Zangar-se na medida exata é algo impossível tanto para o coração quanto para a mente, então a tradição rabínica sabiamente nos aconselha que para prevenimos as rixas e os conflitos devemos repassa-los para os nossos anjos. Pois eles são o “outro” imaginário, mas não exatamente o outro em si, mas o intermediador que conosco argumenta e nos ajuda a encontrar uma saída.
“Segundo os rabinos, possuímos quatro anjos que no equaliza: um à frente, um ao lado direito, outro ao lado esquerdo e um último trás. Qual a função de cada um? O da frente está lá para deter-nos; ele diz: ‘Calma… Espere, não seja tão afoito’. O que se encontra atrás de nós nos empurra para frente, dizendo: ‘Enfrente… Tenha a coragem para bancar e não dê para trás agora.’ O que está a nossa esquerda, junto ao coração, diz: ‘Esqueça… Deixe para lá’. O da direita, por sua vez, diz: ‘Lembre-se… Não deixe passar, porque você tem uma memória!’
Sintonizar-se corretamente com os impulsos de ‘avançar, recuar, lembrar e esquecer’ é fundamental para a ‘calibragem’ de nossas reações.”
(Bonder, In A Cabala da Inveja)
Fora isso temos o nosso instinto de sobrevivência que fica à postos quando entrado no nível do conflito. Então temos mesmo que nos sintonizar com os nossos anjos para que possamos arrefecer em algumas vezes e em outras entrar de sola se for preciso, porque há um tempo para tudo nesse mundo.
A paz só pode ser de fato paz, se ela for boa para ambos os lados e algumas vezes temos que ser esbarrados pelos outros e outras temos que esbarrar os outros para que o equilíbrio se mantenha e com isso se mantenha a paz. Porque paz passa pela organização dos nossos estados internos e externos…
Mas como separar essas situações? Aprendendo a dizer não sei, porque assim assumimos e mapearmos prontamente as nossas ignorâncias frente a nós mesmos, frente ao outro e com isso mantemos nossas mentes abertas. As funções do “sim eu sei” devem ser repassadas ao coração, porque é lá que sabemos como nos sentimos e com isso poderemos criar empatia com o outro e assim superar o conflito, antes que ele vire uma rixa. Isso equivale a manter o coração aberto para o outro.
Quanto aos ouvidos e aos olhos que nos são dados em pares, justamente para nos lembrar de que é mais importante estar atento do agir prontamente, também podem ser usados para não-ver e não-ouvir, porque tem momentos em que nã-ver e não-ouvir são essenciais. Porque só quem é pura compaixão, e isso só o Eterno é, é que pode ouvir tudo e ver tudo. Assim como a saliva nos ensina que em alguns momentos precisamos engolir… mesmo que seja um sapo tamanho família… O estômago nos ensina que com tudo quase tudo se digere e os orgãos excretores nos ensinam de que aqui que não é saudável, nem bom, nem útil, são lançados fora… mais cedo ou mais tarde, mas são…
Sendo assim algumas vezes precisamos bancar sim a nossa ingenuidade, e nisso consiste a nossa autenticidade, pois assim mantemos a nossa crença interna, mesmo que as vezes sejamos frutos de gargalhadas por isso. Porque quem ri da ingenuidade alheia ri de si mesmo, e muitas das vezes ri da própria ignorância que o cerca… Bonder fala de modo acertivo e muito corretamente que “há momentos em nossa vida em que devemos bancar os custos de passar por tolos perante os outros, para resgatar a nossa alma e dignidade.” Porque a ingenuidade é o anticorpo da fofoca, do rancor e da predisposição de levar tudo para o lado pessoal,como bem pondera o autor supracitado.
