Funcionários de Infraero e Receita em Brasília ajudavam a liberar bagagem
Em gravação feita pela polícia, empresário liga de Miami para combinar como iria ser a entrada no Brasil
Gravações feitas pela Polícia Federal revelam que o grupo do empresário
Carlos Cachoeira utilizou servidores da Infraero e da Receita Federal
para obter facilidades na entrada e saída de mercadorias contrabandeadas
no aeroporto de Brasília.
Preso desde o dia 29 de fevereiro, Cachoeira é acusado de comandar um esquema ilegal de jogos caça-níquel.
Um dos citados nos diálogos é Raimundo Costa Ferreira Neto, servidor da
Infraero (estatal que administra aeroportos) com sala no terminal.
O outro é Wagner Wilson de Castro, inspetor-chefe da Alfândega da
Receita em Brasília, chamado durante a madrugada para liberar malas do
grupo de Cachoeira.
Segundo a investigação da PF, o servidor da Infraero, chamado de
Ferreirinha, "tem como função facilitar a chegada de material
contrabandeado/descaminhado" do grupo de Cachoeira.
Seu telefone foi monitorado, com autorização judicial. Numa conversa em 4
de janeiro de 2011, Cachoeira estava em Miami e acertou com o sargento
da Aeronáutica Idalberto Matias, o Dadá, a volta ao Brasil, por
Brasília.
Apontado no inquérito como o araponga do grupo, Dadá informou a Cachoeira que iria procurar Ferreirinha.
Minutos depois, Dadá volta a falar com Cachoeira e avisa: "Ele falou que pode vir aqui por Brasília."
Oito dias depois, Dadá e Cachoeira discutem a chegada a Brasília de
outras pessoas do grupo e acertam o número de malas e a roupa de um
deles para passar pela fiscalização: uma camisa roxa.
Em outra gravação, uma pessoa não identificada orientou Dadá sobre como evitar a fiscalização: "Se titubear, mandam entrar".
Dadá ligou para Cachoeira da sala do funcionário da Infraero. "Cheguei
agora aqui na sala do Ferreirinha, tô com ele aqui." E repassou pedido
do servidor: "Ele só tá cobrando o uísque dele". Cachoeira responde: "Tá
bom, vou dar".
O chefe da Alfândega da Receita no aeroporto, Wagner de Castro, não foi
monitorado, mas é citado como alguém que teria ajudado o grupo.
Numa noite, foi chamado para solucionar impasse envolvendo malas de
Cláudio Abreu, diretor da Delta Construção e denunciado pelo Ministério
Público Federal.
Num diálogo, Dadá disse que o servidor da Receita foi "solícito". Em
outro, o dono da Delta afirma que visitaria Castro para "agradecer a
cortesia" e "levar uma agenda".
LEANDRO COLON
FERNANDO MELLO
FILIPE COUTINHO
DE BRASÍLIA
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