por Francisco Frassales Cartaxo
A censura não permitia nem de leve falar do caso. Virou lenda. Corria à boca
pequena, enfeitada a cada passo na ausência de detalhes pi- cantes, aliás,
naturalmen- te escassos em situações desse tipo. Em visita à Paraíba, em festiva re- cepção
palaciana, o pre- sidente pousou os olhos, insistentemente, numa senhora e, conta
a lenda, sentiu ferver o sangue. Irrequieto, pouco sutil no trato com as
pessoas, mercê da manifesta preferência pelo cheiro de cavalo, veio em seu socorro
um atento chalaça (ah, os chalaças, sempre existe um disponível nas rodas do
poder!), e, rápido, lhe segredou: casada, o marido é profissional liberal. Deram
um jeito. E em João Pessoa, o general-presidente descobriu-se apaixonado.
E agora, como manter aceso aquele fogo sem ferir a liturgia do cargo?
Impossível vir a João Pessoa com a frequência desejada pelo impulso febril
da paixão do general. Então, como levá-la para o centro do poder? Havia mais um
complicador: o marido abraçara uma profissão difícil de sincronizar com as
caixinhas burocráticas do governo. Nada que um chalaça competente não resolva,
sobretudo, quando o regime, fechado, dispensava satisfações de seus atos à população.
Deu-se um jeito. Com pouco tempo o casal paraibano desceu em Brasília, de malas
e frasqueira, ele para ocupar um atraente lugar no organograma governamental. Sem
desvio de função, esclareço em abono à eficiência e eficácia do babão faz tudo.
E assim, o general-presidente manteve a discrição, casada com seus furores
sexuais, sem recorrer ao “prendo e arrebento”, usado até para dar curso ao
processo de “abertura lenta, gradual e segura” da chamada “distensão política”,
engendrada pelo general Golbery do Couto e Silva.
Juscelino Kubitschek não careceu da ajuda de chalaça nenhum. Pé de valsa,
sedutor, só precisou de uma noite de festa dançante, em suntuoso palacete de
usineiro pernambucano, ainda hoje existente no Recife, para enamorar-se de fogosa
senhora com quem viveu um amor arranca suspiros, desses que nem as novelas de
tevê conseguem superar. Só a morte os separou, naquela trágica viagem ao Rio, no
Opala, a caminho de mais um amoroso encontro, secreto e discreto. Dizem que
Deus foi ajudado por forças ocultas interessadas menos em interromper um amor
proibido e muito mais em eliminar o líder popular, amado pelo povo. Mais amado,
muito mais do que Jango e Carlos Lacerda, mortos (por coincidência?) em
circunstâncias jamais esclarecidas de verdade.
Se a gente recurar até a aurora do Brasil independente resplandece a
exuberância de Domitila de Castro, a bem amada carregada nos braços de Pedro de
Alcântara, mulherengo e pro- míscuo, para transformá-la na sua Titila. Mais tarde,
travestida de marquesa de Santos, poderosa e corrupta. Lá atrás, no Brasil
colônia, o holandês Maurício de Nassau não ficou só na breve conquista
territorial. Apoderou-se de uma senhora de engenho rica, jovem, viúva, dizem
que muito generosa nos folguedos amorosos do trópico.
Como se vê por tão pequena amostra, de amantes do poder, a fila é
interminável. Nenhuma originalidade, portanto, salvo no alvoroço midiático
atual, no abuso das situações para usos escusos. Eu tenho certeza, leitora
amiga, que você está com a língua coçando para me provocar... Deixe Lula fora
da crônica... Fofoca faz mal à democracia.
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