segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Exportações brasileiras para Síria diminuem devido a crise no país


Tariq Saleh
De Beirute, Líbano, para a BBC Brasil
Os negócios entre Brasil e Síria apresentaram uma queda desde o ano passado, após o início do levante popular contra o poder do presidente Bashar al Assad que gerou uma crise interna e uma onda de violência que tomou conta do país.
Em 2011, país vendeu US$ 181 milhões a menos para sírios do que em 2010
Junto a isso, sanções econômicas à Síria, impostas pelos países ocidentais, afetaram o crédito bancário sírio, enfraquecendo a economia e as relações comerciais com o exterior.
O Itamaraty informou à BBC Brasil que "em função da situação atípica na Síria, tem havido contração econômica geral no país, com impactos no comércio exterior sírio com todas as regiões do globo".

Ainda de acordo com a diplomacia brasileira, a situação econômica do país causou uma visível diminuição na exportação de produtos brasileiros.

Em 2010, o Brasil exportou US$ 547 milhões para a Síria, enquanto que em 2011, as exportações totalizaram US$ 366 milhões. Entre os produtos que ocupam o topo da pauta de exportações estão, café, soja e açúcar.

As importações brasileiras atingiram US$ 47 milhões em 2010 e US$ 45 milhões em 2011. O fluxo comercial Brasil-Síria saiu do patamar de US$ 500 milhões atingido em 2010 passadno para US$ 322 milhões em 2011.

Para Michel Alaby, presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, as exportações brasileiras ao país árabe foram afetadas pela dimimuição da demanda entre os empresários sírios, receosos com as sanções ocidentais, os conflitos armados e a violência que assola a Síria.

"Não temos tido tanto contato com empresários sírios. Acredito que deve haver dificuldades de negociar com a Síria diretamente no momento", disse Alaby.

Por terceiros

Segundo ele, mesmo com a violência e crise na Síria, os produtos brasileiros encontram meios de entrar no país de forma indireta.

"Por experiência, algumas empresas brasileiras têm vendido ao Líbano, e de lá, as mercadorias seguem para a Síria", explicou Alaby.

"Dá para dizer que há brechas e os sírios se valem disso para negociar".

Para ele, apesar da queda nas exportações, o Brasil ainda mantém um padrão de negócios já que a maioria dos produtos vendidos pelos brasileiros são matérias-primas ou commodities, como o açúcar, café, soja e milho.

Ele explica que a demanda por esses produtos continua em alta, mas com a escassez de crédito bancário e com o bloqueio imposto com as sanções pelos Estados Unidos e países europeus, algumas empresas sírias usam bancos chineses, russos ou libaneses para operar financeiramente suas vendas.

Em relação ao Brasil, o presidente da Câmara de Comércio disse que o ambiente para negócios também mudou consideravelmente por conta das sanções. O Brasil vem mudando o tom contra o governo sírio, declarando o desejo de que o regime ponha um fim à violência e à repressão no país.

"Não acredito que a Síria tenha fechado voluntariamente seu mercado ao Brasil em termos de comércio bilateral".

Para ele, os sírios têm interesse de manter sua população abastecida com alimentos e bens de primeira necessidade.

"Fechar o mercado brasileiro seria uma manobra arriscada para o governo, que enfrenta manifestações populares e que luta para manter a ordem. Um desabastecimento só aumentaria a crise nas ruas".

A violência na Síria, segundo estimativas das Nações Unidas em janeiro, já deixou 5,4 mil pessoas mortas. Mas ativistas declaram que o número de mortos já passa dos 7,3 mil.

O governo sírio restringe o acesso de jornalistas estrangeiros ao país dificultando a confirmação de dados de forma independente.


Apesar de crise, brasileiros que vivem na Grécia evitam 'abandonar o barco'


Rodrigo Pinto
Da BBC Brasil em Londres
Aumentos de impostos, sucessivas altas nas tarifas de serviço público, corte de pensões e salários, demissões e medo do dia de amanhã. Tudo isso faz parte das experiências da comunidade brasileira na Grécia.
Roberta foi para Grécia em busca de trabalho e não quer voltar, apesar da crise
Relatos dos residentes dão a dimensão 
do 
aprofundamento da situação no país, símbolo maior da mais grave crise da zona do euro.
Apesar das dificuldades, os brasileiros vivendo na Grécia alegam que as boas relações com os gregos, que os receberam quando a crise era no Brasil, pesam a favor da permanência dos imigrantes. Não é hora, dizem, de abandonar o barco.


A vivência na antes turbulenta economia brasileira ajuda a dar fôlego para superar o mau momento.


Apesar da crise, a manicure Roberta de Souza Raimundo, na Grécia há 11 anos, não pensa em regressar ao Brasil. "Enquanto eu puder, vou ficar e apoiar, porque me receberam muito bem em uma época que não havia oportunidade no Brasil", conta ela.


