Foi com o título “Na intimidade
do Poder” que o jornalista Abelardo Jurema Filho retratou, em seu livro
“Paraíba Feminina”, a figura marcante de Lourdinha Amorim (Maria de Lourdes
Régis Amorim), que durante 16 anos comandou o Cerimonial do Palácio da
Redenção, sede do Executivo paraibano, de lá saindo para a Assembléia
Legislativa por perseguição sofrida no governo Burity. Natural de João Pessoa,
filha de família tradicional e aluna do tradicional Colégio das Lourdinas, ela
foi impecável no papel de relações públicas, convivendo com pelo menos sete
governadores e atuando com a discrição e a fidelidade exigidas pelo difícil
cargo. Lourdinha dizia-se “casada com o trabalho” e sua imagem tornou-se
emblemática no organograma do Poder estadual.
Ela ingressou no serviço
público pelas mãos do ex-governador Ernani Sátyro, que classificava como
político austero e autêntico. Convidada para assessora de gabinete, com a
missão de receber autoridades e providenciar recepções oficiais, Lourdinha
criava, instintivamente, o que acabou se concretizando como Serviço de
Cerimonial do governo. Pelo seu depoimento a Abelardo, Ernani queria uma figura
feminina para anfitrionar personalidades influentes em visita à Paraíba.
Posteriormente, o governador Ivan Bichara Sobreira criou o cargo de
assessora-chefe de Relações Públicas e disciplinou o setor. Seguiram-se os
governadores Dorgival Terceiro Neto, Tarcísio Burity e, finalmente, Clóvis
Bezerra, a quem coube sancionar a lei que criou efetivamente o Cerimonial do
Palácio. A convivência com sete governadores fez com que ela observasse
atentamente os estilos de cada um, bem diferentes, como pontuou no depoimento a
Abelardo Jurema Filho.
O mais indisciplinado |
Na sua opinião, o mais irreverente e rebelde era Dorgival Terceiro Neto, que esbravejava contra as exigências do Cerimonial e não gostava de formalismo, embora, no final das
contas, obedecesse a regras do protocolo. Sobre Ivan Bichara e Clóvis Bezerra,
Lourdinha enfatizou o temperamento mais afável, sublinhando o tratamento gentil
com todos os servidores do Palácio. O título de “mais indisciplinado”, na sua
versão, ficaria com o ex-governador Wilson Leite Braga, atual deputado
estadual, que não gostava de cumprir horários, não obedecia à agenda e sempre
agia de acordo com sua intuição. Mas isso não queria dizer que não fosse um
homem simples e de fácil relacionamento. No mesmo livro de Abelardo, consta um
depoimento de Mirtes Sobreira, esposa do ex-governador Ivan Bichara Sobreira e
sobrinha do ex-ministro José Américo de Almeida, que era uma espécie de
“consultor” dos governantes e tinha influência na escolha de alguns dos
ocupantes do Palácio da Redenção no regime militar.
Ivan Bichara despachando sob os olhares do ex-governadores Tarcísio Buritu, Wilson Braga e Antonio Mariz. |
Dona Mirtes declarou a Abelardo
que não queria que Ivan fosse governador e lembrou que a passagem pelo poder
não alterou o patrimônio da família, apesar da maledicência de alguns
opositores que chegaram a redigir carta anônima tentando denegrir a imagem de
Ivan Bichara. O episódio a que ela se referiu ocorreu ao final do mandato do
ex-governador, que já ensaiava a candidatura ao Senado. O documento apócrifo
foi encaminhado a deputados e chegou a ser publicado na imprensa, com denúncias
de nepotismo e supostos abusos de poder na administração. “Foi uma tentativa
vil e mesquinha de macular a integridade de Ivan, que, no entanto, saiu ileso
desse episódio e cumpriu seu mandato com altivez e dignidade”, relatou Mirtes,
nascida em Guarabira. Sobre seu papel como primeira-dama, ela narrou que
assumiu-o sem ter muito jeito, mas procurou cumpri-lo dedicando-se de corpo e
alma aos mais humildes e engajando-se em obras assistenciais do falecido Padre
Hildon Bandeira, em Brasília de Palha. A ex-primeira-dama negava interferências
nas decisões políticas tomadas por Ivan, embora admitisse como natural trocar
idéias a respeito de determinados assuntos. O que a deixou decepcionada foi a
traição sofrida por Ivan quando se candidatou ao Senado em 78, perdendo a vaga
para Humberto Lucena. Uma frase emblemática dita por ela a Abelardo: “Na
política, quando se é honesto, com o que se ganha não dá para sair rico”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário