sábado, 28 de dezembro de 2013

Água fria nos pessimistas: superávit fiscal é recorde


O governo federal acaba de divulgar um número que derruba o último pilar do terrorismo econômico, focado no chamado descontrole dos gastos públicos; superávit primário (que mede receitas menos despesas, antes dos gastos com juros) registrado em novembro ficou em R$ 28,8 bilhões; número é recorde e eleva o saldo acumulado do ano a R$ 62,4 bilhões; “É o melhor resultado da série e mostra o que vínhamos falando antes: que iríamos cumprir a meta de R$ 73 bilhões. Estávamos corretos", disse o secretário do Tesouro, Arno Augustin; vitória também do ministro Guido Mantega, que vinha sendo atacado pela suposta "contabilidade criativa".
Brasil 247: o seu jornal digital 24 horas por dia, 7 dias por semana
Os colunistas econômicos do País e seus gurus precisarão de um novo argumento para atacar a gestão da economia no governo Dilma. Primeiro, previram o apagão, que não aconteceu. Depois, o descontrole inflacionário – e o IPCA fechará o ano dentro da meta. Por último, o ataque foi concentrado na chamada "contabilidade criativa" e no descontrole da política fiscal. O número que acaba de ser divulgado em novembro, do superávit primário recorde, derruba o último pilar do terrorismo econômico.

Abaixo noticiário da Agência Brasil:
Daniel Lima
Repórter da Agência Brasil


Brasília – O Governo Central (Banco Central, Previdência Social e Tesouro Nacional) registrou resultado recorde, com superávit de R$ 28,8 bilhões em novembro. No acumulado do ano, o resultado chega a R$ 62,4 bilhões, o que corresponde a alta de 3,7% na comparação com o registrado no mesmo período de 2012, quando ficou em R$ 60,204 bilhões.

O superávit primário é a economia de recursos para pagar os juros da dívida pública. O esforço fiscal permite a redução, no médio e no longo prazos, do endividamento do governo.

O resultado de novembro também é muito maior do que o registrado em outubro, quando ficou em R$ 5,6 bilhões. A meta ajustada para o Governo Central é de economizar R$ 73 bilhões em 2013. Ou seja, o governo precisa de mais R$ 10,582 bilhões para cumprir o que estabeleceu.

Ao comentar o resultado, o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, disse que o resultado indica que em 12 meses o superavit primário do governo central já está em R$ 9,5 bilhões. “É o melhor resultado da série e mostra o que vínhamos falando antes: que iríamos cumprir a meta de R$ 73 bilhões. Estávamos corretos.”

Só a receita bruta do Tesouro Nacional apresentou crescimento de 34,6% na comparação com outubro. O motivo foi o pagamento do parcelamento de débitos atrasados, como o Refis da Crise, e o recebimento de Bônus de Assinatura de Contrato de Concessão de Petróleo e Gás, do Campo de Libra.

O resultado era esperado pois o leilão do Campo de Libra, na Bacia de Santos, e a abertura de parcelamentos especiais de dívidas com a União serviram como forma de reforçar o caixa. Augustin chegou a antecipar que os dois últimos meses de 2013 registrarão resultados históricos, de dois dígitos.

Logo mais, às 15 horas, o Banco Central divulgará o resultado de todo o setor público brasileiro, que inclui estados, municípios e estatais regionais.

Augustin também previu que a meta será cumprida em 2013 e 2014. Leia abaixo:



Meta de superávit primário será atingida em 2013, diz Augustin

Daniel Lima
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O Governo Central (Banco Central, Tesouro Nacional e Previdência Social) deverá cumprir o meta de superávit primário de 2013 anunciou hoje (27) o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin. Segundo ele, os dados disponíveis já demonstram que a meta será alcançada. A meta ajustada para o Governo Central é de uma economia de R$ 73 bilhões em 2013. Ou seja, o governo precisa de mais R$ 10,582 bilhões para cumprir o que estabeleceu.

“Em dezembro, a nossa estimativa é que a meta possa ser cumprida. Nós ainda temos um dia forte de arrecadação. Mas todos os números que temos mostram o cumprimento da meta em 2013”, disse. Os números apresentados por Arno Augustin indicam que, em 12 meses, o superavit primário do governo central já está em R$ 90,5 bilhões, o melhor resultado para o período.

O otimismo de Arno Augustin tem que ver com o resultado recorde de novembro: o superávit primário ficou em R$ 28,8 bilhões. Segundo ele, os números refletem melhoria nos fundamentos econômicos do Brasil. Ele disse que a arrecadação crescendo, independentemente da receita extra do Refis da Crise e do Campo de Libra.

“Estimamos em dezembro e em janeiro um resultado fiscal muito positivo. Na medida em que as receitas forem regularizadas, elas tendem a ter um comportamento melhor nos próximo meses também”, disse.

Para 2014, o secretária tem uma boa expectativa, independentemente de ser um ano eleitoral. Augustin explicou que levantamento do Tesouro mostra que mesmo nestes períodos não há descontrole no gasto dos recursos. Podem existir eventos atípicos, como fatores climáticos, mas os controles são rígidos para impedir o uso desordenado de recursos públicos.

“Temos em 2014 um ano de consolidação fiscal e vemos que a melhoria da economia está se traduzindo em melhoria de receita. Isto vai ser aprofundar em 2014. A nossa expectativa para 2014 é positiva", disse. Segundo ele, esta perspectiva significa consolidação fiscal permitindo que o Brasil possa ter, no ano que vem, uma continuidade de investimentos importantes em infraestrutura.


Logo mais, às 15 horas, o Banco Central divulgará o resultado de todo o setor público brasileiro, que inclui estados, municípios e estatais regionais.






Programas como Mais Médicos e Minha Casa poderão ser monitorados pela internet

RENATA AGOSTINI
DE BRASÍLIA 

O governo tornará público a partir de janeiro do ano que vem dados de programas como Mais Médicos e Minha Casa, Minha Vida, afirmou  a ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil).

As informações dos projetos, como informações dos profissionais de saúde enviados a cada cidade ou o andamento de obras nos diferentes municípios, poderão ser acessadas pela internet por qualquer cidadão.

"Queremos colocar disponível para que a população possa nos ajudar a fiscalizar também, a acompanhar os programas", disse a ministra durante encontro com jornalistas no Palácio do Planalto.

A ideia é que dados de outros projetos sejam aos poucos disponibilizados na plataforma on-line. O programa de prevenção de desastres naturais, que hoje monitora a situação de pouco mais de 500 municípios, deve ser incluído também no ano que vem. Segundo a ministra, demorará mais um pouco que os dois primeiros, pois há "muita informação desencontrada".

Hoje, o governo possui uma plataforma para acompanhar o andamento de suas ações prioritárias. Ela é utilizada pela presidente Dilma Rousseff e pela Casa Civil. Ao público será divulgada uma versão "mais amigável" da usada pela administração federal.

A Casa Civil, por exemplo, monitora perto de 40 programas do governo.






sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Presidente do Uruguai vai de sandálias a posse de ministro

Calor de 35 graus fez José Mujica dobrar as barras da calça
    Aos 78 anos, jeito informável colocou o ex-guerrilheiro na lista de personalidades do ano

MONTEVIDÉU - O jeito simples e as ideias progressistas e humanistas colocaram o presidente do Uruguai, José Mujica em todas as listas de personalidades do ano. E ele voltou a surpreender nesta quinta-feira: dando adeus à formalidade, compareceu de sandálias à cerimônia de posse do seu novo ministro da Economia, Mario Bergara.
As altas temperaturas no Uruguai, que chegaram a quase 35 graus Celsious, fizeram o presidente ainda dobrar a barra das calças para ficar mais confortável, numa atitude que, segundo o jornal argentino “Clarín”, surpreendeu “pelo pouco apelo ao protocolo”.

