quarta-feira, 30 de março de 2011

Dilma participa de homenagem a Lula, mas antecipa volta ao Brasil

A presidente Dilma Rousseff confirmou nesta terça-feira (29) presença na cerimônia em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva receberá o título de “doutor honoris causa” pela Universidade de Coimbra, mas cancelou o restante de sua agenda em Portugal. Após a cerimônia, Lula e Dilma voltam ao Brasil para o velório do ex-vice-presidente José Alencar, que morreu nesta terça-feira (29) A cerimônia em Portugal está marcada para as 10h30 desta quarta (6h30 de Brasília) na Faculdade de Direito da universidade, com término previsto para o meio-dia (horário local). Em decorrência da morte de José Alencar, porém, as programações previstas para a tarde desta quarta-feira foram canceladas. Lula participaria de almoço no Palácio de São Marcos, residência oficial do reitor da Universidade de Coimbra. No final da tarde, Lula teria uma reunião com os alunos brasileiros da universidade. Fonte: G1.

terça-feira, 29 de março de 2011

Dono da Coteminas, Alencar ajudou Lula a superar resistência do empresariado

Do UOL Notícias

Em São Paulo   
  José Alencar Gomes da Silva causou surpresa, à esquerda e à direita, ao aceitar a posição de vice na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República, na campanha de 2002. O que parecia natural oito anos depois, quando o petista deixou o Palácio do Planalto e correu para visitar o amigo internado no hospital Sírio-Libanês, foi um movimento arriscado na época, com suspeição de lado a lado.
A dobradinha surgiu depois de uma articulação entre PT e PL, como um aceno ao empresariado de que a candidatura petista buscava diálogo e ampliação de sua base histórica, na faixa dos 30% cativos. Antes, o então senador pelo PL havia sido sondado pelo também candidato Ciro Gomes (na época no PPS) e pelo PSDB, que teria o ministro da Saúde, José Serra, como preferido para suceder Fernando Henrique Cardoso. Quando explodiu o escândalo do mensalão, sobraram suspeitas de que a aliança foi paga em dinheiro pelo PT.
Alencar seria uma espécie de "avalista" de Lula junto aos investidores --ideia reforçada com o lançamento da "Carta ao Povo Brasileiro", pelo petista, em junho de 2002, na qual ele reafirmou compromissos com a estabilidade econômica. Também pesou para a escolha do dono da Coteminas o fato de ser uma liderança de Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país. A história de vida sofrida, apesar dos milhões no banco, também serviram para associar as histórias do candidato a presidente com o seu vice.
Ironia do destino. Todo mundo fala que o Lula fez aliança comigo porque eu representava segurança e não risco, justamente para isso que se chama mercado. Hoje, dizem que eu sou o risco. Isso não é estranho?
Alencar, em 11 de setembro de 2005
O então senador cumpriu à risca seu papel durante a campanha. Já no governo, o nacionalista Alencar mostrou-se um defensor ferrenho da queda das taxas de juros --mas seus comentários não abalaram a política econômica ortodoxa do governo, então sob o comando do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
Em 2004, Alencar assumiu o Ministério da Defesa, depois de atritos entre o então ministro, o embaixador José Viegas, e militares, por conta da ação destes durante a ditadura. Em 2005, defendeu o governo em meio às denúncias do esquema de pagamento a parlamentares em troca da apoio político no Congresso. Segundo ele, o presidente teria sido "vítima do despreparo" do PT.
Também em 2005, Alencar, católico, deixou o PL e filiou-se ao PMR (Partido Municipalista Renovador), ligado à Igreja Universal do Reino de Deus. Dois meses depois, o partido mudou seu nome para PRB (Partido Republicano Brasileiro).
Alencar renunciou ao Ministério da Defesa em março de 2006 para poder se candidatar à reeleição. Apesar de pressões do PSB e do PMDB, que também tentaram emplacar o vice, o mineiro voltou a fazer dobradinha com Lula.
No segundo mandato do petista, Alencar seguiu na sua batalha contra os juros altos, mas já estava abalado pelos problemas de saúde.

