Por Francisco Frassales Cartaxo
O diretor-geral do DER, engenheiro Ivon Rabelo, antes mesmo de sentar-se
à minha frente, foi logo adiantando:
- Secretário, temos um problema na estrada de Bonito, os técnicos do DER
foram recebidos, lá perto de sua terra, de espingarda na mão.
Tomei um susto. De cho- fre, vieram à memória casos de brigas e crimes antigos
relatados na porta do ce- mitério de Ca- jazeiras, em dia de finados. Ivon me
tranqui- lizou. Com um sorriso maroto, que eu associei imediatamente à ênfase posta
na frase “perto de sua terra”, ele que nasceu em Itabaiana, àquela altura
ligada à BR 230 por asfalto ainda quente, inaugurado com discursos, foguetões e
muitos elogios à competência do seu jovem filho. Ele fala do entrevero entre
pequeno proprietário rural, um senhor de idade, cuja terra seria cortada pela rodovia,
em consequência do novo traçado, previsto no projeto técnico. Recusava-se a
permitir que seu pedaço de chão fosse partido ao meio pela nova estrada.
Argumentou, discutiu, exaltou-se. E sem largar a espingarda, arrematou:
- Aqui ninguém entra sem minha ordem, fiquem sabendo que não vou deixar
de jeito nenhum, o que é meu eu zelo até o fim. Ora já se viu, invadir
propriedade alheia, quer saber mais, isso é coisa de co- munista... E pra
comunista o remédio é bala!
O homem estava indócil.
Só com muito ajeitado, admitindo recuar, o DER, auxiliado por chefes
políticos locais, conseguiu acalmá-lo e, ao final de muitas tratativas,
abrir-se um claro na mente do ferrenho caçador de “comunistas”... Penso hoje,
tantos anos decorridos, que o então deputado José Lacerda (foto) interferiu junto a
seu provável eleitor. E assim, o governo de Ivan Bichara Sobreira superou esse
obstáculo para cumprir sua promessa. Aliás, cumprir além do prometido, pois havia
assegurado tão somente implantar a estrada de Bonito a Cajazeiras, e não
asfaltá-la como expliquei em crônica anterior.
Ivan Bichara |
A pavimentação original da rodovia Cajazeiras-São José de Piranhas-Monte
Horebe-Bonito de Santa Fé, numa extensão de 66 km, integrou o programa
ro- doviário do governo Ivan Bichara (1975/1979). Programa ampliado no meio do
período, mantendo-se, porém, sua característica básica que era, desde a concepção
a- nunciada no Plano de Ação do Go- verno (PLANAG), a da “integração, isto é,
pequenos trechos de estradas ligando regiões e cidades à rede rodoviária
existente”, como está escrito na Terceira Mensagem ao Poder Legislativo, encaminhada
pelo governador no dia 1º de março de 1978. Outra diretriz previa a conclusão
das obras iniciadas na administração anterior, comandada por Ernani Sátiro.
Todas as metas rodoviárias de Ivan Bichara foram cumpridas em sua gestão, concluída
por Dorgival Terceiro Neto, seu vice-governador, que assumiu quando Ivan afastou-se
para ser candidato ao senado em 1978.
Por mais que puxe pela memória não consigo lembrar o nome do sítio ou
qual o trecho exato da estrada e muito menos o nome do cidadão que, de
espingarda na mão, pôs areia na mudança do traçado da nova estrada. Ele hoje
deve estar ao lado de Ivan, rindo à beça deste cronista saudoso.
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