O presidente uruguaio, um ex-guerrilheiro de 78 anos, já foi notícia por ser o presidente mais pobre do mundo, doando todo seu salário para caridade. Este ano, ele virou notícia por legalizar e regular a produção, venda e consumo de maconha no país e ainda aprovar o casamento gay - medidas que fizeram a revista “Economist” elerger o Uruguai o país do ano.
Bergara assumiu a pasta da Economia depois que seu antecessor, Fernando Lorenzo, renunciou no sábado passado.







segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Centenas de banhistas quebram recorde de nudismo na Espanha

A aldeia andaluza de Vera quebrou o recorde do Guinness para o maior banho comum nua do planeta.

Imagem

Com um total de 729 pessoas que se banhavam ao mesmo tempo sem roupas na praia de  Playazo  no domingo de manhã, ultrapassando assim ” mais do que “o recorde anterior de 506 foi obtido banhistas em uma praia na Nova Zelândia.
O prefeito de Vera, José Carmelo Jorge, disse que esta iniciativa foi um “grande sucesso” e que, portanto, eles estão “muito satisfeito” com os resultados, uma vez que as expectativas foram colocadas “em torno de 600 pessoas “e venci” amplamente “e destacou a colaboração dos participantes.

Imagem
Além disso, o prefeito afirmou que os fundos arrecadados irão para uma causa de caridade e, além disso, esta iniciativa serviu para promover o turismo da cidade, nomeadamente, turismo nudista para o Carmelo, disse que “o Consistório suporte para esse tipo de filosofia em que as pessoas desfrutar do sol e da praia sem roupa. “

Imagem
Lembre-se que este evento foi programado para coincidir com o Dia Sem Maiôs que promove a Federação Naturista espanhola , a fim de promover a tolerância social da nudez nas praias. O cartaz foi feito para anunciar este evento marcante dos cidadãos europeus foram convidados para participar do que eles chamam de “maior confusão do mundo”. Além deste evento, a área naturista de Vera realizou no passado sábado o Popular Raça Nudista, com 3,1 km rota através das ruas da área naturista de Vera.
Imagem




 






domingo, 22 de dezembro de 2013

STF virou um partido político?

aecio_joaquimbarbosa
As primeiras notícias deste domingo são alarmantes. Na Folha, me deparo com a seguinte manchete: "Congresso inerte é risco à democracia, diz ministro do STF (Luis Barroso)".
Concordo com a frase. Com certeza, milhares de brasileiros repetem-na diariamente em botequins, cafés e universidades. Só que não ela não cai bem num ministro do Supremo, ainda mais para justificar uma invasão de poderes. Barroso diz que o STF tem de “empurrar a história”. Sim, ministro, mas para onde? Para o abismo?
O STF acabou de protagonizar a mais vergonhosa de suas atuações em décadas, que foi o julgamento da Ação Penal 470, onde condenou sem provas e se submeteu covardemente às ordens da mídia, e agora vem posar de paladino da democracia?
Ao apelar a uma suposta “voz das ruas”, o STF tenta se redimir da vergonha que foi a Ação Penal 470 e salvar-se do naufrágio de seu prestígio segurando uma bola de chumbo, pois ele apenas atropela os instrumentos que a democracia pressupõe para avaliar a vontade do povo, e que não inclui, definitivamente, enquetes subjetivas empíricas sobre o que as ruas pensam.
Ainda neste domingo, ficamos sabendo (via Dora Kramer, Estadão) que a ex-ministra do STF, Ellen Gracie, se filiou ao PSDB no dia 5 de outubro. Gracie foi nomeada para o STF por Fernando Henrique e sua filiação tem coerência, portanto. Mas é uma prova de que FHC, nesse ponto, foi muito mais esperto que Lula: nomeou tucanos orgânicos para o Supremo (Gilmar Mendes e Ellen Gracie).
A direita está cada vez se aproximando mais do Judiciário. Falta agora a esquerda entender que não é inteligente nomear raposas para tomar conta do galinheiro.
Ainda segundo a colunista do Estadão, Joaquim Barbosa já admite que pretende seguir carreira política. Dora Kramer é direta: Barbosa estuda entrar numa legenda de oposição ao PT. Numa pirueta de incrível cinismo, Barbosa diz apenas cuidar para que sua atitude não ponha em dúvida o seu comportamento no julgamento do mensalão. Imagina se não cuidasse!
A coluna de Kramer é um balão de ensaio. Tem toda a pinta de ter sido profundamente discutida, tanto com Barbosa quanto com os “conselheiros mais frequentes” do ministro, que são “marcadamente de oposição”.
“Sobre a hipótese de vir a compor uma chapa como candidato a vice-presidente, não abre nem fecha portas.”
“A melhor porta de entrada na política, na avaliação resultante das consultas feitas pelo ministro, seria uma candidatura ao Senado pelo Rio de Janeiro.”
Ao final do texto, Dora vaza o sonho da direita. Ao responder enquete sobre se aceitaria ou não Joaquim Barbosa como seu parceiro eleitoral, Aécio Neves responde o seguinte (citado por Dora): “Nosso respeito pelo ministro é tão grande que sequer aventamos essa hipótese”.
O amor não é lindo?
Dora, a cupido, ainda bota uma azeitoninha na empada de Aécio, ao acrescentar que o PSDB “anda precisando de reforço justamente no Rio, domicílio eleitoral do ainda presidente do Supremo.”
Não poderia encerrar esse post, contudo, sem lembrar dois artigos do Código de Ética da Magistratura, conforme publicado no site do Conselho Nacional de Justiça:

Art. 7º A independência judicial implica que ao magistrado é vedado participar de atividade político-partidária.
Art. 8º O magistrado imparcial é aquele que busca nas provas a verdade dos fatos, com objetividade e fundamento, mantendo ao longo de todo o processo uma distância equivalente das partes, e evita todo o tipo de comportamento que possa refletir favoritismo, predisposição ou preconceito.
PS: Esses dois artigos deveriam ser tatuados em partes visíveis no corpo dos juízes, assim que entrassem no STF; talvez isso evitasse vexames, como foi ver Ayres Brito assinando prefácio de livro de Merval Pereira.






sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

O perfil do “General Olimpia Mourão Filho pela Cia americana.

       Em Washington, o Departamento de Es- tado fazia chegar à Casa Branca um perfil do “General Olimpia Mourão Filho”. O tex-to, nada galante, clas- sificava-o como “uma espécie de oportunista” e “opiniático, interes- sado em economia a ponto de se fantasiar de economista”. O docu-mento concluía, cruel e pessimista: “Ele não é bem-visto no Exército e provavelmente não liderará uma conspiração contra o governo, em parte porque não tem muitos seguidores. É visto como uma pessoa que fala mais do que pode fazer”. Às treze horas, surpreendido pela rebelião, Gordon respondeu à questão colocada por Dean Rusk na noite anterior: “Meu julgamento é de que esta pode não ser a última oportunidade, mas pode ser a última boa oportunidade para apoiar uma ação contra o grupo de Goulart”.




O farsante histrião general Olympio Mourão Filho

Seria cômico se não fosse trágico a ignorância que campeia na blogosfera ou pelos e-mails trocados por milhões de brasileiros. O desconhecimento é bestificante ao ponto de fazer circular nas redes sociais e e-mails a mensagem da imagem abaixo, que elege o histrião farsante general Olympio Mourão Filho em estadista de grande visão com direito à reprodução da sua “bela” citação, como vemos abaixo!  





segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Uma fraude à francesa

A Polícia Federal acusa ex-diretores do banco Paribas de desviar US$ 20 milhões
O BNP Paribas é um dos três maiores bancos europeus, está presente em 85 países e administra ativos de cerca de US$ 250 bilhões. Surgiu no cenário das finanças transnacionais em agosto de 1999, depois da união de dois bancos franceses — o Banque Nationale de Paris (BNP) e o Paribas. Em 1996, antes da fusão, o BNP obteve autorização do Banco Central para operar no mercado brasileiro. Especializou-se em atender um público seletíssimo. Um dos serviços oferecidos a sua clientela é a administração de fortunas. Descobriu-se agora que essa potência bancária está envolvida aqui no Brasil em acusações de sumir com US$ 20 milhões — um dinheiro que deveria estar investido no país e gerando empregos.


