Por Ruy Lopes Freitas
Não se turbe o vosso coração. Credes em Deus, crede também em mim. Há muitas moradas na casa de meu Pai; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito.
Vou preparar-vos o lugar. E quando eu for, e vos preparar o lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também.
(João, capítulo 14, versículos 1 a 3.)
À parte uma multidão de religiosos que se contentam com as respostas milenares do saber teológico-metafísico, repugna à razão de qualquer um imaginar que as incontáveis galáxias, cada uma delas contendo bilhões de estrelas, serviriam apenas para a simples e ociosa contemplação dos habitantes de um minúsculo grão de poeira, orbitando em torno de uma insignificante estrela, que seria pouco mais do que um pirilampo, se comparada a outras (Vy Canis Majoris, por exemplo, é 2000 a 3000 vezes maior que o Sol). A Classificação Espectral de Harvard, partindo da mais quente para a mais fria, lista as classes O, B, A, F, G, K e M, cada uma subdividida em 10 subclasses, de 0 a 9. O Sol seria uma G2, ou seja, algo como um nível 43, num total de 70 níveis.
Quando Jesus se referiu às muitas moradas da casa de Deus, a que estaria aludindo? Grande parte dos teólogos cristãos faz incríveis pirotecnias e piruetas retóricas, para explicarem algo que praticamente não precisa de interpretação. Há efetivamente muitas outras moradas, além da Terra.
Provavelmente, o infinito pulula de vida. Há mundos nos mais variados níveis, orbitando em torno de inumeráveis estrelas, desde os gasosos, inóspitos ou incandescentes, até aqueles que abrigam vida, não neces- sariamente semelhante às formas que estamos habituados a ver. É óbvio que os conhecimentos científicos acumulados na Terra estão muito distantes de pro- piciarem a coleta de indícios físicos disso. Afinal de contas, o homem só se deslocou pouco mais de um segundo, se considerarmos a velocidade da luz. Quando falamos de distâncias interestelares, estamos falando de anos-luz. A Lua, único corpo celeste pisado pelo homem, além da Terra, está a cerca de 384.400 de quilômetros de nós, ao passo que a estrela mais próxima de nós (além do Sol), a Proxima Centauri, está a 40.104.949.521.180 km, ou 4,242 anos-luz.
AS MUITAS MORADAS DO ESPÍRITO NA ERRATICIDADE
Os espíritos que desencarnam não se tornam melhores nem mais evoluídos, ao se desligarem do corpo físico. Alguns, ainda extremamente apegados à vida material, nem conseguem afastar-se do meio físico em que viveram. Outros, entretanto, têm aumentada sua percepção. Os de nível mais elevado podem percorrer o espaço interestelar.
Espíritos sobrecarregados de culpas não expiadas vagueiam pelas sombras, em lugares lúgubres, de acordo com a multidão dos seus erros e remorsos, em companhia de outros irmãos desarvorados. Os líderes empedernidos, condutores e ma- nipuladores de multidões de irmãos que preferem viver no atraso en- contrarão arremedos das instituições equivocadas que dirigiram na Terra e ali comandarão hordas de espíritos obsessores e obsidiados. Os que vivem fechados na solidão do seu egoísmo, evitando fazer o mal, mas ainda despreparados para o bem, encontrarão lugares ermos e uma solidão que parecerá infinita. Aqueles que se esforçam sinceramente para corrigir os erros que cometeram encontram lugares agradáveis e a companhia de irmãos interessados em apoiar seus esforços bem intencionados. Tais lugares são na verdade psicosferas, moradas das almas sem localização geográfica.
Mesmo os espíritos mais com- prometidos com o atraso e a violência nunca estão abandonados pela bondade divina, uma vez que irmãos mais evoluídos estão sempre em busca daqueles que, cansados de sofrer e de praticar o mal, pedem sinceramente ajuda.
