terça-feira, 18 de outubro de 2011

Dia do Médico

Honra os médicos por seus serviços, pois também o médico foi criado por Deus”. 
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Hoje eu não desejo que me elogiem por dores que aliviei.
Não quero agradecimentos pelos males que curei, não estarei atrás de recompensas por vidas que salvei; não quero pagamentos por lágrimas que ajudei aliviar.
Ao ser médico, um santo, quase um Deus, não aceitará as palmas que são próprias de cantores e atores; porém vos pergunto: haverá obra maior que se aproxime de Deus amassando na grande manhã, o corpo do primeiro homem?
Não, porém com a mais profunda sinceridade, eu acordei para pedir perdão.
Perdão pelas verbas desviadas da saúde para outras finalidades, principalmente em épocas de campanha, deixando que a beleza da medicina se curve a maldade dos homens e algumas vezes nos culpam.
Perdão por não ter condições para resolver problemas básicos de saúde pública que apesar de serem tão simples ainda é a maior causa de morte, evitando o riso de um lar simples pro uma lágrima permanente.
Perdão pela desnutrição que campeia em nossa cidade, sacrificando aos mais necessitados e desprezados da sorte por cinismo dos nossos governantes.
Perdão pela imagem errônea de poderes que nos atribuem pelos péssimos salários pagos à comunidade médica em geral e pelo desprezo aos nossos ambulatórios, onde muitas das vezes o próprio ambiente transmite doenças.
Perdão pela ausência imperdoável de remédios básicos em nossa farmácia, levando aos nossos irmãos ao verdadeiro desespero, sacrificando os que desejam a vida, mesmo que sofrida.
Perdão por pagar imposto, por participar de congressos, atualizar, por ter que me alimentar vestir e pagar escolas para meus filhos, água luz e empregado e em decorrência de tudo, isso ter que cobrar honorário.
Perdão pela mentira, inoperância de nossos governantes que viram as costas aos sentimentos do povo, levando-os ao sacrifício de noites frias nas filas para consultas rápidas e exames a serem marcados sob forma de obituário devido à grande demora, embora muitos nos culpem.
 Perdão pela noite de plantão em ambulatórios dos hospitais para catar miséria do sustento, pelo humor, pelos sofrimentos que eu passo e transmito pelos gritos de vida em cada enfermaria e pela miserabilidade do atendimento, pois poucos recebem a devida medicação.
Perdão por não apresentar um sorriso constante, pela tensão permanente, este sorriso eu transfiro para políticos de auditório que mentem sob forma de verdade e esquecem a verdade do povo.
Peço perdão por ser humano por ter lutado nas campanhas de políticos, fazendo-os se elegerem deputados, senadores, go- vernadores, prefeitos e presidente que em seu maior percentual não sente o cheiro do povo.
Perdão pelo trabalho médico altamente desagradável por usar procedimentos muitas das vezes dolorosos ou comunicar diagnósticos extremamente estressantes que no reflexo de Deus não alivia ou trás esperanças.
Perdão por assumir muita das vezes o clima ansioso e depressivo dos hospitais e se amoldando as características impróprias como agressão a doentes frágeis e sensíveis, carentes de atenção.
Perdão por muitos de nós trans- formarmos a capacidade de cura que é divina em cifrões, negando a divindade da vida e enterrando entes queridos que pudessem ser salvos.
Perdão por tudo de mau que a terra escondeu nos erros médicos que hoje pela forma do grito da ausência, são levados a justiça médica e punidos, pois os glorificados do amor a arte continuam a desejar a vida persistente em vez de um triste jaz e nada mais.
Por fim perdão pelos bons, maus, competentes, incompetentes, ricos e pobres de espírito que enfrentaram a medicina de forma heróica ou não trazendo riso em vez de tristeza consola em vez de dor, afago em vez de desprezo.
Quero que aceitem este oráculo de perdão como se fosse um poema que se por acaso o enternece, ama teu médico através da vida e lembra-te dele numa prece.


D.Rafael Holanda Médico
www.rrholanda@uol.com.br



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