Em novembro passado, o delegado da Polícia Federal Protógenes Pinheiro de Queiroz, da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado e de Inquéritos Especiais, em São Paulo (foto), indiciou três ex-diretores do Paribas no Brasil, todos de nacionalidade francesa, acusados de participar de um golpe. Segundo relatórios do delegado enviados à Justiça, há evidências de crimes como estelionato, evasão de divisas e sonegação fiscal. O indiciamento ocorreu em novembro, mas a fraude remonta a julho de 1993 — quando o Paribas ainda operava apenas com uma representação no Brasil.

Na ocasião, o banco francês recebeu do Banco Central os US$ 20 milhões, referentes a papéis da dívida externa brasileira que tinha em seu poder. O pagamento foi conseguido graças a uma conversão de dívida — operação em que o BC pagava os credores internacionais em moeda nacional. Em troca da quitação da dívida, os credores se comprometiam a investir o dinheiro no país em empreendimentos para geração de empregos. A conversão era uma fórmula para reduzir a dívida externa sem sangrar as reservas nacionais. O compromisso do Paribas era investir os US$ 20 milhões na construção de um complexo hoteleiro na Bahia, por meio de uma empresa chamada Achcar Comércio e Participações Ltda., e manter o capital no país até 2005.

Depois de quebrar o sigilo bancário da Achcar, a Polícia Federal descobriu que a bolada foi usada para muitas finalidades — menos para construir o complexo hoteleiro. Uma parte — US$ 1 milhão — foi paga a um testa-de-ferro da operação, já falecido. De acordo com a investigação, os outros US$ 19 milhões foram aplicados pelos diretores do Paribas em fundos de investimento nos bancos Sudameris e BFB (Francês e Brasileiro). Seriam depois sacados e, segundo suspeita a PF, remetidos de forma ilegal para o Exterior. "O desvio de finalidade caracteriza-se pelo elevado número de saques do dinheiro depositado na conta corrente da empresa Achcar no Banco Safra, migrado para outras contas ou até mesmo sacado na boca do caixa, com indícios de que tenha saído do país, por meio de câmbio paralelo", afirma o delegado Protógenes, nos relatórios à Justiça.

Um destino possível para o dinheiro teria sido o paraíso fiscal de Jersey — a ilha do Canal da Mancha onde o Ministério Público Federal diz que o ex-prefeito Paulo Maluf guardou US$ 200 milhões. Depois de o dinheiro ter se evaporado, o Paribas se desligou, em 1995, da empresa que seria responsável pelo projeto hoteleiro. Pelo menos no papel, a participação no empreendimento foi vendida à IDB Investment Company Ltd., com sede na ilhota. A polícia suspeita que tenha sido uma operação de fachada, porque a IDB foi registrada em Jersey com o irrisório capital de 100 dólares. No Brasil, a representante da IDB é a empresa Soma Projetos de Hotelaria, que nem tem sede própria, apesar de ser responsável, em tese, por investimentos de milhões de dólares.

A PF acredita estar diante de um caso de lavagem de dinheiro e entrou na Justiça com um pedido de quebra de sigilo bancário do Paribas, da Soma e de outras empresas. A fraude foi descoberta graças a uma denúncia do advogado Marcos David Figueiredo de Oliveira, de São Paulo. Em 1991, ele havia sido contratado por um dos envolvidos para conseguir receber do BC os US$ 20 milhões. Depois da liberação do dinheiro, o advogado levou um cano. Desde então, passou a brigar na Justiça para receber do Paribas os honorários. Sem êxito. "Brigo contra uma máfia", acusa Oliveira.

Nenhum dos três ex-diretores do Paribas indiciados — Marc Richmond Jacques Hartpence, Alain Charles Bouedo e Jean Patrick Toulemonde — permaneceu no Brasil. Segundo a direção do BNP Paribas em São Paulo, todos também já se desligaram da instituição. Com a alegação de que o processo corre sob sigilo na Justiça, a direção do banco se nega a entrar em detalhes sobre as acusações de fraude feitas pela PF. "Nossa regra é a transparência, mas não podemos desrespeitar a Justiça, que ainda não tomou nenhuma decisão sobre o caso", diz a assessora de comunicação do banco, Alessandra Botelho Silva. Segundo o BNP Paribas, não há nenhuma pendência no Banco Central contra a operação de conversão de dívida externa.

O caso, porém, só começou a ser investigado pelo Departamento de Combate a Ilícitos Cambiais e Financeiros do BC no fim do ano passado. Na França, o Paribas já esteve envolvido num escândalo de tráfico de armas para Angola. O caso rendeu a prisão de Jean-Christophe Mitterrand, filho do ex-presidente francês François Mitterrand.



COMO FERNANDO HENRICA

Acho que Protógenes Queiroz nem sonhava com uma candidatura quando me falou pela primeira vez do Caso Paribas. Não apenas falou: de noite, no saguão do hotel em que se hospedava entre uma e outra operação em São Paulo, fez mapa minucioso da armação de tucanos de megabico para manipular a dívida externa em seu proveito.

A segunda vez foi em sua primeira entrevista à imprensa, na sede da revista Caros Amigos, que durou de 2 da tarde às 7 da noite. De tudo se tratou. Selecionei apenas o capítulo que trata do Caso Paribas, que pode levar à convocação de FHC e Armínio Fraga, entre outros, pelo Congresso.

Não por coincidência, depois da entrevista, a caixa d’água veio abaixo na vida de Protógenes.

PALMÉRIO DÓRIA - Você está falando do Fernando Henrique Cardoso?

Fernando Henrique Cardoso.

PALMÉRIO DÓRIA - Você está falando do Paribas, de como o presidente manipulou e ganhou com isso?

Exatamente. Nossa dívida externa é artificial e eu provei isso na investigação. Houve repulsa minha porque quando era estudante empunhei muita bandeira "Fora FMI", "Nós não devemos isso".

MYLTON SEVERIANO - "A dívida já está paga".

"A dívida já está paga". E foi muito jato d'água, muita cacetada, muito gás lacrimogêneo, "bando de doido, tem que tomar porrada, pau nesses garotos". Você cresce achando que era um idiota, não é? Chega um momento que pensa "a dívida foi criada no regime militar, mas a gente precisa pagar".

FERNANDO LAVIERI - Como você provou isso?

PALMÉRIO DÓRIA - O jogo começou a ser jogado no Ministério da Fazenda?

Sim. Querem essa história?

TODOS - Sim!

Vocês não vão dormir direito. Isso é para maiores de 50 anos. Estamos em 2002, me atravessa as mãos o expediente para um banco francês, "esse banco eu conheço, é sério". E a suspeita que investigo é fraude com títulos públicos brasileiros, negociados no mercado internacional, títulos da dívida externa. Negociados na década de 1980: o que chama atenção?

MYLTON SEVERIANO - Fim da ditadura.

