quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Há 45 anos, Dilma se tornava clandestina; locais por onde ela passou vão virar roteiro em BH

Casa na rua Itacarambi, bairro São Geraldo,
em Belo Horizonte, onde funcionava
o Colina (Comando de Libertação Nacional),
rupo guerrilheiro que combatia a ditadura militar
Carlos Eduardo Cherem 
Do UOL, em Belo Horizon
  • No início da manhã de 29 de janeiro de 1969, há 45 anos, policiais civis de Minas Gerais estouram o "aparelho" (esconderijo) do Colina (Comando de Libertação Nacional), grupo guerrilheiro que combatia a ditadura militar, na casa de número 120, na rua Itacarambi, bairro São Geraldo, em Belo Horizonte. Na véspera, os militantes do Colina assaltaram uma agência do Banco da Lavoura de Minas Gerais, em Sabará, região metropolitana de Belo Horizonte.
Houve intenso tiroteio entre os sete integrantes do grupo que estavam na casa –-Jorge Nahas, Maria José Nahas (sua esposa à época), Afonso Celso Lana Leite, Murilo Pinto Pezzuti, Júlio Bitencourt, Nilo Sérgio Macedo e Maurício Paiva-– e os policiais civis.
O subinspetor Cecildes Moreira Faria e o guarda-civil José Antunes Ferreira foram mortos. O investigador José Reis de Oliveira foi ferido. Os guerrilheiros foram presos. Alguns foram cobaias em aulas de tortura da ditadura militar.
Poucas horas após a queda do aparelho, a presidente Dilma Rousseff, 66, e o marido Cláudio Galeno, militantes do Colina, fogem do apartamento 1.001 do edifício Condomínio Solar, na avenida João Pinheiro, 85, zona central da capital mineira. Dilma entra na clandestinidade e passa a dormir cada noite em local diferente.
A residência do professor de origem búlgara Pedro Rousseff e da professora Dilma Jane da Silva, que não conheciam o grau de envolvimento de Dilma com as atividades do grupo, é vigiada pela polícia. Perseguido na cidade, o casal muda-se para o Rio de Janeiro. Dilma tinha 21 anos e havia concluído o segundo ano de economia na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
  • Carlos Eduardo Cherem/UOL
    Colégio Estadual Central, atual Escola Estadual Milton Campos, em Belo Horizonte, onde a presidente Dilma Rousseff estudou
"Tínhamos de tirar ela [Dilma] e o Galeno rapidamente dali. Eles não podiam mais ficar porque iam ser presos. (...) Nós não participávamos das ações de 'expropriações' [assaltos a bancos], ficávamos na retaguarda", diz o ex-militante do Colina Jurandir Persichini Cunha, 68. O ativista tinha 23 anos à época e cursava comunicação social na  UFMG.
O ex-guerrilheiro Jorge Nahas, 68, que participou do tiroteio da rua Itacarambi, diz que a Polícia Civil, quando empreendeu a operação, já havia avançado na condução das investigações sobre o Colina, e não restava outra alternativa aos militantes que estavam em liberdade a não ser entrar na clandestinidade.
"Eu fazia parte do grupo que executava as ações de guerrilha, sobretudo as 'expropriações' [assaltos]. A Dilma era do grupo responsável pelas ações políticas junto a estudante e trabalhadores. Mas a polícia havia estabelecido a relação dos dois grupos. Na ocasião, ela [Dilma] teve de entrar na clandestinidade senão seria presa", afirmou Nahas. Em 1969, ele tinha 23 anos e estudava medicina na UFMG.

Locais de resistência

A Belotur, empresa de turismo do município, está finalizando a elaboração de um roteiro de resistência ao regime militar em Belo Horizonte. Os locais que marcaram a militância de Dilma Rousseff na cidade foram identificados e mapeados para constarem do catálogo. A publicação será lançada em 31 de março, quando o golpe militar de 1964 completa 50 anos.
"É uma data emblemática para o lançamento da publicação que é um guia, com 16 roteiros de 'lugares de memória', que incluem 'locais de resistência', que têm relação com a história da presidente", afirma o presidente da Belotur, Mauro Werkema.
Além da casa da rua Itacarambi onde funcionou o aparelho frequentado pela presidente e o edifício Condomínio Solar, onde Dilma morou, o roteiro inclui ainda "locais de resistência", como o antigo Dops (Departamento de Ordem Política e Social), na avenida Afonso Pena, 2.351, bairro Funcionários, e o antigo Colégio Estadual Central, na rua Fernandes Tourinho, 1.020, bairro de Lourdes, onde Dilma estudou e iniciou sua militância política.

Troca de prisioneiros

A presidente Dilma Rousseff viveu na clandestinidade por 12 meses. Em 16 de janeiro de 1970, ela foi presa em São Paulo. Depois de ter sido torturada na prisão, foi libertada em 1973 e mudou-se para Porto Alegre.
No Rio Grande do Sul, terminou o curso de economia que havia interrompido, e construiu sua carreira política que levou-a a presidência, como a primeira mulher a governar o país.
Jorge Nahas foi libertado em junho de 1970, na troca de 40 prisioneiros pelo  embaixador alemão Ehrenfrid von Holleren, seqüestrado por guerrilheiros no Rio de Janeiro. Nahas viveu em Cuba até 1979, onde terminou o curso de medicina, e voltou ao país com a anistia.
Ele especializou-se em administração hospitalar e filiou-se ao PT. Foi coordenador de Gestão Hospitalar do Ministério da Saúde, superintendente da Fhemig (Fundação Hospitalar de Minas Gerais) e secretário municipal de Políticas Sociais de Belo Horizonte. Prestes a se aposentar, Nahas mora no Sítio Coxo D´Água, em Rio Acima, região metropolitana de Belo Horizonte.
Jurandir Persichini Cunha viveu poucos meses na clandestinidade e, novamente, foi preso e torturado. Mas conseguiu terminar o curso de comunicação na UFMG. Em 1970, tornou-se jornalista.
Cunha passou pelos principais órgãos de comunicação do país e, taxado de "comunista", enfrentou muitas dificuldades para manter-se no mercado de trabalho, até a redemocratização do país, na década de 1980. Na "Rede Globo", foi o responsável pela criação da extinta Olimpíadas do Operário, que dirigiu durante muitos anos.
Atualmente, trabalha na Controladoria Estadual de Minas Gerais e vai se aposentar brevemente.




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