“Eu nunca vi coisa tão boa como é sambar, no bairro do Alecrim, na capitá de Natá”. Com essa música do saudoso Zito Borborema, lembro que neste 23 de outubro, o bairro do Alecrim completa 100 anos de fundação. Tenho um carinho especial por ele, pois ali vivi parte da minha infância e adolescência. No Alecrim assisti aos primeiros filmes nos cinemas São Luís e São Pedro, local onde o rei Roberto Carlos fez seu primeiro show em Natal em 1964. Na calçada do São Luís, após os filmes comprava revistas em quadrinhos principalmente faroeste “Roy Rogeres” e pôrters de Elvis Presley, saboreando um cachorro-quente com refrigerante Chush. Além desses cinemas existiram também os cines São Sebastião, Alecrim e Olde.
Nesse bairro surgiu em 1915 o nosso Alecrim Futebol Clube, a agremiação mais simpática do RN e em 1977 atorcida FERA (Fiéis Esmeraldinos Radicais) a mais fiel, apaixonada e atuante do Brasil. Aos sábados temos a feira do Alecrim que até a década de 80 era a terceira maior do Nordeste, ficando atrás apenas das de Caruaru e Campina Grande. Por falar em feira é bom lembrar que o comércio alecrinense é o maior de Natal, tendo, inclusive, inaugurado o primeiro supermercado da capital em 1972 (Nordestão). É de lá a primeira loja de vidros de Natal, o Vidraceiro do Norte. Assim como a maior loja de malas a Casa Sarmento de Derneval Sarmento, torcedor e ex diretor alecrinense, a principal loja de fogos de artifícios de Natal, o Bazar São Paulo, do Sr. Paulo Almeida e seu filho Washington, apaixonados pelo Verdão, Shopping 10, Centro Comercial do Alecrim, Saci Materiais de Construção, A Iskisita, Paratodos “jogo do bicho”, o Mercado Antônio Carneiro na esquina da Avenida 6 com a 4, as eletrônicas da Avenida 3, Agricaça, Farmácia Dutra e o inconfundível Camelódromo. Na hotelaria, o histórico Hotel União, Hotel Caiana, o hotel San Francisco, atualmente Hotel Burity e o Natal Palace Hotel.
No setor educacional recordo da escola Padre Miguelinho, Colégio das Neves, Instituto Reis Magos, Kalazans Pinheiro, Ary Pareiras, João Tibúrcio, Sagrada Família, Externato Priscila Paiva, Anfilóquio Câmara, Newton Braga, Amâncio Ramalho, Nívea Madruga, Clementino Câmara, Juvenal Lamartine, Escola Stela Barros, Dom Marcolino Dantas, Supletivo Pedro II, Escola do Professor Saturnino, Escola do Professor Batalha, Instituto Sião, Externato Potiguar, o Colégio Pitágoras do saudoso professor Evaldo que foi o primeiro cursinho de Natal, a Faculdade Câmara Cascudo (Estácio de Sá), o supletivo do SESC na Alexandrino de Alencar. É importante ressaltar que foi nesse bairro que existiu o primeiro grupo de escoteiros de Natal liderado pelo professor Luís Soares. O bairro sedia a Base Naval de Natal e tem também o quinto cartório do Sr. Manuel Cabral de Macedo, onde registrei minhas filhas Mircela Aline e Roberta Luciana. Nesse bairro funcionou a Rádio Cabugi, a Tropical, TV Potengi e agora a TV Ponta Negra. Na cultura o charmoso teatro municipal Sandoval Wanderley (o teatrinho do povo) e o teatro Jesiel Figueiredo. No setor de saúde. Hospital Naval, Policlínica, hospital Santa Helena. Esse hospital depois passou a se chamar Hospital Antônio Prudente e o Centro de Saúde do Alecrim.
A religiosidade está presente nas igrejas de São Pedro ( padroeiro do bairro), São Sebastião, São José, Nossa Senhora da Conceição, Assembléia de Deus e Centro Espírita Adolfo Bezerra de Menezes. Não posso esquecer da Praça Gentil Ferreira, local das grandes concentrações políticas nos anos 60 e 70 liderados por Dinarte Mariz e Aluízio Alves, sempre com a presença do rei do baião Luis Gonzaga, Marinês e sua gente e Genival Lacerda. No Alecrim tínhamos um grande carnaval com destaque para os índios Guaranis da Avenida 7, campeões várias vezes,que se tornaram hour concur sob o comando do cacique Bum bum, as escolas de samba Asa Branca e Aí vem a Marinha, Imperadores do Samba, Mangueira no Samba,e Império do Salgueiro, tradição mantida até hoje com a Imperatriz Alecrinense e o bloco de carnaval Cheiro de Alecrim da torcida FERA, os clubes Alecrim Clube, Atlântico, Cobana e Clube dos Caçadores,os blocos de elite Magnatas, Arrastão e Psiu, Chega Mais e Saci. Falando em carnaval relembro do eterno Rei Momo natalense Severino Galvão, pai dos cantores Babal e Galvão Filho e as batalhas carnavalescas da Vila Naval. Nas festas juninas o Arraiá do Pedrinho na Avenida 7, o Arraiá da Vila Naval e Arraiá do Saci.
