Pedro Nunes Filho*
Sertanejos acostumados a lidar com bens
de fôlego e de raiz, um dia, resolveram pendurar seus gibões de couro,
encostaram suas enxadas em recanto de parede, quedaram nos ombros canos de fogo,
puseram na cintura sementes de morte e começaram a ganhar a vida com os
benefícios do gatilho. Deixaram suas terras e saíram mundo afora, pés de chumbo
pisando chão de fogo e se divertindo em festas de guerra. Em meio a chuviscos
de bala, se acostumaram a comer léguas e morder o beiço do horizonte, não
obrando caridade, mas tomando, roubando e matando culpados e inocentes. Uma
pena! Não era a índole deles.
Falhas na aplicação das Leis, ausência
de rigor do Estado, dificuldades de sobreviver num cenário de miséria sem
benefícios sociais, além de sentimentos de vingança por injustiças sofridas. De repente, trocaram de atividades e mudaram
de vida. A criminalidade campeou num Estado sem firmeza e sem ação.
Dizem que a história não se repete.
Verdade. O banditismo que hoje viceja nas cidades não é o mesmo que prosperou
no campo, sob a forma de cangaço. A única semelhança entre ambos é a figura de
um Estado desprovido de meios para vigiar, punir e educar, porque gasta em
excesso com o que não contribui para o bem-estar do povo.
Diante de tantas prioridades que temos,
preocupa-me a autorização da Corte Suprema em favor da marcha da maconha. Quem pretende
alcançar o topo do Evereste derruba as alturas por etapas, Um passo aqui, outro
ali, mais um acolá. Até se chegar ao ponto colimado. Assim, agem pessoas ou grupos
que buscam benefícios ou vantagens quaisquer que sejam.
Primeiro, o Supremo, declinando de sua
sabedoria, sob pretexto de abrir espaço para minorias se manifestarem, permitiu
a marcha que aconteceu em clima de apoteose e em homenagem à Democracia. Sem
dúvida, esse tipo de conquista ganhou força e tende ganhar terreno. O próximo
passo deverá ser o direito de plantar a erva onde quer que haja um pedacinho de
terra disponível. De repente vem a pergunta: para que plantar se o produto não
pode ser vendido? Contradição, nonsense!
Argumento a favor: tratando-se de um bem de safra igual a qualquer outro que o agricultor planta, limpa, colhe e vende, com
financiamento, seguro e tudo, por qual razão proibir? Se a safra não puder ser
comercializada em supermercados e feiras livres, cairá fatalmente na
clandestinidade. Aí, será pior. Além disso, quem bancará os custos da produção?
Quem pagará os empréstimos contraídos nos Bancos do Governo? Não faz sentido,
organizar marchas em defesa de um produto, se não houver intuito de produzir,
vender e lucrar. Não sejamos tolos nem hipócritas, alegando liberdade de
expressão. Assim sendo, que se libere logo toda a cadeia. Garanto que a
Agricultura Familiar rapidamente vai mudar de rumo e crescer sem necessidade de
subsídios do governo. Em vez de cenoura, milho, feijão, arroz, verduras e
frutas, os agricultores vão plantar é maconha que dá muito mais lucros. E já
estão até plantando. O produto só não se transforma mesmo numa comoditie com potencial para gerar
divisas, porque os Estados Unidos, a Comunidade do Euro, China e Japão
certamente não haverão de manifestar interesse na compra de um produto que
prejudica a saúde de seu povo. Mas aí, como nós brasileiros não nos damos ao
luxo de curtir esses delírios e cuidados de países de primeiro mundo, o produto
fica por aqui mesmo que o povo é de ferro e pode muito bem se dar ao luxo de
desfrutar prazeres como o que a droga proporciona, mesmo em detrimento da saúde.
Será que esse “avanço” ajuda a um povo
que quer Fome Zero, que sonha em acabar com a miséria, reduzir o analfabetismo
e a criminalidade? Um país que precisa urgentemente profissionalizar seus
jovens para inseri-los no mercado de trabalho? Será que a liberação da maconha
vai mesmo contribuir com o aperfeiçoamento da Democracia e com os bons
costumes? Será que vai destacar o Brasil perante o mundo, como um país que deu exemplo
de superação? Se as respostas a todas essas indagações forem SIM, então que se
façam leis introduzindo esse produto, antes que os nosso minério, petróleo e
carne escasseiem ou percam as vantagens que ora desfrutam.
*É advogado e escreve aos domingos
pnunesfilho@yahoo.com.br
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