Entre os dirigentes nacionais do
PSDB, José Serra tornou-se um tucano indefeso. Antes, era criticado por
priorizar um projeto presidencial que a maioria do partido rejeita. Agora, é
espicaçado por demorar em assumir um papel para o qual o comando da legenda
acha que ele está condenado: o de candidato a prefeito de São Paulo.
Entre o sábado de Carnaval e esta
segunda (20), o blog ouviu três integrantes da Executiva nacional do PSDB.
Batem em Serra à sombra, sob o compromisso do anonimato. Por que não assumem
publicamente as críticas? Um dos entrevistados produziu uma tentativa de
explicação: “Isso seria ruim para o partido e para o próprio Serra.”
Como assim? “Passaria a impressão de
que não desejamos a candidatura do Serra em São Paulo. O que não é verdade.
Mais do que querer, o partido torce para que ele represente o PSDB na eleição
de São Paulo. O que a gente critica são os métodos do Serra. Isso já cansou.
Ele tem de modificar sua maneira de fazer política.”
“Os dias passam e o Serra não dá uma
definição”, queixa-se outro mandachuva do PSDB federal, iluminando o ponto que
mais incomoda no estilo de Serra. “Todo mundo foi a ele. A todos o Serra disse
categoricamente que não seria candidato. De repente, surge a novidade que todos
suspeitavam que surgiria.”
Que novidade? “O Serra entrou na
segunda fase. Passou a dizer que aceita ser candidato. Mas só se tiver isso,
aquilo e aquilo outro. Mobiliza todo o partido. E só vai decidir no ultimo
minuto. Essa é a tradição dele. O problema é que esse modelo de ação desagrega
e desarruma o PSDB numa hora em que precisamos, mais do que nunca, de união e
organização.”
O terceiro entrevistado declarou que,
a essa altura, Serra já não tem “condições morais” de recusar a empreitada
municipal. Por quê? “As sucessivas negativas dele levaram o PSDB de São Paulo a
organizar uma prévia”. Refere-se à disputa interna marcada para 4 de março para
escolher um entre quatro pré-candidatos: José Aníbal, Bruno Covas, Ricardo
Trípoli e Andrea Matarazzo.
“Muito bem. Ao evoluir da negativa
para a admissão, o Serra pôs em dúvida as nossas prévias. Vamos fazer? Vamos
cancelar? Esse debate, enfraqueceu quem se dispunha a assumir a posição de
candidato. Como poderia o Serra, agora, dizer que não quer? Eu digo que não
pode. Digo mais: é bom que ele assuma a candidatura logo, antes dia das
prévias.”
O crítico de Serra conclui o
raciocínio: “Imagine o vexame que vai ser se o PSDB fizer as prévias, escolher
um candidato e, depois, para atender aos caprichos do Serra, tiver de forçar o
escolhido a renunciar à candidatura. Prévia é coisa séria. Não podemos fazer
uma disputa de mentirinha.”
Unidos na crítica a Serra, os tucanos
chegam a um consenso também ao analisar o potencial eleitoral do alvo. “Não
acho que o Serra seja imbatível em São Paulo, mas ele é o nosso melhor
candidato, não há como desconhecer”, diz um.
“Se nós perdermos em São Paulo, será
uma merda grande para o partido. Até por isso, temos de disputar com o nosso
quadro mais forte. Esse quadro é o Serra”, declara outro.
“Temos um problema de tempo de tevê
em São Paulo. Precisamos atrair rapidamente outros partidos para nossa
coligação. Esse problema será resolvido mais facilmente com o Serra do que sem
ele”, avalia o terceiro.
A despeito de toda a inquietação, os
dirigentes nacionais do PSDB não cogitam intervir na conturbada cena de São
Paulo. Considera-se que cabe ao governador tucano Geraldo Alckmin conduzir o
processo.
Josias de Souza
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