Temos por hábito querermos ser mais espertos que todo mundo, isso acaba as vezes por nos levar direto ao inferno, porque ficamos espaçosos e inchados com toda sorte de sentimentos, em suma, engordamos a ponto de caminhar para a obesidade mórbida nas dimensões emocional e espiritual.
Somos todos gênios, brilhantes, inventamos fakes para bisbilhotar a vida alheia, procuramos saber das “coisas” dos outros sem perguntar direto a fonte e assim vamos colhendo toda sorte de informação distorcida, pra não falar toda sorte de boatos mesmo. E vamos nos alimentos e engordando até quase explodir, isso quando não explodimos de fato… Mas somos todos gente muito boa, muita bacana e muito decente… até “respeitamos” a privacidade alheia… quem bisbilhota são os fakes… nossa mais que idéia mais genial, mais brilhante!!! Merecia um prêmio Nobel, pela maravilhosa solução dos controladores de transito emocional alheio.
Nisso acabamos por invadir o território alheio sem permissão e temos os pés pisados da mesma forma do que se déssemos a cara por lá, é isso mesmo, a própria cara. O anonimato de um fake não nos esconde por muito tempo, é que nem fantasia de carnaval, não dá pra repetir no desfile do desfile do ano que vem… Então criamos múltiplos fakes, e assim multiplicamos ainda mais a confusão. É o problema de ser esperto demais, somos tão, mas tão espertos que falamos o que não queremos, ouvimos o que não queremos, só pra descobrir o que o outro pensa realmente de nós, ou mesmo, a quantas anda a vida alheia. Sabe aquele velha fofoqueira que ficava atrás da cortina bisbilhotando a vida da vizinhança da rua jurando que ninguém a via atrás da cortina por causa da luz acesa? Pois é, eis a melhor figura para descrever um fake de net.
Tentamos controlar tudo, especialmente controlar os outros, parecemos um bando de rádio patrulhas… e com direito a sirenes e etc. Mas aí eu me pergunto será que estamos realmente preparados pra conhecer o outro tal qual como ele se mostra ao mundo, em especial aquele mundo do qual não fazemos parte ? A resposta é nãoooooooooooooooooooooooooo. Se fizermos isso sairemos muito mais, mas muito mais machucados. Daí o título desse post: ser idiota compensa: o problema das lágrimas tríplices…
Vamos ao conceito de lágrimas tríplices… porque como diz o rabino Bonder “ninguém se dá ao luxo de odiar de forma a estar em rixa sem que esteja fortemente vinculado ao objeto de seu ódio.” E eu esticando um pouco o raciocínio dele, digo: ninguém vigia, bisbilhota sem estar fortemente vinculado aquilo que é seu objeto de desejo. Isso é fundamental na compreensão de como surge e se desenvolve uma rixa. Daí o fato das rixas surgirem algumas vezes a partir de coisas tão banais. Ou como dizia o velho ditado: ninguém chuta cachorro morto. Isso significa que se aquela pessoa tá lá gastando o que ela tem de mais precioso: sua emoção e seu tempo com você é porque você tem algo que para ela é importante e ela quer e o quer de modo ardente. E quanto mais ela deseja, com mais ardor ela irá ataca-lo, então montará vigília em tempo quase integral, ou mesmo que de tempo em tempo, vira-volta ela está lá batendo na sua porta, nem que seja sob a forma de um fake, ou batendo a porta de seus amigos , tentando disfarçar a vontade de saber cada vez mais sobre você. Pois é gente, ser esperto dá um tremendo trabalho!!! É como um rei se fantasiar de mendigo para passear ou para ir a um baile… Ainda bem que eu sou idiota
Nesse campo a rixa se desenvolve pela “traição”, e aqui traição tem a plasticidade de um fluido. Pode ser que você esperava ser mais amado, ops. na verdade você esperava ser alvo de veneração e idolatrado, como um ser perfeito e descobre que o objeto do seu amor, bom, sabe que você tem defeitos e pior fala deles. Isso fere você e fere tão profundamente que você será capaz de gritar de dor, ainda que internamente, um grito, forte e amargo e assim o outro passa a ser objeto de raiva, de ciúme, pois passa a ser o símbolo do seu tesouro, daquilo que te importa, que pode ser um reles orgulho ferido, de não ser o cara perfeito… Assim estamos em tríplice dimensão:
- a dimensão do grito – diz respeito à dor da privação de algo desejado;
- a dimensão forte – que se refere à intensificação da dor devido a personalidade específica que outro tem; e por fim
- a dimensão amargo – que tem a ver com o questão da proximidade e competitividade aumentar ainda mais a sua dor.
