domingo, 12 de junho de 2011

A idiotice compensa: o problema das lágrimas tríplices

Temos por hábito querermos ser mais espertos que todo mundo, isso acaba as vezes por nos levar direto ao inferno, porque ficamos espaçosos e inchados com toda sorte de sentimentos, em suma, engordamos a ponto de caminhar para a obesidade mórbida nas dimensões emocional e espiritual.
Somos todos gênios, brilhantes, inventamos fakes para bisbilhotar a vida alheia, procuramos saber das “coisas” dos outros sem perguntar direto a fonte e assim vamos colhendo toda sorte de informação distorcida, pra não falar toda sorte de boatos mesmo. E vamos nos alimentos e engordando até quase explodir, isso quando não explodimos de fato… Mas somos todos gente muito boa, muita bacana e muito decente… até “respeitamos” a privacidade alheia… quem bisbilhota são os fakes… ;) nossa mais que idéia mais genial, mais brilhante!!! Merecia um prêmio Nobel, pela maravilhosa solução dos controladores de transito emocional alheio. :)
Nisso acabamos por invadir o território alheio sem permissão e temos os pés pisados da mesma forma do que se déssemos a cara por lá, é isso mesmo, a própria cara. O anonimato de um fake não nos esconde por muito tempo,  é que nem fantasia de carnaval, não dá pra repetir no desfile do desfile do ano que vem… Então criamos múltiplos fakes, e assim multiplicamos ainda mais a confusão.  É o problema de ser esperto demais, somos tão, mas tão espertos que falamos o que não queremos, ouvimos o que não queremos, só pra descobrir o que o outro pensa realmente de nós, ou mesmo, a quantas anda a vida alheia. Sabe aquele velha fofoqueira que ficava atrás da cortina bisbilhotando a vida da vizinhança da rua jurando que ninguém a via atrás da cortina por causa da luz acesa? Pois é,  eis a melhor figura para descrever um fake de net.
Tentamos controlar tudo, especialmente controlar os outros, parecemos um bando de rádio patrulhas… e com direito a sirenes e etc. Mas aí eu me pergunto será que estamos realmente preparados pra conhecer o outro tal qual como ele se mostra ao mundo, em especial aquele mundo do qual não fazemos parte ? A resposta é nãoooooooooooooooooooooooooo. Se fizermos isso sairemos muito mais, mas muito mais machucados. Daí o título desse post: ser idiota compensa: o problema das lágrimas tríplices…
Vamos ao conceito de lágrimas tríplices…  porque como diz o rabino Bonder “ninguém se dá ao luxo de odiar de forma a estar em rixa sem que esteja fortemente vinculado ao objeto de seu ódio.” E eu esticando um pouco o raciocínio dele, digo: ninguém vigia, bisbilhota sem estar fortemente vinculado aquilo que é seu objeto de desejo. Isso é fundamental na compreensão de como surge e se desenvolve uma rixa. Daí o fato das rixas surgirem algumas vezes a partir de coisas tão banais. Ou como dizia o velho ditado: ninguém chuta cachorro morto. Isso significa que se aquela pessoa tá lá gastando o que ela tem de mais precioso: sua emoção e seu tempo com você é porque você tem algo que para ela é importante e ela quer e o quer de modo ardente. E quanto mais ela deseja, com mais ardor ela irá ataca-lo, então montará vigília em tempo quase integral, ou mesmo que de tempo em tempo, vira-volta ela está lá batendo na sua porta, nem que seja sob a forma de um fake, ou batendo a porta de seus amigos , tentando disfarçar a vontade de saber cada vez mais sobre você.  Pois é gente, ser esperto dá um tremendo trabalho!!! É como um rei se fantasiar de mendigo para passear ou para ir a um baile… :) Ainda bem que eu sou idiota ;)
Nesse campo a rixa se desenvolve pela “traição”, e aqui traição tem a plasticidade de um fluido.  Pode ser que você esperava ser mais amado, ops. na verdade você esperava ser alvo de veneração e idolatrado, como um ser perfeito e descobre que o objeto do seu amor, bom, sabe que você tem defeitos e pior fala deles. Isso fere você e fere tão profundamente que você será capaz de gritar de dor, ainda que internamente, um grito, forte e amargo e assim o  outro passa a ser objeto de raiva, de ciúme, pois passa a ser o símbolo do seu tesouro, daquilo que te importa, que pode ser um reles orgulho ferido, de não ser o cara perfeito… ;) Assim estamos em tríplice dimensão:
  • a dimensão do grito – diz respeito à dor da privação de algo desejado;
  • a dimensão forte – que se refere à intensificação da dor devido a personalidade específica que outro tem; e por fim
  • a dimensão amargo – que tem a ver com o questão da  proximidade e competitividade aumentar ainda mais a sua dor.
Através dessa estrutura temos o mapa de toda a estrutura do lado ofendido ou magoado. Isto significa que um grito de dor, mais uma lágrima quando tomados como pessoal cria a rixa e por sua vez instaura todo um círculo vicioso, pois é o instrumento mais poderoso para se iniciar uma rixa e o mais potente detonador do ódio. tem uma história talmúdica citada por Bonder que ilustra bem isso, a história de rabi Ionatan e resh Lakish, Lakish gladiador profissional que modificou toda a sua vida devido a amizade a rabi Ionatan. E assim começa a rixa deles:
