Apesar dos maus bofes de Chateau- briand, os talentos acabavam dando com os costados nos Associados. Só depois que Freddy assumiu a direção de O Cruzeiro é que os leitores e os jornalistas perceberam como aquela revista, mesmo sendo a mais importante do Brasil, tinha sido tão inexpressiva até então. A capacidade de aglutinação de Freddy - que não escrevia bem, não fotografava, não diagramava, mas sabia montar equipes e descobrir talentos como ninguém - operou uma metamorfose sem paralelo na revista.
Foi Freddy, por exemplo, quem descobriu a faísca do gênio num garoto que desde 1938 trabalhava na redação colando letras. Quando não tinha o que fazer, o menino matava o tempo fazendo o que Freddy chamava de "rabiscar bonequinhos" em restos de papel. Um dia faltou uma reportagem de duas páginas na hora do fechamento da revista e ele resolveu, irrespon- savelmente, recorrer ao menino:
- Ô seu sacaninha! Você não gosta de desenhar? Então encha essas duas páginas aí com o que você quiser, enquanto nós vamos almoçar. Quando voltou do almoço Freddy se espantou ao ver as duas páginas (que o garoto batizara de ("Poste escrito") cobertas por desenhos de um humor surpreendentemente criativo para alguém que tinha pouco mais de catorze anos. Estava nascendo Emanuel Vão Gogo, pseudônimo sob o qual logo depois Millôr Fernandes criaria uma das marcas permanentes da história da revista, a seção humorística "O pif-paf". Nos primeiros números do "Pif-paf" Millôr fazia apenas o texto, ficando as ilustrações a cargo de Péricles (autor de outro personagem que permaneceria nas páginas de O Cruzeiro até depois da morte do autor: "O Amigo da Onça").
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