministra Dilma Roussef e o ministro Carlos Minc, membros
do VAR-Palmares[6]. O valor subtraído, que, segundo a VAR-Palmares, foi de US$
2,600,000.00, equivale hoje, corrigido pela inflação do dólar de 1969 a 2009, a
16,5 milhões de dólares. Anna Gimel, porém, declarou à polícia carioca que, no
cofre, achavam-se apenas documentos.
Empresário
Foi
proprietário da fábrica de chocolates Lacta, além de possuir interesses na área
imobiliária, especialmente a Imobiliária Aricanduva. Foi responsável pelo
loteamento, na capital paulista, que se tornou o Jardim Leonor, nome de sua
esposa.
Ajudou
a desenvolver parte do bairro do Morumbi em São Paulo, na década de 1960,
quando o governo do estado comprou o Palácio dos Bandeirantes e seu
vice-governador Laudo Natel, então presidente do São Paulo Futebol Clube,
construiu o Estádio do Morumbi. Na década de 1940, a construção do Estádio do
Pacaembu por Ademar, tinha dado também origem ao bairro homônimo.
Foi
sócio da empresa cinematográfica “Divulgação Cinematográfica Bandeirantes” e da
Rádio Bandeirantes, que mais tarde dariam origem à Rede Bandeirantes de rádio e
televisão, hoje presidida por seu neto Johnny Saad, e que se localiza no bairro
do Morumbi na capital paulista.
Foi
presidente das Fábricas Redenção e Nossa Senhora Mãe dos Homens, proprietário
de fazendas no interior do estado de São Paulo, da Fábrica de Produtos Quíjicos
Vale do Paraíba, da Sociedade Extrativa de Taubaté, com plantação de cacau para
a Lacta, e da Sociedade Extrativa Limitada de Itapeva.
Lacta
A
empresa Lacta, fabricante brasileira de chocolates, conhecida por marcas e
produtos de sucesso, foi de propriedade de Ademar de Barros.
Após
sua morte, a gestão da empresa passou a seu filho, o também político Ademar de
Barros Filho. Em 1996, após brigas entre a família, a empresa foi vendida à
Kraft Foods.
Herdeiros políticos
Cientistas
políticos não conseguem estabelecer claramente uma espécie de herdeiro político
do ademarismo. O estilo de governo Paulo Maluf pode ter sido influenciado em
alguns aspectos pelo estilo de Ademar, porém eles não foram aliados políticos.
A carreira política do governador Paulo Maluf começou com sua nomeação para
prefeito de São Paulo, justamente no dia do falecimento de Ademar: 12 de março
de 1969.
A
influência do ademarismo na política paulista continuou mesmo depois de extinto
o PSP, sendo que em 1972, 60% dos prefeitos eleitos naquele ano no estado de
São Paulo eram oriundos do PSP.
Ademar
de Barros Filho seguiu carreira política e chegou a se eleger deputado federal,
várias vezes, entre 1966 e 1994, e foi também secretário de estado em São Paulo
na década de 1970. Seus filhos o impediram de fazer empréstimos em dinheiro
para as campanhas políticas. Tanto Ademar Filho, como os ademaristas, em geral,
quando se lembram de Ademar, o chamam de “O velho Ademar”.
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