E transição para o regime civil. José Sarney pega o país em frangalhos, devendo até a alma, sem dinheiro para financiar as contas públicas, muito menos honrar compromissos, a famigerada dívida com o FMI. Havia até o "decrete-se a moratória". Era o papo nosso, da esquerda, dos estudantes, "não vamos pagar, já levaram tudo". E o Sarney, o que faz? Bota a mão na manivela e nossos títulos da dívida externa valiam, no mercado internacional, no máximo 20% do valor de face, era negociado na bolsa de Nova York. No paralelo valiam 1%. O que significa? Não passa pela bolsa. Comprei, quero me livrar, então 1% do valor de face, título de um país "à beira de uma convulsão social, ninguém sabe o que vai acontecer com aquele país, um conjunto de raças da pior espécie": essa, a visão primeiro-mundista, o que representávamos para os banqueiros. Escória. E aqui estávamos, discutindo a reconstrução do país. Vamos dialogar, botar os partidos para funcionar, eleições, e o Sarney tendo que dar uma solução. Fecha a manivela e toca a jogar título no mercado de Nova York. Cada título que valia 10%, 15%, mandava dinheiro aqui para dentro. Seis anos depois, o mercado financeiro internacional detectou que no Brasil haveria desordem, até guerra civil, e eles não iam receber o que tinham colocado aqui com a compra dos papéis podres, queriam receber mesmo os 15%. E fazem uma regrinha de três e colocam para o Banco Central: “Você vai instituir uma norma, os títulos da dívida externa brasileira adquiridos no mercado financeiro internacional, no nacional poderão ser convertidos junto ao Banco Central pelo valor de face desde que esse dinheiro seja investido em empresas brasileiras." Bacana, não? Se funcionasse como ficou estabelecido, nosso país seria uma potência, não? Ainda que uma norma perfeita, acho um critério não normal, não é? Não é moralmente ético eu comprar um título por 15% e ter um lucro de 100%, em tão pouco tempo. Mas enquanto regra de mercado financeiro tenho de admitir que sou devedor. Se vendi a 15%, na bolsa, assumi o risco de, no futuro, o lucro ser maior para o credor. Tenho que pagar. Foi assim que foi feito? Não. Será que o grupo Votorantim recebeu algum dinheiro convertido? Alguma outra empresa nacional do porte recebeu? Não. O que o sistema montou? Uma grande operação em determinado período para sangrar as reservas do país, e ainda tinha as cartas de intenção, que diziam "se você não me pagar posso explorar o subsolo de 50 mil quilômetros da Amazônia".

WAGNER NABUCO - Era a fiança?

Sim. Então me deparo com um banco, o Paribas, hoje BNP-Paribas que se uniu ao National de Paris. Com três diretores, em São Paulo, e dois outros, mais um contador que foi assassinado e um laranja que se chamava Alberto. O banco adquire esses títulos, no valor de 20 milhões de dólares, não é? E converte no Banco Central e aplica em empresas brasileiras, empresas-laranja. Comprou no paralelo a 1%, eram 200 mil dólares, e converteu a 20 milhões de dólares aqui no Brasil e colocou nessa empresa-laranja...

MYLTON SEVERIANO - Empresa de quê?

De participações. Chamava-se Alberto Participações, com capital social de 10 mil reais. Já tem coisa errada. Como uma empresa com capital de 10 mil reais pode receber um investimento estrangeiro da ordem de 20 milhões? Cadê o patrimônio da empresa? Como é que o Banco Central aprova? Mando pegar o processo. Ela investiu, vamos ver aonde o dinheiro vai. Converteu os 20 milhões e ao longo de doze meses o dinheiro é sacado mensalmente na boca do caixa em uma conta e convertido no dólar paralelo e enviado para a matriz em Paris. Eu digo "Banco Central, me dá o processo do Paribas". Aí não consigo, quem consegue é o procurador que trabalhava comigo, Luiz Francisco. Consegue e remete pra mim em São Paulo. Vejo que no Banco Central houve uma briga interna pela conversão. Os técnicos se indignaram, e indeferiram. Ai houve uma gestão forte para que houvesse a conversão. De quem? Do ministro da fazenda. Que era quem?

MYLTON SEVERIANO - Fernando.

MARCOS ZIBORDI - Henrique.

MYLTON SEVERIANO - Cardoso.

Tento localizar os banqueiros. Todos fugiram. Os franceses todos. O contador, assassinado. O laranja Alberto morreu de morte natural, assim falam no Líbano, onde ele morreu. E me sobra a sócia dele, uma senhora chamada Celma. Morava na Avenida São Luís. Ah, é? Um foi embora, outro fugiu, outro morreu, outro foi assassinado: querem brincar com a Polícia Federal? Com a dívida externa do Brasil? Descubro essa sem-vergonhice, essa patranha, essa picaretagem de fundo de quintal que acontecia enquanto nós estudantes lutávamos, dizíamos que a dívida externa não existia, e, de fato, parte dela era artificial. A coisa é grave, vamos fazer uma continha, nós contribuintes, que cremos que existe uma ordem no país. Títulos que adquiri por 200 mil, converti no Brasil os 20 milhões de dólares, quanto tive de lucro? 19 milhões e 800 mil. Vamos fazer essa continha para vocês dormir direito hoje. Esses 19 milhões mandei para minha matriz, o papel está na minha mão ainda, porque dizia o seguinte a norma do Banco Central: ao converter esse título, invista em empresa brasileira, e ao final de doze anos "Brasil, mostre a sua cara e me pague aqui, você me deve, pois sou credor dessa nota promissória chamada título da dívida externa brasileira". Está na lei. Bota aí. Soma 20 milhões com 19 milhões e 800 mil: 39 milhões e 800 mil. Nós devemos isso aí? E mais, o que pedi? Que o juiz bloqueasse o título do Paribas, não pagasse, indiciei os diretores. Por quê? Porque estava se aproximando o final dos doze anos, o título estava vencendo e tínhamos que pagar. Pedi que o Banco Central enviasse cópia de todos os processos de conversão da dívida externa brasileira pra mim. Estou esperando até hoje. Sabe o que o Banco Central falou? "O departamento não existe, nunca existiu, era feito por uma seção aleatoriamente lá no Banco Central." Então nós não devemos esse montante de milhões que cobram.

RENATO POMPEU - Só não entendi o que o Fernando Henrique Cardoso ganhou com isso.

Calma, calma. Sobrou uma para contar a história. A Celma da Avenida São Luís. A mulher de verdade. Era companheira do Alberto, ex-embaixador do Brasil no Líbano. Quando estourou a guerra ele fugiu e viveu na França, estudando na Sorbonne. Quem ele conhece lá?

MYLTON SEVERIANO - Fernandinho.

Colegas de faculdade. A Celma, marquei depoimento numa quinta, véspera de feriado, às seis da tarde na superintendência da Polícia Federal. Uma morena bonita, quase 60 anos, me disse que tinha sido miss, modelo, era sócia nessa empresa, tinha tipo 1%. Furiosa, "que absurdo, véspera de feriado, perder meus negócios, engarrafamento". Já estava gritando no corredor. Dei um molho de uns trinta minutos até ela se acalmar. Pensei "essa mulher está furiosa e tem culpa no cartório". Falei "obrigado por ter vindo", e ela "obrigado nada, o senhor é indelicado, desumano, sou dona de uma indústria de sorvetes, e me chama numa hora importante porque tenho que distribuir sorvete, é feriado, o senhor não tem coração". No meio da esculhambação, digo "tenho que cumprir meu dever, sou funcionário público", e ela "aposto que é o caso daquele Paribas, não sei por que ficam me chamando, e tem mais, fui companheira do Alberto, e ele foi muito mais brasileiro que muita gente. Era digno, honesto, ficam manchando a alma dele. Eu ajudei ele até o fim da vida, inclusive sustentei parte da família dele". Percebi que não sabia a verdade, ela disse "ele morreu pobre, ficou esperando a conversão dessa dívida que nunca houve". Detalhe: na quebra de sigilo bancário encontrei um cheque do Alberto que ele recebeu, 64 milhões, na boca do caixa do banco Safra. E ele transfere as cotas para uma empresa criada pelo Paribas em nome dos diretores.

MYLTON SEVERIANO - No Brasil?