Também precisamos a aprender a gostar dos nossos inimigos, porque odeia fica amarrado a algo que detesta e assim tortura-se or uma vida toda, quiçá pela eternidade… E assim também evita-se que a rixa se aprofunde e também isso abre espaço para o arrependimento. Temos inimigos porque acreditamos sinceramente que um dia iremos derrota-los ou pelo menos que vamosconvece-los de que estamos certos… Quando percebemos que o nosso inimigo ou opositor se assim preferirem é o nosso contrapeso e assim ele é na verdade um redentor de muitos mundos, passaremos a gostar dele. E é por isso que desodiar é tão importante, pois assim aprendemos a fazer uso do mal e não o afugentar, porque quem permite que o ódio fuja faz um desfavor a si e a seus semelhantes…
Para que isto seja possível precisamos relativizar o conflito e procurar entender o que passa com o outro… como ilustra bem essa história:
“O Rabi Moshe de Sassov declarou a seus discípulos: ‘Só vim a aprender de que maneira devemos realmente amar o próximo, através de uma conversa que escutei entre dois camponeses:O primeiro perguntou:- Diga-me, meu amigo Ivan, Você gosta de mim?O segundo respondeu:- Gosto profundamente de você!O primeiro:- Você sabe, meu amigo, o que me causa sofrimento?O segundo:- Como posso saber o que lhe causa sofrimento?O primeiro:- Se você não sabe o que me causa sofrimento, como pode dizer que realmente gosta de mim?Compreendam então, meus filhos’ , continuou o Rabino de Sassav: ‘ amar, realmente gostar, significa conhecer aquilo que traz sofrimento e dor a seus semelhantes’. ” (Bonder, In A Cabala da Inveja)
Isso significa desenvolver empatia pelo outro, daí a dimensão do “eu sei” ir para o coração… Porque isso nos permitirá aplacar o furor, a cólera e a ira. E saber que muitas das vezes as pedras que nos jogam, são pedras de amor, de paixão, seja amor e/ou paixão pelo que for, mas são. Então devemos carinhosamente guarda-las, pois estas são demonstrações de afeto, de que aquela pessoa é capaz de amar tanto algo ou alguém que seria capaz de atirar pedras, de se auto-imolar para preservar o que lhes é caro em valor e estima. Pedras assim são tesouros, porque vêm de pessoas leais a si mesmo e que não tem medo de arregaçar as mangas e se expor ao ridículo por aquilo que lhes é valioso.
Nesse sentindo precisamos aprender a ter bons olhos para enxergar a realidade do outro e a nossa também. Porque há gente que é perseguida injustamente, perseguida por pura inveja, mas há aqueles que são perseguidos porque são pedra de tropeço e por isso estão sempre no caminho dos outro e com isso faz com os outros simplesmente tropeçem e caiam sobre eles… E não se trata de injustiça apenas de acidente… De não saber o seu lugar no mundo, não ter postura adequada, estes pisam nos pés dos outros e acabam por terem os seus pisados…
Criamos assim uma tecnologia de paz quando conseguimos manter um equilíbrio harmônico entre as nossas expectativas internas e externas, bem como entre as nossas expectativas e as nossas realizações. Isso nos encaminho a um estado de paz, de paz profunda e nos permite ampliar o nosso senso de justiça. Pois o outro nos permite saber que imagem passamos ao mundo, serve de espelho… A paz só verdadeira quando ela é harmônica, quando ela é imposta pelo medo, se torna pacificação e esta é bem temporária. Quando alcançamos um estado de paz profunda estamos prontos para sermos abençoados e também para abençoar o outro e com isso nos tornamos uma benção onde quer que estejamos e assim iluminarmos o mundo a nossa volta, porque somos capazes de desenvolver o amor gratuito.
Nenhum desses post teve como objetivo ofender ninguém, nem tão pouco ensinar nada. Teve apenas como objetivo compartilhar a minha experiência que foi marcada com muitas e muitas rixas, de todos os tipos possíveis, com o achado que para mim foram os ensinamentos contidos no livro do Rabino Nilton Bonder. Porque pessoas quem tem um caráter mais iracundo, como eu, são bem mais suscetíveis a rixa que as demais. Então eu apenas quis dividir essa experiência, porque foi uma coisa muito boa para mim e espero que também seja para você, mesmo que você seja mais doce e mais evoluído do que eu. Para que aquele que é igual a mim, possa passar ela vida de uma forma mais doce e suave do que eu passei
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