Evolucionismo versus Criacionismo
Em 2009 a comunidade científica comemorou o bicentenário do nascimento de Charles Robert Darwin (12/02/1809-19/04/1882), e o sesquicentenário da primeira edição de seu livro A origem das espécies, ocorrida em 24 de novembro de 1859. Por causa dessas efemérides, voltam à baila os debates em torno do criacionismo e do evolucionismo, as duas principais teorias sobre a criação do universo.
O criacionismo, embasado na Gênese bíblica, sustenta que, cerca de quatro mil anos antes da era cristã, Deus criou o mundo em seis dias, na seguinte ordem: a luz (primeiro dia); o firmamento (segundo dia); a terra, as plantas, as ervas e as árvores frutíferas (terceiro dia); o Sol, a Lua e as estrelas (quarto dia); os animais marinhos e as aves (quinto dia); os animais domésticos, os répteis, os animais selvagens, o homem e a mulher (sexto dia). E, havendo Deus terminado a criação, no sétimo dia descansou de sua obra.
Está escrito no Gênesis, primeiro livro do Velho Testamento, que:
· “(...) Deus criou, segundo as suas espécies, os monstros marinhos e todos os seres vivos que se movem nas águas, e todas as aves aladas, segundo as suas espécies” (1:21)
· “Deus disse: ‘Que a terra produza seres vivos, segundo as suas espécies, animais domésticos, répteis e animais ferozes, segundo as suas espécies’” (1:24)
· “Deus, a seguir, disse: ‘Façamos o homem à Nossa semelhança, para que domine sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos e sobre todos os répteis que rastejam pela terra’ ”(1:26).
Para quem não se lembre, Darwin foi um naturalista inglês que, em meados do século XIX, revolucionou a Biologia, dando consistência científica à tese, em si instigante, de que as diferentes espécies de seres vivos não teriam sido criadas tais como se apresentam atualmente. Elas descenderiam, por processo evolutivo, de espécies que as antecederam. Os trabalhos, os argumentos e as conclusões de Darwin a este respeito constam principalmente do seu livro “A Origem das Espécies Através de Meios Naturais de Seleção ou A Conservação das Raças Favorecidas na Luta pela Vida”, de 1859, ou simplesmente, como ficou mais conhecido, “A Origem das Espécies”.
Charles Darwin ofereceu uma alternativa ao bíblico da criação. Observando plantas e animais numa viagem de cinco anos ao redor do mundo, principalmente no arquipélago de Galápagos, no Equador, ele concluiu que a evolução explica a diversidade dos seres vivos, tendo como base a chamada seleção natural, teoria segundo a qual os integrantes das diferentes espécies competem reciprocamente na luta pela vida, saindo vencedor aquele que apresentar qualquer variação de habilidade mais vantajosa. Em suma, os mais fracos perecem e os mais aptos sobrevivem, legando à sua descendência as variações benéficas. No tocante à origem do homem, os evolucionistas sustentam que a transição entre o reino animal e a espécie humana foi feita através dos primatas e dos homens pré-históricos. Estão de acordo em que o homem e a família dos macacos se separaram a partir de um antepassado comum
A idéia não era original. Lamarck (Jean-Baptiste Pierre Antoine de Monet) havia publicado em 1809 a “A Filosofia Zoológica”, em que “expõe pela primeira vez a teoria da evolução orgânica”. Darwin, porém, aprofundou a questão e, apoiando-se em dados concretos obtidos em pesquisas de campo, afirmou que os mecanismos subjacentes ao evolucionismo orgânico consistiam na seleção natural e na sobrevivência dos mais aptos, do ponto de vista biológico.
Segundo Lamarck, o que explicava a evolução das espécies era a hereditariedade dos caracteres adquiridos, mecanismo não mais aceito pela Ciência. Dizia, por exemplo, que as girafas, de tanto se esforçarem para “colher” as folhas nas grimpas das árvores, acabavam com o pescoço longo, transmitindo essa mudança somática aos descendentes.
Por justiça e como curiosidade histórica, é preciso esclarecer que, simultaneamente a Darwin e de forma independente, outro naturalista inglês, Alfred Russel Wallace, chegava a conclusões semelhantes. Tanto assim que, em 1858, um ano antes da publicação de “A Origem das Espécies”, em reunião da “Linean Society”, foram expostos, em conjunto, um resumo das teorias de Darwin e um ensaio de Russel Wallace sobre evolução das espécies.
As idéias evolucionistas e, particularmente, as teorias de Darwin, abordadas em “A Origem das Espécies”, encontraram ferrenha oposição em grande parcela do meio científico, na mídia e sobretudo por parte da Igreja, instituição sempre zelosa na defesa dos seus dogmas e princípios, que vislumbrou, com preocupação, na hipótese evolucionista, um antagonista importante da cosmologia constante das escrituras sagradas.
O Espiritismo é nitidamente evolucionista. Na lúcida visão de Léon Denis, “não sendo a vida mais que uma manifestação do espírito, traduzida pelo movimento, essas duas formas de evolução são paralelas e solidárias. A alma elabora-se no seio dos organismos rudimentares. No animal está apenas em estado embrionário; no homem, adquire o conhecimento, e não mais pode retrogradar. Porém, em todos os graus ela se prepara e conforma o seu invólucro. As formas sucessivas que reveste são a expressão do seu valor próprio. A situação que ocupa na escala dos seres está em relação direta com o seu estado de adiantamento” (Depois da morte). Em outras palavras, “a alma dorme no mineral, sonha no vegetal, agita-se no animal e desperta no homem”.
Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará. (A Gênese, Cap I, 55). O Espiritismo e a Ciência se completam reciprocamente. Ao Espiritismo, sem a Ciência, faltariam apoio e comprovação.
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