Através dessa estrutura temos o mapa de toda a estrutura do lado ofendido ou magoado. Isto significa que um grito de dor, mais uma lágrima quando tomados como pessoal cria a rixa e por sua vez instaura todo um círculo vicioso, pois é o instrumento mais poderoso para se iniciar uma rixa e o mais potente detonador do ódio. tem uma história talmúdica citada por Bonder que ilustra bem isso, a história de rabi Ionatan e resh Lakish, Lakish gladiador profissional que modificou toda a sua vida devido a amizade a rabi Ionatan. E assim começa a rixa deles:
Certa vez, o rabi Ionatan estava banhando-se no rio Jordão quando Resh Lakish passou pelo local. COmentou rabi Ionatan: ‘Toda esta força… antes pudesse ser devotada a Torá!’‘Sua beleza’, replicou Resh Lakish, ‘deveria ser para as mulheres’. Disse então o rabino Ionatan: ‘Se você se arrepender e mudar de vida, permitirei que se case com minha irmã, que é ainda mais bela do que eu.’ Resh lakish mudou de vida, casou-se com a irmã do rabi Ionatan e passou a estudar com o cunhado, que lhe ensinou sobre os livros sagrados.Em certa ocasião houve uma disputa na casa de estudos em relação a alguns utensílios – a espada, a faca, a adaga, a foice -, sobre se eram ou não considerados ritualmente puros. O Rabi Ionatan determinou que esses utensílios deveriam ser passados pelo fogo de um forno.Resh Lakish determinou que o eram quando eram lavados com água.O Rabi Ionatan imediatamente deixou escapar: ‘Um ladrão compreende bem seu ofício’ (referindo-se ao uso por Resh lakish destes utensílios em seu trabalho passado como gladiador).Ao que Resh lakish respondeu com ódio: ‘E como você me ajudou? Lá (no circo romano) eu era chamado de mestre e aqui também’.O Rabi Ionatan sentiu-se profundamente atingido (pela indicação de que não teria ajudado Resh Lakish) e recusou-se a perdoá-lo. Em razão disso Resh Lakish adoeceu e em seguida morreu.O Rabi Ionatan entrou em depressão profunda… rasgando suas roupas e chorando intensamente: ‘Ondes estás tu, filho de Lakisha? Onde estás tu, filho de Lakisha?’ até que enlouqueceu. Os rabinos rezaram para que ele pudesse se livrar de sua miséria e pouco depois ele morreu também.”(Bonder, In A Cabala da Inveja)
Se quisermos aproximar mais essa história talmúdica para a nossa realidade, podemos dizer que Resh Lakishe, muitas vezes pode ser o arquétipo dos sentimentos e ligações que temos, que supomos conquistar, e assim temos por posse o outro, a ponto de querer dirigir-lhe a vida, dizendo o que pensar, o que ser, o que sentir, o que falar e toda sorte de tirania… Agimos por hábitos como gladiadores, por consideramos o amor e a amizade uma arena, e daquelas cheias de leões… com isso invadimos o território alheio, pois a área é o outro
E personificamos ao mesmo tempo o rabi Ionatan, doces na “conquista”, doces ao trazer o outro para próximo de nós, mas a qualquer sinal de descontentamento, pedrada à vista… e assim expulsamos o ser amado da nossa vida e tal como o rabi Ionatan, nos entristecemos, entramos de luto, enlouquecemos e morremos um pouco ou totalmente, ainda que por dentro.
Devemos ter muito cuidado com nossas inseguranças, por elas levam a rixa e em especial com quem mais amamos. Por isso que ser esperto, tem horas que não compensa nem um pouco… Nessas horas é melhor ser idiota, tolo, até mesmo ingênuo, de preferência cego, surdo e mudo e no máximo perguntar e esperar a resposta do outro e saber que a insegurança é sua e não dele.
Agora você me pergunta o que tem o fake haver com tudo isso? Nossa tem e muito, porque o fake revela o quanto se está preso, arraigado aquela pessoa q espionamos, a qual embora seja objeto de nosso amor, também o é de nossa mais profundo e absoluta insegurança e assim fuçamos tudo e como somos “espertos” ao primeiro “sinal” de algo errado partimos para o ataque, ou montamos mil e uma estratégias, porque além de espertos somos estrategistas, claro! Sem falar de toda sorte rede de camuflagem, da qual lançamos mão, por vezes… E aí criamos um teia de nós, que pouco a pouco mata o que há de mais belo no relacionamento, e vai tudo morrendo e minguando… Como numa zona de guerrilha. E assim ficamos tal qual essa música:
fazendo uma confusão e uma cacofonia que a outra pessoa não consegue entender, por mais que tente entender… Assim você corta a comunicação com outro, por fica inteligível as suas ações e a sua fala, bem como os seus desejos. Toda comunicação tem distorções, mas podemos mitigá-las, aliais é mister mitigá-las e desejos que não são bem expressados não podem ser ouvidos, quanto mais atendidos ou negados… Isso impede que outro lado entenda realmente, então isso obstruí a paz, a boa vizinhança,a s boas relações e claro ensurde qualquer ouvinte, para não dizer que cansa. Pense num belo som harmonico… e depois compare… você irá perceber a diferença…
Então você que bisbilhota o meu perfil no Orkut como fake desde 2006 que tal passar a perguntar diretamente para mim? Lágrimas tríplices tem cura sim, mas o preço da cura se paga com a ingenuidade. Por isso que eu não faço fake, não vou ao seu perfil, nem com o meu perfil, não pergunto sobre você aos outros, até porque nem sei se estarei preparada para ouvir o que você pensa a meu respeito, então se você tiver algo me dizer diga, quer perguntar pergunte. te falo como alguém que não liga de ser idiota as vezes, porque a idiotice e a ingenuidade tem horas que compensam e muito
Como já dizia sabiamente aquele ditado de vó: “o que os olhos não vêem, o coração não sente.”
Nilton Bonder - A Cabala da Inveja
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