Por Francisco Frassales Cartaxo
Imagem meramente ilustrativa |
Cocada era um bandido chegado a “perversões de ordem moral. Bíblia em
mãos, forçava mulheres a fazerem um juramento. O conteúdo da promessa era a
entrega do próprio corpo ao cangaceiro. Dessa forma, o astuto deflorador agia
desde razoável lapso de tempo”. Assim, o juiz de direito Sérgio Dantas resumiu
o perfil de Manoel Marinho, o Cocada, que atuou no final do século 19 e início
do século 20, integrado ao bando do famoso cangaceiro Antônio Silvino. Como se
nota, Cocada era um tarado.
Manoel Marinho, o Cocada, nasceu por volta de 1866, no lugar chamado
Guarita, do município de Itabaiana, quase na divisa da Paraíba com Pernambuco.
No cangaço foi uma figura menor e tinha conduta muito diferente da de Antônio
Silvino (foto). Este pautava sua ação bandoleira seguindo alguns princípios morais,
costumava respeitar as famílias de suas vítimas, naquele mundo de violência,
brutalidade policial, assalto, roubo, perversidade, mortes chocantes, deixando a população de vasta área do
Nordeste em permanente clima de insegurança, medo e terror.
Certa vez, uma ordem do chefe Antônio Silvino para molestar viajantes,
perto do povoado de Mogeiro, gerou desavenças entre seus homens e colocou os
cangaceiros Rio Preto e Cocada em posições con- flitantes, em atitude de insubordinação. Algo inaceitável no cangaço. Por isso, Cocada teve de formar um
subgrupo autônomo. Não se tornou, porém, inimigo de Silvino, tanto que a ele se
juntava quando da execução de importantes ações criminosas, aliás, uma prática
comum a todas as fases da história do cangaço. Cocada liderou seu pequeno grupo
durante três a quatro anos, adquirindo fama de perverso a aterrorizar
lugarejos, fazendas e engenhos.
Cocada terminou vítima de suas perversões. Conta o juiz-escritor Sérgio
Dantas que, em fins de novembro de 1907, ele “tentou desvirginar uma das filhas
de seu companheiro, José Félix Pacheco, o Pinica-pau. A atitude, claro, foi
desaprovada pelo próprio Félix e demais homens do bando.” Que fizeram então?
“Armaram uma cilada para Cocada e em lugar seguro o mataram com trinta e cinco
facadas. Ao fim do trucidamento lhe arrancaram uma orelha e guardaram como
troféu e prova da façanha”.
Que fim teve a orelha de Cocada?
Ainda segundo o juiz Sérgio Dantas, “Quando presos, posteriormente, os
cangaceiros envolvidos na morte de Cocada entregaram a orelha do bandido à
Polícia de Timbaúba. O capitão Filadelfo Dutra a colocou em um frasco de álcool
e deixou o bizarro troféu à vista da legião de curiosos que acorreu à
Delegacia.” Esta é uma das versões para a morte de Manoel Marinho. Existem
outras. Por exemplo, ele teria morrido após troca de tiros com a polícia, nas proximidades de Serrinha, hoje cidade
de Juripiranga. Outra versão, fantasiosa, fala em morte por causa de problemas
intestinais graves pela ingestão excessiva de abacaxi...
Obtive esses dados no livro “Antônio Silvino – o
cangaceiro, o homem, o mito”, de Sérgio Augusto de Souza Dantas, juiz de
direito em Natal, sua terra. O autor já publicou mais dois livros: “Lampião e o
Rio Grande do Norte – a história da grande jornada” e “Lampião entre a espada e
a lei”. A segunda edição da biografia de Antônio Silvino foi publicada em
Cajazeiras, em 2012, pela Editora e Gráfica Real. Sem dúvida, um motivo a mais
para ler o bem fundamentado estudo do juiz Sérgio Dantas.
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