AS MUITAS MORADAS PARA A REENCARNAÇÃO DOS ESPÍRITOS
Os inumeráveis mundos habitados têm diferentes níveis de evolução. Para fins meramente didáticos, a codificação espírita os classifica em cinco níveis:
Mundos primitivos, destinados às pri- meiras encarnações de espíritos que a- penas despertam para a consciência da própria cons- ciência. Ali predo- mina a selvageria, e a vida é pouco mais que instintiva;
Mundos de expiação e provas, onde o mal sobrepuja o bem. A Terra se situa nesse grupo, o que faz com que vivamos envoltos por tantas misérias morais e pelo triunfo freqüente do mal;
Mundos de regeneração, onde as almas que ainda têm o que expiar recobram novas forças e repousam dos cansaços da luta. Mal e bem ali se equilibram;
Mundos felizes, onde o bem supera o mal;
Mundos celestes ou divinos, habitados por espíritos purificados, onde o bem reina sem as sombras do mal.
DESTINAÇÃO DA TERRA. CAUSAS DAS MISÉRIAS HUMANAS
O estágio evolutivo do planeta Terra explica a predominância do mal e a frequência de mazelas, enfermidades, guerras e corrupção quase generalizada. Estudando nossa História, porém, vemos que no passado a maldade, a violência e a injustiça eram muito maiores e que a evolução intelectual é seguida (infelizmente de longe) pela evolução moral. Os hábitos e a legislação se abrandam, ao longo dos milênios de vida civilizada.
A origem da vida humana na Terra ainda não foi claramente identificada. Entre os 6 mil anos preconizados pela teologia judaico-cristã-muçulmana e os 4,4 milhões, até onde a arqueologia encontrou indícios da existência de hominídeos, ainda há um grande espaço de dúvidas.
Na aurora da humanidade, o homem levava uma vida meramente instintiva e ocupava todos seus dias na busca da sobrevivência. Convivia com a violência e a praticava contra seus irmãos, ainda sem uma idéia clara de bem e mal. A jornada evolutiva de cada um de nós está provavelmente permeada de violência e até de canibalismo. Mais tarde, no despertar das brumas da vida tribal para a aurora da vida civilizada, o homem passa a desenvolver hábitos mais condizentes com a vida em comunidade, ao passo que os códigos de leis vão gradualmente substituindo a força bruta como solução para os conflitos. Este seria provavelmente o momentum de transição do nosso planeta de mundo primitivo para mundo de provas e expiação.
A experiência individual de cada espírito, em suas jornadas reencarnatórias, varia ao infinito, de sorte que o processo civilizatório do planeta criou também ambientes em que incontáveis compromissos foram assumidos, a partir da multidão de erros e crimes que fomos cometendo, cada um de nós.
No entretempo, inteligências muitos superiores participaram desse processo, impulsionando o conhecimento e a tecnologia da humanidade. Os indícios remontam às cavernas, onde se encontram pinturas pré-históricas dignas de artistas do século XXI. Tornam-se mais fortes posteriormente, ora na construção de grandes monumentos, ora nas manifestações de filosofia extremamente superior à época em que surgiram. Ensina-nos a codificação espírita que foram obra de espíritos exilados de planetas que ascenderam a níveis mais elevados, por estarem detendo a marcha do progresso espiritual do planeta. Aqui vieram eles, não apenas reiniciar seu aprendizado, através dos duros meandros da dor, mas também auxiliar nosso processo civilizatório. São os grandes gênios da antiguidade, mas também os maiores tiranos. Isso talvez explique os aparentes mistérios de conhecimentos avançadíssimos de civilizações desaparecidas. Muitos deles evoluíram moralmente e se tornaram grandes mártires, que nos ensinaram as mais belas lições de fraternidade e fé no Criador. Muitos outros, tendo cumprido bem as duríssimas provas a que se submeteram, ganharam a oportunidade de reencarnar em planetas mais evoluídos, para se recobrarem. Outros talvez ainda se encontrem entre nós, alguns persistindo nos erros e entravando a rota evolutiva da civilização, outros propiciando-nos os maravilhosos avanços das ciências e das artes e da fraternidade.
Transcorridos milênios de história do- cumentada, aproxima-se o momento em que a Terra deverá passar, de mundo de expiação e provas, para outro estágio, de mundo de re- generação. Muitas religiões ociden- tais trazem esse conhecimento in- tuitivo. Isso deverá ocorrer ao lon- go do terceiro milênio. Os espíritos empedernidos que insistirem nos er- ros que retardam esse processo deverão ser exilados para outros mundos primitivos, para o duro reinício.