No futebol amador tínhamos as presenças do Nacional da Avenida 2, Canarinho da avenida 3, Portuguesa da avenida 4, Cruz de Ouro da avenida 6, Botafogo da avenida 7e Bandeirantes da avenida 8. Também são fortes as lembranças do parque de diversão São Luís armado na Presidente Bandeira (Avenida 2).
Relembremos lojas de destaque que existiam no comércio do bairro: Transrádion, na Amaro Barreto primeira loja a fabricar rádio de válvulas e vender discos 78 rotações, LP vinil dos anos 40 até os anos 70. Essa loja pertencia ao Sr. Marcino Dias de Oliveira que após seu falecimento seu filho Marcínio Dias de Oliveira juntamente com sua mãe Maria Irene Chaves de Oliveira continuaram com a mesma só que com o nome Emy Som transformando em uma loja de disco. Nessa área também tínhamos: Globo Som de Expedito Leite, Vox Disco de Valdir Acioli, a Fafitas de Fabrício. O foto Jorge Mário que juntamente com o foto Alecrim do vibrante torcedor esmeraldino Chico eram os principais da capital. Em cima do foto Alecrim funcionou a sede do Alecrim FC e foi onde se comemorou o campeonato invicto de 1968.
Outras lojas que deixaram saudades: Lojas Seta, Girafa Tecidos, A Sertaneja, Casas Sem Nome, Socic, Sonora, Utilar, Casa Régio, O Pescador, A Primavera, Armazém Narciso, Camisaria União, Galeria Olímpio que foi inaugurada com a promoção da Monark trazendo os cantores Antônio Marcos e Vanusa, Livraria Moderna e Distribuidora de livros “IBEP., Casa São Marcos Também no setor comercial o Café Vencedor, que foi inaugurado pela miss Brasil Terezinha Morango, Café Dois Amigos, Lojas Paloma, Lojas Rizo, Armarinho Casa Azul, Armarinho Catarinense, Sorveteria Cristal, Laboratório Sanarina, fábrica de refrigerantes Dore, Curtume Jota Mota, Banco do Povo, Banco Comércio e Indústria de Campina Grande, Banco Mossoró,a Pedra que vendia carros usados na Avenida 10, falando em carros recordo que a sede do DETRAN funcionou no Alecrim na esquina da Avenida 2 com a 9, Vuco-vuco de Manuel Leopoldo que introduziu a venda de móveis usados em Natal, a Oficina de Galego Pintor e Negão Pintor, Marmoraria Penedo, a Casa Leite de seu Leonel Leite, a Sistemática, Farmácia Navarro, a famosa Padaria Cial na avenida Alexandrino de Alencar e a Padaria Ideal , a LBA (Legião Brasileira de Assistência), a funerária São Francisco dos irmãos Vila, que hoje tem o mais completo serviço nesse setor, iniciando no bairro que teve o primeiro cemitério da cidade construído no século XIX. Pessoas históricas e folclóricas do bairro nas décadas 60 e 70: os treinadores de futebol Pedrinho 40 campeão invicto pelo Alecrim FC em 1968 e Geléia, campeão pelo Alecrim FC em 1963, o cantor Odair Soares, sempre cantando o grande sucesso Moinho d’água, o inesquecível Zé Menininho tocando nos transportes coletivos o seu sucesso Caixão de Gás, Chiquinha Gorda, Dr. Rossi , Caju, Tourinho, Maria Mula Manca, Dr. Raiz, Mangaieiro, Maria Sai da Lata, Lambretinha, Cuíca e Velocidade, o primeiro homossexual assumido em Natal.Na vida boêmia recordo do Cabaré do Wilson e a Arapuca do Jesiel, dos bares Quintandinha, Café Nice, A Palhoça, Indiana, Bar do Zé Vilar, Bar de Zé Mago, Bar do Capitão, Chapéu de Palha, Brancos Bar, Gaiola do Louro, Bar da Nenzinha, Beco da Música, Carne Assada do Toinho, Carne Assada do Araújo, Bar do Marinaldo, o Bar do Elói na Avenida 2 um dos mais antigos de Natal, Bola Branca Bar, Bodega de seu Adauto na Avenida 3 com a 9, Buchada e Panelada de Dona Anália na Avenida 12, O Rei do Abacate, Pic-Nic, Picado do Monteiro, Churrascaria Dom Pedrito, Restaurante Tiffany e o bar do Neto onde criamos a torcida FERA.
Esse bairro foi homenagea
do pelos compositores Mirabô Dantas e Dailor varela com a música “Frevo do Alecrim”, Babal “Avenida 10”, Edinho e Raul Andrade “Feira do Alecrim,” ”Avenida 9” de Carlinhos Ponta Negra, Gilliar “Menino do Alecrim”, Zito Borborema “Forró do Alecrim”, Dosinho, o hino do Alecrim FC, Elino Julião, Forró da Coreia, por isso nesse momento de festa cantemos como Zito Borborema: “Tá muito legal mais o bom pra mim é o bairro do Alecrim na capitá de Natá...”
José Normando Bezerra
Geógrafo e Professor
Natal (RN), outubro/2011
Muitas boas histórias de época. 64 as guitarras dominavam os palcos.
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