Correio Braziliense - Renata Mariz e Étore Medeiros
Ao unificar e aperfeiçoar diferentes programas sociais, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva abusava da metáfora do peixe para se defender dos que acusavam o então recém-lançado Bolsa Família de projeto meramente assistencialista. Passados 10 anos da iniciativa, 1,7 milhão de famílias conseguiram “aprender a pescar”. Deixaram de receber o repasse mensal, cujo valor médio é de R$ 152,35, porque conseguiram aumentar a própria renda, extrapolando o limite de R$ 70 per capita. A turma que deu adeus à ajuda federal equivale a 12% das 13,8 milhões famílias atendidas atualmente. Sem contar as 6 milhões que saíram do programa por outros motivos, como deixar de cumprir as condicionalidades e fraudes.
Não há resposta exata sobre o que o número significa. Para o professor da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (USP) Paulo Feldmann, fica claro que o governo não conseguiu ensinar a pescar. “Mas dar o peixe, apenas, também era importante, pois havia gente passando fome no país”, assinala. Ele considera que, passados 10 anos de Bolsa Família, seria necessário investir mais na qualidade da escola. “Talvez criando uma prova nacional, para avaliar o desempenho das crianças, só exigir frequência ajuda, mas não muda a realidade”, afirma Feldmann.
Prêmio na escola
Moradores de Valparaíso (GO), Carlos Espíndola e Regiane Dias de Albuquerque, que recebem R$ 95 mensais do Bolsa Família, contam que já mantinham o cartão de vacinação das crianças sempre atualizado e acompanhavam de perto o desempenho escolar dos três filhos — um garoto e duas meninas. Elas foram inclusive premiadas no colégio pelo comportamento e pelo desempenho exemplares.
“O Bolsa Família serviu como mais uma ajuda para o orçamento, em benefício das crianças. Compramos coisas para a escola e também cuidamos da alimentação. Elas adoram leite, e o biscoito também não pode faltar”, conta o mecânico, que ensina as crianças a regrarem o consumo dos lanches, para não faltar no fim do mês.
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