sábado, 18 de maio de 2013

O Crime da Rua da Cruz - Jury de Maria da Conceição


Verneck Abrantes
Verneck Abrantes*

O novo livro de Jerdivan Nóbrega remonta uma Pombal de 1883. A imaginar seus moradores a viver em uma cidade iluminada  a bicos de lamparinas e lampiões, com cadeiras nas calçadas, silenciosa e tranquila. De poucos recursos, água de cacimbas transportadas na cabeça de mulheres ou lombos de jumentos, parte das casas com portas fechadas nos dias da semana para só abrir nos finais de semanas, quando ocorriam os dias das feiras de ruas, missas, casamentos, batizados, ou
 novenário

A cidade em sua rotina imutável estava mais voltada para a zona rural. Na sua conformação urbanística, as ruas definidas: Rua do Comercio, Rua do Rio, Rua do Giro... Outras em formação. Eram próximo de 200 casas em seu perímetro urbano. Um pouco distante, a Rua de Baixo, mais distante ainda, a antiga Rua da Cruz. Denominação essa que se perdeu no tempo a sua razão de ser. Talvez, em um local ermo, a fixação de uma cruz perdida em seu espaço por um crime de morte, porque era assim o marco que se fazia na época.

A Rua da Cruz, não era propriamente uma rua, mas, um conjunto de casas espaçadas, nem sempre conjugadas, geralmente de taipa, sem nenhum conforto, simples, igualmente como as pessoas que ali viviam.  Analfabetos, de poucos recursos financeiros, disponíveis para eventuais trabalhos rurais ou domésticos. A Rua ficava, aproximadamente, um quilometro do centro da cidade, aonde se chegava por caminhos de terra batida, passando em meio à vegetação rala e árvores nativas de médio e grande porte, espaçadas.

Nas chuvas de inverno, muitos moradores aproveitavam os espaços disponíveis para plantar milho e feijão, como culturas de subsistência. Local bucólico, no entardecer, caia o silencio junto com a escuridão da noite.

Foi na síntese desse espaço que Jerdivan resgatou e traz a luz dos dias de hoje, a história fantástica de Maria da Conceição. Ela com 26 anos de idade, analfabeta, humilde, mãe solteira, moradora da Rua da Cruz, julgada, condenada por um crime de infanticídio, presa na velha Cadeia de Pombal e destino final incerto.  Um dos processos mais curiosos da criminalidade pombalense, por envolver aproximadamente 125 pessoas, entre tantas, aquelas que compunham a classe social mais alta da cidade.

Também, o livro é um achado histórico para quem tem interesse em genealogia ou ramificações dos seus antepassados. Em parte, aqui são evidenciados nomes e sobrenomes dos nossos ascendentes familiares, em citações a partir de 1883, em meio o inquérito policial em seu julgamento com ritos, quesito, requisitos, interrogatórios, despachos, testemunhas, conselho de sentença etc.

Jerdivan Nóbrega, como  advogado, deixa um legado importante na sua área de direito, como escritor, enriquece ainda mais a historiografia pombalense.
Nós só temos que agradecer a grandeza do seu trabalho.

*Escritor e Pesquisador pombalense.


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