Já é um Paribas do Brasil. Transfere para a subsidiária, e os diretores começam a sacar. O primeiro que recebe é ele, valor equivalente a 5%. E ela disse "ele não recebeu a comissão dele que era de 5%". Bateu! Tranquei o gabinete, falei "vou mostrar um documento, mas se disser que mostrei, prendo a senhora", era a cópia do cheque, com assinatura e data. A mulher começou a chorar. "Desgraçado. Que o inferno o acolha!" Ela disse "tenho muito documento na minha casa". Se fizesse pedido de busca e apreensão chamaria atenção da Justiça, teria um indeferimento. Essa investigação estava sendo arrastada. Fiz uma busca e apreensão ao inverso, "a senhora permite que selecione o que quero?", ela disse "perfeito". Naquela véspera de feriado, peguei dois agentes, contrariando colegas que queriam ir embora...

MYLTON SEVERIANO - Qual o ano?

2002. Saímos de lá de madrugada, era um apartamento antigo, magnífico. Ela chorando, "desgraçado, até comida na boca eu dei". Ela me dá uma agenda, "aqui parecia o Banco Central, eu atendia o doutor Alberto, da área internacional". Encontrei documentos, agendas que vinculavam ele ao Armínio Fraga, ao Fernando Henrique, inclusive uma carta manuscrita, não vou falar de quem, depois confirmada, ela falou "levei esse presente, pessoalmente, até a casa do Fernando". Mandei documentos para perícia. Na época era eleição do Fernando Henrique.

RENATO POMPEU - Não, do Lula.

Isso. Lula venceu contra Serra. Fernando Henrique era presidente.

RENATO POMPEU - Ele recebeu dinheiro então?

Vamos pegar a linha do tempo. Ele sai de ministro da Fazenda e vira presidente. O gerente da área internacional que dá o parecer no processo, quem era? Armínio Fraga. Que presidiu o Banco Central. Essa investigação não sei que fim deu. Pedi ao Banco Central o bloqueio de todos os títulos da dívida externa brasileira que foram convertidos. E pedi cópia de todos os processos de conversão junto ao Banco Central para investigação.

RENATO POMPEU - Saiu na mídia?

Em parte, mas foi abafado. Quem conseguiu publicar foi, se não me engano, a Época.

PALMÉRIO DÓRIA - Citando Fernando Henrique?

Não, não citou. A reportagem era "Fraude à francesa". Essa investigação surge da denúncia de um advogado, Marcos Davi de Figueiredo. Ele sofre uma pressão implacável dentro do banco. A Celma passa a ser ameaçada, logo que presta depoimento entregando tudo. Inclusive os escritórios que deram suporte a essa operação, um do Pinheiro Neto, e ela diz que sofria ameaça do próprio Pinheiro Neto. O procurador foi o doutor Kleber Uemura.

Falta muito a dizer, como dizia o saudoso Aloysio Biondi.

Conheça as três utilidades escondids em seu celular!

CONHEÇA AS TRÊS UTILIDADES QUE ESTÃO ESCONDIDAS EM SEU CELULAR :

03 coisas que você nunca soube sobre seu celular.
Será útil manter essas informações com você.
Existem algumas coisas que podem ser feitas em caso de emergência.
Seu celular é uma ferramenta que pode salvar sua vida.
Veja o que ele pode fazer por você:

Emergência I:
O número universal de emergência para celular é 112
Se você estiver fora da área de cobertura de sua operadora e tiver alguma emergência, disque 112 e o celular irá procurar conexão com qualquer operadora possível para enviar o número de emergência para você, e o mais interessante é que o número 112 pode ser digitado mesmo se o teclado estiver travado. Experimente!

Emergência II: *3370#
Vamos imaginar que a bateria do seu celular esteja fraca. Para ativar, pressione as teclas: *3370#
Seu celular irá acionar a reserva e você terá de volta 50% de sua bateria. Essa reserva será recarregada na próxima vez que você carregar a bateria.

Emergência III: *#06#
Para conhecer o número de série do seu celular, pressione os seguintes dígitos: *#06#
Um código de 15 dígitos aparecerá. Este número é único. Anote e guarde em algum lugar seguro. Se seu celular for roubado, ligue para sua operadora e dê esse código. Assim eles conseguirão bloquear seu celular e o ladrão não conseguirá usá-lo de forma alguma. Talvez você fique sem o seu celular, mas pelo menos saberá que ninguém mais poderá usá-lo.. Se todos fizerem isso, não haverá mais roubos de celular.


segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Artigo: Passo a passo

Por Alexandre Padilha
O Mais Médicos ajuda a vencer alguns tabus: que não faltavam médicos no país, que não existiam barreiras à atuação de estrangeiros - See more at: http://www.pt.org.br/noticias/view/artigo_passo_a_passo_por_alexandre_padilha#sthash.wqUL9XyP.dpuf
O Mais Médicos ajuda a vencer alguns tabus: que não faltavam médicos no país, que não existiam barreiras à atuação de estrangeiros - See more at: http://www.pt.org.br/noticias/view/artigo_passo_a_passo_por_alexandre_padilha#sthash.wqUL9XyP.dpuf
O Mais Médicos ajuda a vencer alguns tabus: que não faltavam médicos no país, que não existiam barreiras à atuação de estrangeiros - See more at: http://www.pt.org.br/noticias/view/artigo_passo_a_passo_por_alexandre_padilha#sthash.wqUL9XyP.dpuf
O Mais Médicos ajuda a vencer alguns tabus: que não faltavam médicos no país, que não existiam barreiras à atuação de estrangeiros

Com a aprovação no Congresso e a sanção da lei pela presidenta Dilma Rousseff, o programa Mais Médicos cumpre mais uma etapa.

Foram quatro meses de debates, nos quais a participação de estrangeiros, as novas regras para abertura de vagas e mudanças no currículo das faculdades de medicina enfrentaram resistência de entidades.

Mas, em nenhum momento, faltou a convicção do Ministério da Saúde de que o programa representa um passo para uma profunda mudança na saúde do país.

Essa convicção me acompanha desde os tempos da Faculdade de Medicina da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), quando criamos a Comissão Interinstitucional de Avaliação de Ensino Médico. O objetivo era romper a estrutura que fazia com que os estudantes utilizassem os pacientes do SUS como ferramentas de aprendizado para depois aplicar o conhecimento em consultórios privados. Nosso lema era: chega de aprender com os pobres para depois só tratar dos ricos.

A convicção cresceu quando assumi a coordenação de um núcleo de medicina tropical da USP no interior do Pará. Trabalhando com os índios zoé, percebi que, mesmo com a barreira da língua e com falta de infraestrutura, um médico faz diferença. Na época, a tribo corria o risco de ser dizimada pela pneumonia e malária. Com a ação do núcleo, ambas as doenças foram controladas dentro da tribo.

Uma década depois, já no Ministério da Saúde, iniciamos as ações para levar médicos para onde não os havia. Começamos com o Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica, em 2011, que levou 355 médicos para o interior do país. No ano seguinte, 8.000 médicos se inscreveram, mas muitos não iniciaram o trabalho. A demanda era de 10 mil médicos. Na ponta mesmo, chegaram cerca de 3.500.

A partir dessa demanda de prefeitos de todos os partidos, o programa Mais Médicos foi idealizado. Estudamos o que países como Canadá, Portugal e Austrália faziam para atrair profissionais para lugares remotos. Foi então que decidimos continuar priorizando os brasileiros, mas abrindo oportunidades a estrangeiros também.

O Mais Médicos está ainda no começo, mas os números dão a sua dimensão. Já são 3.676 profissionais que beneficiam, juntos, praticamente 13 milhões de brasileiros—mais do que toda a população da cidade de São Paulo. Em dezembro, chegaremos a 6.600.

No primeiro mês do programa, foram realizadas cerca de 320 mil consultas, o que fez com que aumentasse também o acesso a medicamentos do Farmácia Popular. No período, 13,8 mil pacientes retiraram medicamentos das farmácias populares com receitas emitidas por médicos do programa.