Certa vez, o rabi Ionatan estava banhando-se no rio Jordão quando Resh Lakish passou pelo local. COmentou rabi Ionatan: ‘Toda esta força… antes pudesse ser devotada a Torá!’
‘Sua beleza’, replicou Resh Lakish, ‘deveria ser para as mulheres’. Disse então o rabino Ionatan: ‘Se você se arrepender e mudar de vida, permitirei que se case com minha irmã, que é ainda mais bela do que eu.’ Resh lakish mudou de vida, casou-se com a irmã do rabi Ionatan e passou a estudar com o cunhado, que lhe ensinou sobre os livros sagrados.
Em certa ocasião houve uma disputa na casa de estudos em relação a alguns utensílios – a espada, a faca, a adaga, a foice -, sobre se eram ou não considerados ritualmente puros. O Rabi Ionatan determinou que esses utensílios deveriam ser passados pelo fogo de um forno.
Resh Lakish determinou que o eram quando eram lavados com água.
O Rabi Ionatan imediatamente deixou escapar: ‘Um ladrão compreende bem seu ofício’  (referindo-se ao uso por Resh lakish destes utensílios em seu trabalho passado como gladiador).
Ao que Resh lakish respondeu com ódio: ‘E como você me ajudou? Lá (no circo romano) eu era chamado de mestre e aqui também’.
O Rabi Ionatan sentiu-se profundamente atingido (pela indicação de que não teria ajudado Resh Lakish) e recusou-se a perdoá-lo. Em razão disso Resh Lakish adoeceu e em seguida morreu.
O Rabi Ionatan entrou em depressão profunda… rasgando suas roupas e chorando intensamente: ‘Ondes estás tu, filho de Lakisha? Onde estás tu, filho de Lakisha?’ até que enlouqueceu. Os rabinos rezaram para que ele pudesse se livrar de sua miséria e pouco depois ele morreu também.”
(Bonder, In A Cabala da Inveja)
Se quisermos aproximar mais essa história talmúdica para a nossa realidade, podemos dizer que Resh Lakishe, muitas vezes pode ser o arquétipo dos sentimentos e ligações que temos, que supomos conquistar, e assim temos por posse o outro, a ponto de querer dirigir-lhe a vida, dizendo o que pensar, o que ser, o que sentir, o que falar e toda sorte de tirania… Agimos por hábitos como gladiadores, por consideramos o amor e a amizade uma arena, e daquelas cheias de leões… com isso invadimos o território alheio, pois a área é o outro ;)
E personificamos ao mesmo tempo o rabi Ionatan, doces na “conquista”, doces ao trazer o outro para próximo de nós, mas a qualquer sinal de descontentamento, pedrada à vista… e assim expulsamos o ser amado da nossa vida e tal como o rabi Ionatan, nos entristecemos, entramos de luto, enlouquecemos e morremos um pouco ou totalmente, ainda que por dentro.
Devemos ter muito cuidado com nossas inseguranças, por elas levam a rixa e em especial com quem mais amamos. Por isso que ser esperto, tem horas que não compensa nem um pouco… Nessas horas é melhor ser idiota, tolo, até mesmo ingênuo, de preferência cego, surdo e mudo e no máximo perguntar e esperar a resposta do outro e saber que a insegurança é sua e não dele.
Agora você me pergunta o que tem o fake haver com tudo isso? Nossa tem e muito, porque o fake revela o quanto se está preso, arraigado aquela pessoa q espionamos, a qual  embora seja objeto de nosso amor, também o é de nossa mais profundo e absoluta insegurança e assim fuçamos tudo e como somos “espertos” ao primeiro “sinal” de algo errado partimos para o ataque, ou montamos mil e uma estratégias, porque além de espertos somos estrategistas, claro! Sem falar de toda sorte rede de camuflagem, da qual lançamos mão, por vezes… ;) E aí criamos um teia de nós, que pouco a pouco mata o que há de mais belo no relacionamento, e vai tudo morrendo e minguando… Como numa zona de guerrilha. E assim ficamos tal qual essa música:
fazendo uma confusão e uma cacofonia que a outra pessoa não consegue entender, por mais que tente entender… Assim você corta a comunicação com outro, por fica inteligível as suas ações e a sua fala, bem como os seus desejos. Toda comunicação tem distorções, mas podemos mitigá-las, aliais é mister  mitigá-las e desejos que não são bem expressados não podem ser ouvidos, quanto mais atendidos ou negados… Isso impede que outro lado entenda realmente, então isso obstruí a paz, a boa vizinhança,a s boas relações e claro ensurde qualquer ouvinte, para não dizer que cansa. Pense num belo som harmonico… e depois compare… você irá perceber a diferença…
Então você que bisbilhota o meu perfil no Orkut como fake desde 2006 que tal passar a perguntar diretamente para mim? Lágrimas tríplices tem cura sim, mas o preço da cura se paga com a ingenuidade. Por isso que eu não faço fake, não vou ao seu perfil, nem com o meu perfil, não pergunto sobre você aos outros, até porque nem sei se estarei preparada para ouvir o que você pensa a meu respeito, então se você tiver algo me dizer diga, quer perguntar pergunte. te falo como alguém que não liga de ser idiota as vezes, porque a idiotice e a ingenuidade tem horas que compensam e muito ;)
Como já dizia sabiamente aquele ditado de vó: “o que os olhos não vêem, o coração não sente.”
Nilton Bonder - A Cabala da Inveja

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