Desestabilização política na Venezuela, crise econômica na Argentina e coquetel de protestos, Copa do Mundo e ano eleitoral no Brasil. Lula e Mujica têm muito a esquadrinhar
Lula e Mujica se encontram para reler mapa da esquerda na América do Sul (Foto: Instituto Lula)
O centro dos problemas está na Venezuela. Desastradamente, o governo de Nicolás Maduro reagiu com violência desleal a protestos universitários surgidos três semanas atrás, com espancamentos, humilhações e dezenas de prisões sobre manifestantes. Conseguiu, assim, criar uma uma onda nacional diária de solidariedade e descontentamentos. Somados à crise econômica no país, os atos que se sucedem contra o governo contribuem para a deterioração do cenário, que se ressente, pela ótica bolivariana, da falta de liderança de Hugo Chávez e da inabilidade administrativa do atual presidente.
Ali, três diplomatas americanos foram expulsos do país, acusados de conspiração, e têm até esta terça-feira 18 para deixar Caracas.
Raúl Castro, em Cuba, tem o destino econômico de sua revolução bastante dependente da Venezuela.
No extremo, do outro lado do rio da Prata, Lula e seu anfitrião Mujica têm para analisar o recrudescimento da crise econômica e cambial da Argentina, com reflexos diretos para o comércio dentro do Mercosul. Se, politicamente, o quadro não tem parelalo com o da Venezuela, a perda de importância econômica do país governado por Cristina Kirchner é dada como irreversível.
Após o sucesso do golpe congressual no Paraguai e a volta da influência dos EUA nesse país geograficamente central do Cone Sul, os dois líderes esquerdistas Lula e Mujica podem avaliar de que contam apenas com suas próprias forças para sustentar a bandeira das causas sociais.
No Chile, a nova presidente Michele Bachelet, do Partido Socialista, tem tantos problemas econômicos a administrar, e também muitos compromissos com as classes estudantil e trabalhadora, que dificilmente terá tempo para liderar a esquerda latino-americana. Evo Morales, da Bolívia, mais divide do que une, e Rafel Corrêa, no Equador, provou-se um bravateiro de baixa repercussão.
Na agenda pública, a liderança da Unasul figura como um dos pratos fortes do jantar desta noite. O presidente uruguaio gostaria de ver seu colega brasileiro dar alguma organicidade à reunião de países da região não alinhados aos Estados Unidos. Mas, envolvido na eleição presidencial brasileira, Lula deverá preferir continuar com seu papel de referência à distância do que assumir tarefas de dia a dia diplomático, é claro.
Valerá o encontro para uma releitura do quadro da esquerda na América do Sul. Fazendo-se a projeção não irreal de permanente instabilidade ou final antecipado do governo chavista da Venezuela, quer por golpe militar, chicana constitucional ou pressão social, o bloco esquerdista sul-americano perderá sua segunda maior potência econômica.
Abaixo, notícia da Agência Brasil a respeito:
Presidente do Uruguai recebe Lula para analisar situação da América do Sul
Da Agência Brasil* Edição: Davi Oliveira
O presidente do Uruguai, José Mujica, vai receber hoje (17) o ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva, com quem irá analisar a situação atual da América do Sul e o papel da União de Nações Sul-Americanas (Unasul). Em nota, o Instituto Lula informou que o ex-presidente será recebido em jantar no palácio presidencial do Uruguai.
Nesta segunda-feira, a imprensa uruguaia publicou uma entrevista na qual Mujica diz que Lula tem todas as condições para assumir a liderança da região.
Sempre pensei que Lula deveria ter muito que ver com o processo de integração da Unasul, porque era a figura mais indicada. Contudo, ele sempre pensou que, por ser brasileiro, se atribuiria ao Brasil uma visão dominadora”, explicou o presidente uruguaio.
Além do tema da Unasul, a pauta do encontro inclui a negociação em curso entre Mercosul e União Europeia e também a necessidade de se ajustar uma séria de políticas complementares que estão em marcha.
A visita de Lula também servirá para que Mujica apele aos bons ofícios do ex-presidente em questões bilaterais, especialmente às vinculadas à possível instalação de empresas brasileiras no Uruguai e ao término da integração elétrica entre os dois países.
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