Trajetória empresarial

Alencar nasceu em 17 de outubro de 1931 em Itamuri, na cidade de Muriaé, na zona da mata de Minas Gerais. Era um dos 15 filhos de Antônio Gomes da Silva e Dolores Peres Gomes da Silva. Alencar só cursou o ensino fundamental --sua origem humilde era frequentemente lembrada por Lula, que a comparava com a sua própria.
Aos 7 anos, Alencar ajudava o pai em uma pequena loja. Mas começou mesmo a trabalhar aos 14 anos, como balconista numa loja de armarinhos em Muriaé, ganhando 600 cruzeiros por mês. "Eu já praticava responsabilidade fiscal aos 14 anos", dizia, sobre essa época.
Em seguida, mudou-se para Caratinga. Aos 18, estabeleceu-se como comerciante, com a lojinha "A Queimadeira", que vendia tecidos, calçados, chapéus e outros artigos --vinha daí, segundo ele, seu "horror" aos juros altos. Depois da loja, Alencar foi viajante comercial, atacadista de cereais, dono de fábrica de macarrão, atacadista de tecidos e industrial do ramo de confecções.
Em 1967, em parceria com o empresário e deputado Luiz de Paula Ferreira, com um empréstimo da extinta Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste) e com o apoio do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, fundou em Montes Claros (MG) a Coteminas (Companhia de Tecidos Norte de Minas). A primeira fábrica seria aberta em 1975.
Hoje, a Coteminas, que fabrica as marcas Artex e Santista, é um dos maiores grupos industriais têxteis do país, com unidades em Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Paraíba e Santa Catarina e na Argentina. As 12 fábricas produzem fios, tecidos, malhas, camisetas, meias, toalhas de banho e de rosto, roupões e lençóis, vendidos no mercado interno, nos Estados Unidos, na Europa e nos países do Mercosul.
Depois de atuar em entidades representantes dos empresários em Minas e de ser vice-presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Alencar candidatou-se ao governo de Minas em 1994, quando foi derrotado pelo tucano Eduardo Azeredo. Em 1998, candidatou-se ao Senado e elegeu-se pelo PMDB com quase 3 milhões de votos. Ele mesmo financiou 99% dos R$ 6,4 milhões que pagaram sua campanha, segundo dados do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) mineiro. Em 2001, transferiu-se para o PL para, um ano depois, chegar à vice-presidência.
Admirador da cachaça, fabricava as marcas Maria da Cruz, Porto Estrela e Sagarana em suas propriedades. Em discurso em abril de 2005, ele disse que o melhor lugar para discutir o futuro do Brasil era um "bar agradável". Alencar era casado com Mariza Campos Gomes da Silva e teve três filhos, Josué Christiano, Maria da Graça e Patrícia, e cinco netos.  
       

Após 13 anos de luta contra o câncer, José Alencar morre em São Paulo aos 79 anos

Do UOL Notícias
Em São Paulo

  Depois de lutar por mais de 13 anos contra o câncer, o ex-vice-presidente da República José Alencar morreu na tarde desta terça-feira (29), aos 79 anos, em São Paulo. A informação foi confirmada pela equipe médica.
Nesse período ele foi submetido a 17 cirurgias, perdeu um rim, dois terços do estômago e partes dos intestinos delgado e grosso. Alencar era casado com Mariza Campos Gomes da Silva, pai de três filhos --Josué Christiano, Maria da Graça e Patrícia -- e avô de cinco netos (em 2001 ele passou a responder a um processo de reconhecimento de paternidade ajuizado por Rosemary de Moraes).
  O quadro clínico do empresário que ajudou a eleger Lula em 2002 e em 2006 piorou três dias antes do último Natal, quando foi internado com urgência após uma nova hemorragia abdominal provocada pelo tumor no intestino. Os médicos contiveram o sangramento, mas não puderam retirar os tecidos comprometidos pela doença, impedindo o político mineiro de se despedir do cargo em Brasília e de participar da posse da presidente Dilma Rousseff.
De dezembro até os primeiros meses de 2011, o ex-vice voltou a ser internado diversas vezes, sempre em situação muito grave (veja histórico abaixo). Cirurgias foram descartadas nas últimas internações devido ao estado delicado de sua saúde.
Em novembro de 2009, Alencar garantiu que se a saúde permitisse seria candidato ao Senado. No início do ano passado, cogitou tentar o governo de Minas Gerais. Porém, em abril, afirmou que não disputaria cargos por estar em tratamento de quimioterapia contra o câncer.
"Decidi não me candidatar a nada. Vou cumprir o meu mandato até o último dia, se Deus quiser, e descer a rampa da mesma forma que subi. Subi a rampa com ele [Lula], vou descer com ele. Ele também não se afastou, vamos juntos", disse na ocasião. Proibido pelos médicos, ficou no hospital enquanto Dilma e seu sucessor, Michel Temer, recebiam o cargo no Palácio do Planalto.
 