Roberta cursou faculdade de Hotelaria, foi para a Grécia de férias, ficou 4 anos ilegal no país, casou-se e acabou se profissionalizando como manicure, atividade da tia, Márcia de Souza Batista que morou na Grécia por 18 anos. "Eu gostei tanto daqui que aprendi o idioma em três meses", lembra.


"Mas, como os gregos têm dito ultimamente, teremos que aprender a viver com menos. Para nós brasileiros, nascidos na crise, este não chega a ser um grande problema", acrescenta.


Muitos de seus clientes Roberta herdou da tia, Márcia, que com o marido desempregado há meses e a clientela reduzida a 50%, não viu outra saída a não ser deixar a Grécia.


Motivada pelo bom momento da economia brasileira Márcia resolveu fazer o caminho de volta. Hoje ela mora em São Paulo, onde abriu uma lanchonete com o marido.


"Fui para a Grécia porque o Brasil estava em crise", conta ela. "Estamos indo bem. Embora eu sinta dó dos gregos, acho que saí na hora certa", avalia.


'Aprender a viver com menos'


De acordo com a Embaixada Brasileira na Grécia, há aproximadamente 3 mil brasileiros no país. A maior parte deles, mulheres casadas com trabalhadores do poderoso setor de navegação do país mediterrâneo.


Há também filhos de gregos nascidos no Brasil que optaram pela vida na Europa, jogadores de futebol, dançarinos e capoeiristas. "A maior parte dos brasileiros que residem aqui não tem qualificação superior, a exceção de médicos e trabalhadores do setor de turismo", diz o primeiro secretário da Embaixada, Gustavo Bezerra.


"Há, ainda, muitas mulheres que trabalham como faxineiras e manicures", acrescenta ele, destacando dois segmentos que costumavam atrair muitas brasileiras.


Há 18 anos em Atenas, Viviane Fiorentino se emociona ao falar da crise. Dona de um spa para pés e mãos, viu a clientela encolher 70% e teve que dispensar quatro dos cinco funcionários. Mas afirma que vai esperar mais dois anos antes de tomar a decisão de voltar ao Brasil.


"Minhas amigas gregas não têm como sair. Elas sempre dizem que vamos superar este momento juntas...(chora) Desculpe, isso me emociona muito. Minhas amigas são muito solidárias, como é todo o povo aqui. Tenho uma gratidão enorme, porque me receberam bem quando eu mais precisava. Este é um povo carinhoso que não me deixa sentir saudade do amor brasileiro. Enquanto minhas economias durarem, eu fico", diz, com voz embargada.



Laços de família

Assim como Roberta e Viviane, outros que criaram laços e família no país acabam fazendo com que a comunidade brasileira continue crescendo. "Há brasileiros deixando o país, mas o número de certidões de nascimento que emitimos em 2011 foi 50% maior do que em 2010, chegando a 97. Ou seja, a comunidade deve até crescer", diz o diplomata Gustavo Bezerra.
Com uma taxa de desemprego de 20% e a miséria batendo à porta (19% dos gregos já se encontram nesta condição, de acordo com a Eurostat, agência europeia de estatística), nem sempre o coração fala mais alto.

"Vamos lutar para ficar. Agora, se a situação se tornar muito difícil, não dá para ficar com sentimentalismo"
Isabel Cardoso de Brito, professora


Funcionária pública (setor que sofre com cortes salariais), mãe de dois filhos e residente em Atenas há 26 anos, Isabel Cardoso de Brito lembra que o Brasil está em um bom momento, mas ainda tem enormes problemas, como altos índices de criminalidade.
"Não quero sair da Grécia por conta da crise. Sairia por opção", afirma ela, professora da rede pública de ensino grega. "Vamos lutar para ficar. Agora, se a situação se tornar muito difícil, não dá para ficar com sentimentalismo", pondera.




Depois de dez anos, brasileiros deixam topo do ranking de criminalidade estrangeira no Japão



Polícia da província de Aichi promove palestras, com tradução em português, sobre drogas e prevenção da criminalidade em escolas brasileiras (Foto: Daniel Gimenes/Arquivo Pessoal)
Polícia local faz palestras, traduzidas ao português, sobre drogas e criminalidade em escolas brasileiras (Foto: Daniel Gimenes/Arquivo Pessoal)
Há cerca de um ano, o brasileiro André Ryuji Abe Lage, 14, e um grupo de amigos foram detidos pela polícia por atos de vandalismo – eles picharam muros e quebraram vidros da janela de um prédio na cidade de Ikeda, província de Gifu, região central do Japão.
Como ainda tinha 13 anos na época, ele não foi a julgamento. Mas recebeu como punição seis meses de visitas periódicas, junto da família, a uma clínica psicológica.