Com um atendimento básico de qualidade, será possível resolver mais de 80% dos problemas de saúde, diminuindo as filas de hospitais.

A nossa aposta é no atendimento, mas também na infraestrutura. Do total de prefeituras atendidas na primeira etapa do programa, 97% recebem dinheiro federal para melhorar unidades. A presença do médico certamente acelerará esse processo.

Para além dos resultados, o Mais Médicos vem ajudando a vencer alguns tabus: que não faltavam médicos no país; que não existiam barreiras à atuação de estrangeiros; que não era necessária a universalização de vagas de residência médica e a presença de estudantes de medicina na atenção básica.

Hoje, o país já se deu conta de que a escassez de médicos é um dos nossos grandes problemas de saúde. Essa dificuldade está acima de divergências partidárias. Por isso, prefeitos, inclusive da oposição, inscreveram-se no programa.

A única ideologia que existe no Mais Médicos é levar médicos para onde faltam médicos. São bem-vindas as ações estaduais e municipais para levar mais profissionais para a população desassistida. Quanto mais médicos, melhor.

Alexandre Padilha é médico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é ministro da Saúde
Com a aprovação no Congresso e a sanção da lei pela presidenta Dilma Rousseff, o programa Mais Médicos cumpre mais uma etapa.
Foram quatro meses de debates, nos quais a participação de estrangeiros, as novas regras para abertura de vagas e mudanças no currículo das faculdades de medicina enfrentaram resistência de entidades.
Mas, em nenhum momento, faltou a convicção do Ministério da Saúde de que o programa representa um passo para uma profunda mudança na saúde do país.
Essa convicção me acompanha desde os tempos da Faculdade de Medicina da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), quando criamos a Comissão Interinstitucional de Avaliação de Ensino Médico. O objetivo era romper a estrutura que fazia com que os estudantes utilizassem os pacientes do SUS como ferramentas de aprendizado para depois aplicar o conhecimento em consultórios privados. Nosso lema era: chega de aprender com os pobres para depois só tratar dos ricos.
A convicção cresceu quando assumi a coordenação de um núcleo de medicina tropical da USP no interior do Pará. Trabalhando com os índios zoé, percebi que, mesmo com a barreira da língua e com falta de infraestrutura, um médico faz diferença. Na época, a tribo corria o risco de ser dizimada pela pneumonia e malária. Com a ação do núcleo, ambas as doenças foram controladas dentro da tribo.
Uma década depois, já no Ministério da Saúde, iniciamos as ações para levar médicos para onde não os havia. Começamos com o Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica, em 2011, que levou 355 médicos para o interior do país. No ano seguinte, 8.000 médicos se inscreveram, mas muitos não iniciaram o trabalho. A demanda era de 10 mil médicos. Na ponta mesmo, chegaram cerca de 3.500.
A partir dessa demanda de prefeitos de todos os partidos, o programa Mais Médicos foi idealizado. Estudamos o que países como Canadá, Portugal e Austrália faziam para atrair profissionais para lugares remotos. Foi então que decidimos continuar priorizando os brasileiros, mas abrindo oportunidades a estrangeiros também.
O Mais Médicos está ainda no começo, mas os números dão a sua dimensão. Já são 3.676 profissionais que beneficiam, juntos, praticamente 13 milhões de brasileiros—mais do que toda a população da cidade de São Paulo. Em dezembro, chegaremos a 6.600.
No primeiro mês do programa, foram realizadas cerca de 320 mil consultas, o que fez com que aumentasse também o acesso a medicamentos do Farmácia Popular. No período, 13,8 mil pacientes retiraram medicamentos das farmácias populares com receitas emitidas por médicos do programa.
Com um atendimento básico de qualidade, será possível resolver mais de 80% dos problemas de saúde, diminuindo as filas de hospitais.
A nossa aposta é no atendimento, mas também na infraestrutura. Do total de prefeituras atendidas na primeira etapa do programa, 97% recebem dinheiro federal para melhorar unidades. A presença do médico certamente acelerará esse processo.
Para além dos resultados, o Mais Médicos vem ajudando a vencer alguns tabus: que não faltavam médicos no país; que não existiam barreiras à atuação de estrangeiros; que não era necessária a universalização de vagas de residência médica e a presença de estudantes de medicina na atenção básica.
Hoje, o país já se deu conta de que a escassez de médicos é um dos nossos grandes problemas de saúde. Essa dificuldade está acima de divergências partidárias. Por isso, prefeitos, inclusive da oposição, inscreveram-se no programa.
A única ideologia que existe no Mais Médicos é levar médicos para onde faltam médicos. São bem-vindas as ações estaduais e municipais para levar mais profissionais para a população desassistida. Quanto mais médicos, melhor.
Alexandre Padilha é médico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é ministro da Saúde
- See more at: http://www.pt.org.br/noticias/view/artigo_passo_a_passo_por_alexandre_padilha#sthash.wqUL9XyP.dpuf


sábado, 7 de dezembro de 2013

Tuma: o novo herói de Veja na caçada a Lula e ao PT

Revista da Abril divulga com estardalhaço o "livro bomba" de Romeu Tuma Júnior, defenestrado da Secretaria Nacional de Justiça quando seu nome foi ligado à máfia chinesa em São Paulo; entre outras acusações, ele afirma que Lula teria sido "informante da ditadura", que Celso Daniel foi vítima de um "assassinato político", que José Dirceu operava a "conta do mensalão" nas Ilhas Cayman e que o ex-ministro da Justiça, Tarso Genro, hoje governador do Rio Grande do Sul, comandava a produção de dossiês contra adversários do PT, como o governador Marconi Perillo, de Goiás, e o ex-senador Tasso Jereissati, do Ceará
Personagem polêmico, de uma família também bastante polêmica, o delegado Romeu Tuma Júnior, defenestrado da Secretaria Nacional de Justiça em 2010, quando seu nome foi vinculado à máfia de contrabandistas chineses (leia aqui reportagem da época publicada pelo Estado de S. Paulo), é o novo herói da revista Veja, em sua caçada permanente ao Partido dos Trabalhadores e ao ex-presidente Lula.
Nesta semana, a revista da Abril anuncia a chegada do "livro bomba", assinado por Romeu Tuma Júnior, mas escrito pelo jornalista Claudio Julio Tognolli, que também atuou em "50 anos a mil", do cantor e compositor Lobão. Trata-se de "Assassinato de reputações - um crime de Estado".
Em seu livro, Tuma Júnior denuncia que, sob o comando de Tarso Genro, hoje governador do Rio Grande do Sul, o governo patrocinava a produção de dossiês contra adversários políticos. Um dos alvos foi Marconi Perillo, governador de Goiás. "Só porque ele avisou o Lula da existência do mensalão", diz Tuma. Outro alvo, segundo o delegado, teria sido o ex-senador cearense Tasso Jereissati, também adversário do ex-presidente. Tuma Júnior afirma que o pedido partiu do hoje ministro Aloizio Mercadante.
Em relação a Lula, Tuma Júnior faz uma acusação mais grave. Afirma que ele foi "informante da ditadura". "Eu e o Lula vivemos juntos esse momento. Ninguém me contou. Eu vi o Lula dormir na sala do meu pai. Presenciei tudo", diz o delegado.
José Dirceu também é alvo de chumbo grosso. Tuma afirma que caiu do governo não em razão dos supostos vínculos com a máfia chinesa, mas por ter descoberto a "conta do mensalão" no exterior. Ela teria sido criada nas Ilhas Cayman e seria operada pelo ex-ministro da Casa Civil, hoje preso na Papuda. "Mandei cópia para o ministro Tarso Genro apurar isso, e espero resposta até hoje... Será que fui defenestrado por ter chegado à conta caribenha do mensalão?"
Tuma Júnior afirma ainda que Celso Daniel foi alvo de um assassinato político e que recursos desviados na prefeitura de Santo André alimentavam campanhas do PT. Diz que isso foi dito a ele pelo ministro Gilberto Carvalho. "Quando saiu aquela história de que havia desvios na prefeitura, eu, na maior boa fé, procurei a família dele para levar um conforto. Fui dizer a eles que o Celso nunca desviou um centavo para o bolso dele, e que todo recurso que arrecadávamos eu levava para o Zé Dirceu, pois era para ajudar o partido nas eleições", teria dito Gilberto Carvalho numa conversa com o delegado.
O livro relata ainda que todos os ministros do Supremo Tribunal foram grampeados, na época da Operação Satiagraha, contra o banqueiro Daniel Dantas. "Segue a verdade do caso: não só Gilmar Mendes foi grampeado como também todos os ministros do STF. O grampo foi feito com uma maleta francesa".
Tuma Júnior disse que não está publicando seu livro em razão de mágoas ou ressentimentos, mas apenas porque, segundo ele, teria se tornado vítima da mesma máquina de "assassinato de reputação". "Meu bem mais valioso é a minha honra", afirma.







sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

O Roubo do Cofre de Adhemar de Barros - Julho 1969

A velha VPR e a ALN souberam da existência de um tesouro. Parecia lenda de pirata. O primeiro a ser avisado foi Marighella. Um militante falou-lhe de um cofre escondido no apartamento paulista de Ana Benchimol Capriglioni, mitológica amante e depositária de propinas guardadas pelo ex-governador Adhemar de Barros (foto). Conhecido pelo slogan “Rouba mas faz” governara o estado de São Paulo por três vezes e roubara como poucos. O cofre, que se supunha pesar duzentos quilos, estava no 14º andar de um edifício da avenida São Luís. Em poucas semanas a ALN estocou quatro submetralhadoras, três fuzis FAL, revólveres, pistolas e granadas, e o plano marchava quando Adhemar morreu em Paris e Marighella suspendeu a operação.
Não se sabe precisamente quantos cofres teve Adhemar, mas um deles estava na casa do irmão de Ana Capriglioni Benchimol (Aarão Benchimol Burlamaqui nota do blog), no morro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro. Sorte da VAR-Palmares. Um militante da organização, sobrinho da poderosa senhora (Gustavo Schiller, nota do blog), tinha o mapa: a “caixinha do Adhemar” estava no fundo de um armário embutido do segundo andar. Começou assim “A Grande Ação” Vendedores de enciclopédias e pesquisadores de audiência de televisão visitaram o palacete, enquanto o sobrinho caiu na clandestinidade.
Na tarde de 18 de julho um comando da VAR subiu as ladeiras de Santa Teresa. Eram onze homens e duas moças. Chegaram dizendo-se agentes da Polícia Federal em busca de material subversivo, “a mando do general” Entraram na casa nove “federais” e duas camionetes. Na rua ficaram um Aero-Willys e os encarregados da cobertura, um dos quais montado numa metralhadora Schmeisser ponto 30. Um grupo subiu ao segundo andar para procurar o esconderijo da “caixinha” enquanto outro furava os pneus dos carros guardados na garagem, desligava os tele fones e amarrava os criados e moradores. Os contratempos foram poucos. A cozinheira não se intimidou e se recusou a sair de perto do fogão, porque “se eu deixo essa carne estragar, a patroa me mata”. A copeira se negou a apressar o banho. De acordo com o plano o cofre deveria descer num carrinho, mas rolou pela escadaria de mármore.  Colocado numa das camionetes, foi levado para um aparelho em Jacarepaguá. A operação durou 28 minutos. Um mecânico trazido de Porto Alegre acendeu o maçarico de uma solda de acetileno e começou a cortar a “caixinha”. Feito o primeiro buraco, inundou-se o cofre para que o dinheiro não se queimasse.
Você acha que tem um milhão aí dentro?”, perguntou Juarez
Guimarães de Brito, economista que vinha do Colina e dividia seu tempo entre a VAR e serviços de pesquisa para a Pontifícia Universidade Católica. Era o Juvenal e fora o organizador da “Grande Ação”.
Se tiver cem mil já está bom demais”, respondeu Alberto (José de Araújo Nóbrega, um ex-sargento que num lance de sorte escapara da polícia em Itapecerica da Serra). Havia sete pessoas em torno do cofre quando se rasgou uma fatia de sua blindagem. Juarez riu. Era uma botija de dólares. Notas pequenas, grandes, soltas ou em pacotinhos de um banco suíço. Estenderam-se varais pela casa, ligaram-se ventiladores, e pôs-se o tesouro a secar.
Contaram 2,6 milhões de dólares. Tinham acabado de dar o maior golpe da história do terrorismo mundial. Os principais grupos de com batentes surgidos desde o final do século x haviam arrecadado, em conjunto, algo como 17 milhões de dólares. A VAR, de uma só tacada, faturou o equivalente a 15% do centenário esforço internacional. Como dizia a modinha ademarista dos anos 50:
Quem não conhece?
Quem nunca ouviu falar?
Na famosa “caixinha” do Adhemar
Que deu livros, deu remédios, deu estradas
Caixinha abençoada!
Assim como não se sabe quem colocou tamanha fortuna no bolso de Adhemar de Barros, também é difícil saber onde ela foi parar. Há duas versões para o destino desse butim. Uma resulta das diversas narrativas dos militantes da VAR e das facções em que ela viria a se subdividir. Outra, das contas do CIE. Partem de totais diferentes, mas são semelhantes. Um pedaço, que pode ter variado entre 800 mil e 1 milhão de dólares, foi entregue a um diplomata argelino. Outro, estimado entre 250 mil e meio milhão, foi depositado na Suíça. Assim, algo entre 1 e 1,6 milhão de dólares ficou no Brasil. É certo que um espertalhão francês embolsou parte da poupança externa do grupo. Segundo o CIE, em 1974 restavam na Europa 120 mil dólares. Em 1998, Maria do Carmo Brito, a Lia, dirigente da VPR e viúva de Juarez, o comandante da ação, informou ao jornalista Luiz Maklouf Carvalho que só ela sabe o nome da pessoa a quem repassou o controle do dinheiro entregue aos argelinos, mas não o revelou.
A surpreendente conexão argelina ia além da VAR. Enquanto os cubanos carregavam toda a fama, o embaixador Hafid Keramane, veterano militante da FLN e autor de um livro sobre as torturas francesas em Argel, operava uma representação diplomática acreditada tanto junto ao governo como aos terroristas. A embaixada americana suspeitava da existência de contatos dos argelinos com o Colina e supunha que tivessem ligações com o MR-8.31 Semanas antes de ser preso, em julho de 1969, o Bom Burguês estivera em Paris buscando veteranos da rede da Guerra da Argélia, pois pretendia multiplicar sua verba revolucionária através de operações de comércio internacional que poderiam render, a seu juízo, 300 mil dólares anuais. Depositara uma pequena fortuna no Handels Bank, na Suíça, e instalara sua família num apartamento do elegante “XVIème” parisiense.32 Tentara sem sucesso um encontro com Marighella. Sua ideia era impulsionar uma vertente da luta armada livre das influências cubana e chinesa.
Adhemar de Barros
com a esposa
A VAR-Palmares embolsou o butim, mas Ana Capriglioni e os herdeiros do governador não reclamaram à polícia um só centavo. Sustentaram que o cofre estava vazio.  O governo, supostamente empenhado no combate à corrupção (que enchera o cofre) e à subversão (que o esvaziara), não se interessou em descobrir como os 2,6 milhões de dólares chegaram à cafua de Santa Teresa. Era dinheiro roubado, tomado a empreiteiros e bancas de bicho, mas o ministro da Justiça, Gama e Silva, já fornecera um atestado de bons antecedentes a Adhemar, fazendo circular a informação de que nada havia contra ele na Comissão Geral de Investigações. Jamais um larápio pilhado dispôs de tanta proteção.
A rapina do cofre foi um sucesso financeiro e político. Pelo raciocínio segundo o qual era preciso reunir uma base material para permitir que a luta armada desse um salto qualitativo, os 2,6 milhões de dólares deveriam queimar a etapa de acumulação capitalista, ampliando o recrutamento de quadros e antecipando o começo da sonhada guerrilha rural. Afinal, num só golpe, coletou-se o equivalente a cinco vezes a renda de todos os 41 assaltos feitos no país desde o início das “expropriações”, em dezembro de 1967.  Parte da cúpula da organização deixou devagar por pequenas casas de subúrbio e se instalou numa chácara em Jacarepaguá, equipada com carro estrangeiro e falso motorista. Se o problema fosse dinheiro, o caminho para o socialismo encurtara. Como observou Marco Aurélio Garcia, em trabalho pioneiro que há décadas ilumina a história do período, “o ‘dinheiro não trouxe a felicidade’ às organizações de esquerda revolucionária”. A VAR-Palmares se estilhaçou de pois de alguns meses, e, salvo a montagem de duas bases de treinamento de guerrilhas, uma das quais sob o comando de Lamarca, as ações subsequentes mantiveram-se naquilo que Herbert Eustáquio de Carvalho, o Daniel, dirigente da VPR, chamou de “dinâmica da sobrevivência”.
 Excerto do Livro "A Ditadura Escancarada"
 Elio Gaspari.  
São Paulo: Companhia das Letras,
2002.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

