
Depomos nas mãos do leitor a mais moderna revista brasileira. Nossas irmãs mais velhas nasceram por entre as demolições do Rio colonial, através de cujos escombros a civilisação traçou a recta da Avenida Rio Branco: uma recta entre o passado e o futuro. Cruzeiro encontra já, ao nascer, o arranha-céo, a radiotelephonia e o correio aéreo: o esboço de um mundo novo no Novo Mundo. Seu nome é o da constelação que, ha milhões incontaveis de annos, scintila, aparentemente immovel, no céo austral, e o da nova moeda em que resuscitará a circulação do ouro. Nome de luz e de opulencia , idealista e realistico, synonymo de Brasil na linguagem da poesia e dos symbolos.

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Uma revista, como um jornal, terá de ter, forçosamente, um caracter e uma moral. De um modo generico: princípios. Dessa obrigação não estão isentas as revistas que se convencionou apelidar de frívolas. A funcção da revista ainda não foi, entre nós, sufficientemente esclarecida e comprehendida. Em paíz da extensão desconforme do Brasil, que é uma amalgama de nações com uma só alma, a revista reune um complexo de possibilidades que, em certo sentido, rivalisam ou ultrapassam as do jornal. O seu raio de acção é incomparavelmente mais amplo no espaço e no tempo. Um jornal está adstricto ás vinte e quatro horas de sua existencia diaria. Cada dia o jornal nasce e fenece, para renascer no dia seguinte. É uma metamorphose consecutiva. O jornal de hontem é já um documento fóra de circulação: um documento de archivo e de bibliotheca. O jornal dura um dia. Essa existencia, tão intensa como breve, difficulta os grandes percursos. É um vôo celere e curto. O jornal é a propria vida. A revista é já um compendio da vida. A sua circulação não está confinada a uma area traçada por um compasso cujo ponteiro movel raro pôde exceder um círculo de raio superior á distancia maxima percorrivel em vinte e quattro horas. A revista circula desde o Amazonas ao Rio Grande do Sul, infiltra-se por todos os municipios, utilisa na sua expansão todos os meios de conducção terrestre, maritima, fluvial e aérea; entra e permanece nos lares; é a leitura da familia e da visinhança. A revista é o estado intermedio entre o jornal e o livro.ø
Por isso mesmo que o campo de acção da revista é mais vasto, a sua interpretação dos acontecimentos deve subordinar-se a um criterio muito menos particularista do que o do jornal. Um jornal póde ser um órgão de um partido, de uma facção, de uma doutrina. Uma revista é ums instrumento de educação e de cultura: onde se mostrar a virtude, animá-la; onde se ostentar a belleza, admirá-la; onde se revelar o talento, applaudi-lo; onde se empenhar o progresso, secundá-lo. O jornal dá-nos da vida a sua versão realista, no bem e no mal. A revista redu-la á sua expressão educativa e esthetica. O concurso da imagem é nella um elemento preponderante. A cooperação da gravura e do texto concede á revista o privilegio de poder tornar-se obra de arte. A politica partidaria seria tao incongruente numa revista do modelo de Cruzeiro como num tratado de geometria. Uma revista deve ser como um espelho leal onde se reflecte a vida nos seus aspectos edificantes, attraentes e instructivos. Uma revista deverá ser, antes de tudo, uma escola de bom gosto.ø
Porque é a mais nova, Cruzeiro é a mais moderna das revistas. É este o título que, entre todos, se empenhará por merecer e conservar: ser sempre a mais moderna num paiz que cada dia se renova, em que o dia de hontem já mal conhece o dia de amanhã; ser o espelho em que se reflectirá, em periodos semanaes, a civilisação ascensional do Brasil, em todas as suas manifestações; ser o commentario multiplo, instantaneo e fiel dessa viagem de uma nação para o seu grandioso porvir; ser o documento registrador, o vasto annuncio illustrado, o film de cada sete dias de um povo, eis o programma de Cruzeiro.É pelo habito de modelar o barro que se chega a bem esculpir o marmore. Esta revista será mais perfeita, mais completa, mais moderna amanhã do que é hoje.
Capa da primeira edição
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