André não entrou para as estatísticas policiais. Mas poderia se não fosse a intervenção dos pais, professores e até da própria polícia.
"Entendi que o que estava fazendo era algo errado e que poderia cometer crimes mais graves no futuro", contou o jovem à BBC Brasil.
Segundo dados divulgados pela Agência Nacional de Polícia, no primeiro semestre de 2011, 54 jovens brasileiros entre 14 e 19 anos de idade foram julgados no Japão.
Dentre os crimes, um foi considerado hediondo, 34 foram furtos e o restante foi classificado como envolvimento com drogas.
No mesmo período, segundo registros, entre mais de 90 mil menores detidos em todo o Japão, 360 eram estrangeiros.
O número, apesar de ser muito pequeno em relação aos infratores japoneses, é representativo por ser o menor em dez anos.
Durante uma década, de 2001 a 2010, os brasileiros lideraram o ranking de delinquência juvenil por nacionalidade, à frente de chineses e coreanos.
Em 2002, ano em que a curva de criminalidade brasileira atingiu seu ápice, 406 adolescentes brasileiros foram alvo de inquérito policial.
Desde então, o número foi caindo ano a ano. No primeiro semestre de 2010, por exemplo, um total de 81 jovens brasileiros foi levado a julgamento.

Crise Econômica

Juventude Perdida

Número total de prisões de jovens entre 14 e 19 anos no Japão:
1995 - 126.249
2000 - 132.336
2005 - 123.715
2007 - 103.224
2008 - 90.966
2009 - 90.282
2010 - 90.844
Por idade, em 2010:
14 e 15 - 41.486
16 e 17 - 32.212
18 e 19 - 16.584

Mas a maior queda aconteceu após a crise econômica de 2008/2009, quando mais de cem mil brasileiros voltaram para o Brasil.
Em 2007, havia 316.967 brasileiros residentes no Japão. Em 2009, o número caiu para 297.456 e, segundo os últimos dados do governo, reduziu-se ainda mais em 2011, totalizando 215 mil brasileiros.
Segundo dados de 2006, havia 18.150 brasileiros com idade entre 15 e 19 anos no Japão. Esse número caiu para 10.326 em 2010.
No entanto, para Angelo Ishi, sociólogo e professor da Universidade Musashi, não se pode limitar a causa da queda no número de delitos cometidos por jovens brasileiros à redução populacional.
"Um número maior de pais se conscientizou sobre a necessidade de se comunicar mais com os filhos, e também de monitorá-los", sugeriu o estudioso à BBC Brasil.
"Outra explicação é de que os jovens perceberam que a polícia japonesa é extremamente eficiente para prender quem comete um crime."
Na foto, ônibus equipado com mostruários de drogas e seus efeitos no corpo humano (Foto: Daniel Gimenes/Arquivo Pessoal)
Ônibus leva material que tenta alertar para efeitos das drogas no corpo humano (Foto: Daniel Gimenes/Arquivo Pessoal)
Maria Shizuko Yoshida, 59, presidente da Associação das Escolas Brasileiras no Japão (AEBJ), lembra também que o tempo médio de permanência do brasileiro no país aumentou em relação ao passado, o que facilitou a adaptação à sociedade japonesa.
"Sentir-se mais inserido significa entender melhor as regras, os costumes e a cultura e dominar melhor o idioma falado no país", explicou.
Outros fatores, como programas de reinserção escolar do governo japonês, prevenção de crimes pela polícia japonesa e projetos de organizações sem fins lucrativos também contribuíram para a queda.
"Todos os projetos, tanto os de iniciativa pública como privada, contribuíram de alguma forma. Se não foram capazes de ajudar diretamente a queda, no mínimo, serviram para prevenir um possível aumento na delinquência e criminalidade", lembrou Ishi.
Causas
A religiosa Yoshico Mori faz, há mais de dez anos, visitas mensais ao Reformatório de Kurihama, na província de Kanagawa, lugar que já chegou a abrigar mais de 30 brasileiros em meados da década de 2000.
"Hoje, graças a Deus, tenho apenas dois jovens para visitar por mês", disse aliviada.
Num caso recente, ela ajudou um jovem de 19 anos, recém-saído do reformatório, e que estava sendo deportado. O rapaz foi encaminhado para um albergue em São Paulo, que o ajudou a conseguir emprego.
"Ele teve mais de cinco pais diferentes durante sua vida e, no tempo em que ficou preso, a mãe não o visitou e nem quis ajudá-lo na volta ao Brasil", lamentou Yoshico.
Para a voluntária, que criou o Serviço de Assistência aos Brasileiros no Japão (Sabja) em 1998, a principal causa da criminalidade juvenil brasileira no país é justamente a desestruturação familiar.
"Muitos vieram para o Japão pensando apenas no trabalho e no dinheiro e acabaram deixando a família em segundo plano", opinou.
Ishi concorda. "Muitos pais taparam o sol com a peneira ao acreditar que o fato de deixarem as crianças sob cuidados de terceiros, ou pior, longe do olhar de qualquer adulto, não traria consequências graves."
Ele explica que a sociedade japonesa gira em torno do ambiente escolar. "Então a criança tem de encontrar seu espaço na escola ou ela fica literalmente deslocada, marginalizada do sistema."
E o sociólogo vai mais longe. Para ele, todos têm a sua parcela de culpa. "O governo japonês também não criou uma política migratória abrangente ao abrir as portas para os brasileiros em 1990, ou seja, fingiu não estar enxergando que os decasséguis tinham filhos e que precisavam de educação como qualquer outra criança."
Maioridade Penal
No final de 2001, o Parlamento japonês aprovou um projeto de lei que reduziu de 16 para 14 anos a idade mínima a partir da qual um jovem pode ser considerado criminalmente responsável.
A revisão da lei, originalmente promulgada em 1949, representou uma grande mudança em relação ao objetivo inicial de reabilitar os infratores juvenis, mais do que puni-los.
A modificação foi feita após uma série de crimes brutais que marcaram a sociedade japonesa, todos cometidos por adolescentes. Naquele ano, um estudante de 17 anos matou a mãe a golpes de raquete.
Um mês antes, outro jovem de 17 anos, doente mental, sequestrou um ônibus e matou uma passageira idosa a facadas.
Mas o crime mais marcante aconteceu em 1997, quando um garoto de 14 anos matou um colega de 11. Depois, ele o decapitou e pendurou a cabeça no portão da escola onde estudavam.
Na comunidade brasileira, um dos crimes mais marcantes foi o que envolveu o jovem Herculano Lukocevicius, de 14 anos, espancado até a morte por um grupo de jovens japoneses em outubro de 1997.