PF investiga Fagali Neto, homem-bomba do metrô

Consultor José Fagali Neto (à direita na foto central) seria um dos responsáveis pelo pagamento de propinas da Alstom a integrantes do governo paulista; na mesma imagem, ele aparece ao lado de Pedro Benvenuto, secretário-executivo do conselho gestor de Parcerias Público-Privadas do governo de Geraldo Alckmin e ex-coordenador de gestão da Secretaria de Transportes Metropolitanos; emails apreendidos pela PF revelam que Benvenuto repassava dados estratégicos sobre o metrô a Fagali Neto, cujo irmão já presidiu a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos; denúncia foi feita pela secretária do consultor, que teve conta que recebeu cerca de R$ 20 milhões bloqueada na Suíça
Anotem este sobrenome: Fagali. É o elo que pode unir várias pontas do chamado propinoduto do metrô paulista, segundo a Polícia Federal. De acordo com reportagem publicada nesta segunda-feira pela Folha de S. Paulo (leia aqui), o consultor José Fagali Neto pode ser o chamado "homem-bomba" do escândalo. Irmão de José Jorge Fagali, serrista e ex-presidente do Metrô na gestão tucana, José Fagali Neto foi denunciado à Polícia Federal pela secretária Edna Flores, que entregou aos Ministério Público estadual e federal emails pessoais do consultor.
Nas mensagens, fica evidente o livre trânsito da família Fagali à cúpula do tucanato. Segundo a secretária, o engenheiro Pedro Benvenuto, atual secretário-executivo do conselho gestor de Parcerias Público-Privadas frequentava o escritório do consultor em 2006 e 2007, quando era coordenador de gestão da Secretaria de Transportes Metropolitanos de São Paulo, à qual estão subordinadas o Metrô e a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos. Em 2006, Alckmin era o governador. Em 2007, José Serra.
Numa dessas mensagens, Benvenuto antecipa a Fagalli dados sobre investimentos no metrô, como o plano de ações do setor. A secretária também apontou as ligações do consultor José Fagali Neto com as empresas Bombardier e Tejofran, que cresceu como um foguete na gestão Mário Covas. Ambas contrataram o consultor para conquistar uma PPP de R$ 1 bilhão na CPTM. As duas empresas foram denunciadas pela Siemens como integrantes do cartel do metrô.
Suspeito de intermediar propinas da Alstom, José Fagali Neto teve bloqueada uma conta de US$ 6,5 milhões na Suíça. O irmão, Jorge Fagali Neto, é um dos mais próximos integrantes do núcleo serrista.
As ligações da família Fagali com escândalos tucanos não são propriamente uma novidade. Em 2009, reportagem de Mário Cesar Carvalho, na Folha, denunciou o bloqueio dos recursos. O que espanta é que, até hoje, os irmãos não tenham sido denunciados. Abaixo, a reportagem de 2009 sobre o bloqueio dos recursos:

Justiça bloqueia conta atribuída a irmão do presidente do Metrô
Promotores brasileiros e suíços investigam suspeita de que conta na Suíça recebeu recursos ilegais da empresa Alstom

Mesma decisão congelou uma conta atribuída a outro suspeito no caso, Robson Marinho, conselheiro do TCE; ele nega ter conta na Suíça
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Justiça de São Paulo determinou o bloqueio de uma conta na Suíça atribuída a Jorge Fagali Neto, irmão do presidente do Metrô, por ter indícios de que ela recebeu recursos ilegais da Alstom. A mesma decisão bloqueia uma conta também na Suíça atribuída a Robson Marinho, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo e segundo homem na hierarquia no primeiro governo de Mario Covas (1995-1999).
A Folha revelou no final de junho que a Suíça havia bloqueado uma conta atribuída a Marinho. Tanto Marinho quanto Fagali Neto negam ter contas na Suíça. A Alstom está sob investigação no Brasil e na Suíça por suspeitas de ter pago propina para obter negócios com políticos tucanos.
A decisão foi tomada pela juíza Maria Gabriela Spaolonzi, da 13ª Vara de Fazenda Pública. Ela concedeu liminar solicitada pelos promotores Silvio Marques, Saad Mazloum e Mario Sarrubbo, da Promotoria do Patrimônio Público e Social.

Perto de R$ 20 mi
A conta atribuída a Fagali Neto foi aberta no Banque Safdié de Genebra e recebeu perto de R$ 20 milhões. Os depósitos somam US$ 10.558.069 (R$ 19,3 milhões em valores atuais) e 211 mil (R$ 546,4 mil) até setembro de 2003, segundo documentos do Ministério Público da Suíça.
As últimas informações dos promotores suíços mostram que a conta de Fagali Neto tem um saldo de cerca de US$ 7,5 milhões (R$ 13,7 milhões). Ele foi diretor financeiro do Metrô em 1993 e secretário de Transportes em 1994 (governo de Fleury Filho). Seu último cargo público foi no departamento de projetos especiais do Ministério da Educação entre 2000 e 2003, na gestão do ministro Paulo Renato.
Em outubro de 2003, um mês depois de a conta atribuída a Fagali Neto ter recebido recursos da Alstom, o governador de São Paulo à época, Geraldo Alckmin (PSDB), assinou o contrato para a construção da linha 4-Amarela, um negócio de R$ 1,8 bilhão. A Alstom integra o consórcio que faz a linha.
Em setembro de 2003, o irmão de Fagali Neto, José Jorge Fagali, era gerente de custos do Metrô. Em 2007, meses depois de um acidente num túnel da linha 4-Amarela que matou sete pessoas, foi nomeado presidente da empresa pelo governador José Serra (PSDB).
O dinheiro que está na conta atribuída a Fagali Neto saiu da Alstom e passou por pelo menos três outras contas até chegar ao Banque Safdié, de acordo com a documentação suíça.
O trânsito do dinheiro por outras contas foi uma forma de tentar despistar que a origem do dinheiro era a Alstom, segundo promotores brasileiros.
As duas contas já haviam sido bloqueadas pelo Ministério Público da Suíça. A concessão de liminar pela 13ª Vara de Fazenda Pública tem como objetivo evitar que a Justiça suíça suspenda o bloqueio, sob alegação de que o Brasil não teria interesse pelo caso por não ter tomado nenhuma decisão judicial sobre aqueles valores. Serve também para preparar o terreno jurídico para eventual repatriamento de recursos.