terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Vaivém de Serra irrita a cúpula do PSDB federal Vaivém de Serra irrita a cúpula do PSDB federal 83 Josias de Souza


Entre os dirigentes nacionais do PSDB, José Serra tornou-se um tucano indefeso. Antes, era criticado por priorizar um projeto presidencial que a maioria do partido rejeita. Agora, é espicaçado por demorar em assumir um papel para o qual o comando da legenda acha que ele está condenado: o de candidato a prefeito de São Paulo.

Entre o sábado de Carnaval e esta segunda (20), o blog ouviu três integrantes da Executiva nacional do PSDB. Batem em Serra à sombra, sob o compromisso do anonimato. Por que não assumem publicamente as críticas? Um dos entrevistados produziu uma tentativa de explicação: “Isso seria ruim para o partido e para o próprio Serra.”

Como assim? “Passaria a impressão de que não desejamos a candidatura do Serra em São Paulo. O que não é verdade. Mais do que querer, o partido torce para que ele represente o PSDB na eleição de São Paulo. O que a gente critica são os métodos do Serra. Isso já cansou. Ele tem de modificar sua maneira de fazer política.”

“Os dias passam e o Serra não dá uma definição”, queixa-se outro mandachuva do PSDB federal, iluminando o ponto que mais incomoda no estilo de Serra. “Todo mundo foi a ele. A todos o Serra disse categoricamente que não seria candidato. De repente, surge a novidade que todos suspeitavam que surgiria.”

Que novidade? “O Serra entrou na segunda fase. Passou a dizer que aceita ser candidato. Mas só se tiver isso, aquilo e aquilo outro. Mobiliza todo o partido. E só vai decidir no ultimo minuto. Essa é a tradição dele. O problema é que esse modelo de ação desagrega e desarruma o PSDB numa hora em que precisamos, mais do que nunca, de união e organização.”

O terceiro entrevistado declarou que, a essa altura, Serra já não tem “condições morais” de recusar a empreitada municipal. Por quê? “As sucessivas negativas dele levaram o PSDB de São Paulo a organizar uma prévia”. Refere-se à disputa interna marcada para 4 de março para escolher um entre quatro pré-candidatos: José Aníbal, Bruno Covas, Ricardo Trípoli e Andrea Matarazzo.

“Muito bem. Ao evoluir da negativa para a admissão, o Serra pôs em dúvida as nossas prévias. Vamos fazer? Vamos cancelar? Esse debate, enfraqueceu quem se dispunha a assumir a posição de candidato. Como poderia o Serra, agora, dizer que não quer? Eu digo que não pode. Digo mais: é bom que ele assuma a candidatura logo, antes dia das prévias.”

O crítico de Serra conclui o raciocínio: “Imagine o vexame que vai ser se o PSDB fizer as prévias, escolher um candidato e, depois, para atender aos caprichos do Serra, tiver de forçar o escolhido a renunciar à candidatura. Prévia é coisa séria. Não podemos fazer uma disputa de mentirinha.”

Unidos na crítica a Serra, os tucanos chegam a um consenso também ao analisar o potencial eleitoral do alvo. “Não acho que o Serra seja imbatível em São Paulo, mas ele é o nosso melhor candidato, não há como desconhecer”, diz um.

“Se nós perdermos em São Paulo, será uma merda grande para o partido. Até por isso, temos de disputar com o nosso quadro mais forte. Esse quadro é o Serra”, declara outro.

“Temos um problema de tempo de tevê em São Paulo. Precisamos atrair rapidamente outros partidos para nossa coligação. Esse problema será resolvido mais facilmente com o Serra do que sem ele”, avalia o terceiro.

A despeito de toda a inquietação, os dirigentes nacionais do PSDB não cogitam intervir na conturbada cena de São Paulo. Considera-se que cabe ao governador tucano Geraldo Alckmin conduzir o processo.
Josias de Souza

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