EUA: crescem os "acampamentos da miséria"

 A BBC visitou nos Estados Unidos alguns acampamentos de sem-teto, cada vez mais numerosos no país desde o início da crise econômica que explodiu em 2008.
Da BBC Brasil
Dados oficiais apontam que cerca de 47 milhões de americanos vivem abaixo da linha pobreza e este número vem aumentando. 


Atualmente há 13 milhões de desempregados, 3 milhões a mais do que quando Barack Obama foi eleito presidente, em 2008. 



Algumas estimativas calculam que cerca de 5 mil pessoas se viram obrigadas nos últimos anos a viver em barracas em acampamentos de sem-teto, que se espalharam por 55 cidades americanas. 



O maior deles é o de Pinella Hope, na Flórida, região mais conhecida por abrigar a Disney World. Uma entidade católica organiza o local e oferece alguns serviços aos habitantes, como máquinas de lavar roupa, computadores e telefones. 



Muitos acampamentos são organizados e fazem reuniões para distribuição de tarefas comunitárias. Para alguns com poucas perspectivas de encontrar trabalho, as barracas são habitações semi-permanentes. 



Mofo



Várias destas pessoas tinham vidas confortáveis típicas de classe média até pouco tempo atrás. Agora deitam sobre travesseiros tão mofados quanto suas cobertas, em um inverno no qual as temperaturas baixam a muitos graus negativos. 



"Esfregamos literalmente nossos rostos no mofo toda noite na hora de dormir", diz Alana Gehringer, residente de um acampamento no Estado de Michigan, ao programa Panorama da BBC. 



O agrupamento de 30 barracas se formou em um bosque à beira de uma estrada, no limite do povoado de Ann Arbor. Não há banheiros, a eletricidade só está disponível na barraca comunitária onde os residentes se reúnem ao redor de uma estufa de madeira para espantar o frio. 



O gelo se acumula nos tetos das barracas e a chuva frequentemente as invade. Mesmo assim, cada vez pessoas querem morar ali. 



A polícia, hospitais e albergues públicos ligam com frequência perguntando se podem enviar pessoas ao acampamento. 



"Na noite passada, por exemplo, recebemos uma ligação dizendo que seis pessoas não tinham vaga no albergue. Recebemos de 9 a 10 telefonemas por noite", diz Brian Durance, um dos organizadores do acampamento. 



A realidade dos abrigados da Flórida e de Michigan é a mesma em vários lugares. 



Na segunda-feira, Obama revelou planos de aumentar os impostos sobre os mais ricos. "Queremos que todos tenham uma oportunidade justa." 



O presidente norte-americano mencionou os que "lutam para entrar na classe média". Em Pinella's Hope, em Arbor e em outros dezenas de locais no país, além dos que querem entrar na classe média, há os que foram expulsos dela pela crise e que desejam voltar.