Histórico

Os problemas do ex-vice-presidente com o câncer começaram em 1997, quando descobriu dois pequenos tumores malignos no rim direito e no estômago. Na ocasião, Alencar foi operado no mesmo dia.
Submeteu-se a duas cirurgias --em 2000 e 2002-- para tratar de um câncer da próstata. Em 2006, foi a vez de um tumor retroperitonial (atrás da membrana serosa que recobre as paredes do abdome e a superfície dos órgãos digestivos).
Em outubro de 2007 Alencar foi operado novamente do tumor no retroperitônio. Numa revisão da cirurgia em 20 de dezembro, foi detectado um "ponto minúsculo" na mesma região, e os médicos decidiram fazer sessões de quimioterapia para combatê-lo.
Entre 12 e 19 de janeiro de 2008, ficou internado no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, por conta de uma infecção decorrente da quimioterapia. Recebeu alta aparentando fragilidade, mas com otimismo. Na ocasião, disse que queria almoçar em uma churrascaria.
Depois disso, voltou a ser hospitalizado outras vezes para ser submetido a tratamentos de quimioterapia. No dia 26 de julho de 2008, Alencar admitiu em uma entrevista coletiva que estava novamente com câncer. Ele disse a jornalistas, em Brasília, que exames de rotina feitos em São Paulo mostraram "uma recorrência".
Rezem por mim, o negócio está feio
Alencar, em 6 de janeiro de 2008
    Na ocasião, ele descartou a possibilidade de se afastar temporariamente da Vice-Presidência da República.
    Em janeiro de 2009, enfrentou cerca de 17 horas de operação para a retirada de nove tumores na região abdominal. Na mesma cirurgia, os médicos retiraram parte do intestino delgado, outra do intestino grosso e uma porção do ureter, canal que liga o rim à bexiga. Alencar ficou internado 22 dias após a operação.
    Já em maio do mesmo ano, novos exames apontaram o retorno de tumores malignos em "alguns pontos da cavidade abdominal". Mas, no final de outubro de 2009, Alencar disse que o último exame realizado mostrava uma "redução substancial" dos tumores.
    No início de julho de 2010, Alencar deu entrada no hospital Sírio-Libanês para uma sessão de quimioterapia, mas apresentou uma crise de hipertensão e foi internado em seguida. Após três dias, foi diagnosticada uma isquemia (deficiência na irrigação sanguínea) cardíaca, o que estava provocando uma irrigação insuficiente em uma das paredes laterais de seu coração.
    Por isso, foi feita a colocação do stent (dispositivo para dilatar vasos sanguíneos) no coração. Na ocasião, ele também passou por um cateterismo (exame para verificar as condições de vasos sanguíneos).
    Em setembro, o vice-presidente voltou a ser internado para tratar um edema agudo de pulmão. Já no final de outubro, Alencar foi internado com um quadro de suboclusão intestinal.
    No começo de novembro, sofreu um infarto agudo do miocárdio e foi submetido a um novo cateterismo. No dia 27 de novembro, Alencar foi operado para desobstruir o intestino. A cirurgia durou cinco horas e resultou na extração de dois nódulos e 20 centímetros de seu intestino delgado. No final do procedimento, ele sofreu uma arritmia cardíaca, que foi revertida.
    No meio de dezembro, Alencar deixou o hospital após passar 25 dias se recuperando da cirurgia e submetendo-se a sessões de hemodiálise, por conta do comprometimento das funções renais. Em 22 de dezembro, porém, voltou ao hospital, de onde só recebeu alta no dia 26 de janeiro.
    Alencar voltou a ser internado às pressas no dia 9 de fevereiro devido a uma perfuração intestinal. Ele deixou a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no dia 15 de fevereiro e recebeu alta médica 34 dias depois. No dia 28 de março retornou ao hospital em situação considerada crítica e foi internado novamente na UTI.

    Biografia

    Filho de um pequeno comerciante de um vilarejo mineiro, José Alencar Gomes da Silva começou a trabalhar cedo e deixou a família quando tinha 14 anos para empregar-se numa loja na sede do município de Muriaé (MG).
    Em 1947, atrás de um emprego melhor, mudou-se para Caratinga, cidade em que conheceu Mariza, com quem se casou. Aos 18 anos, foi emancipado pelo pai (na época, a maioridade civil ocorria aos 21 anos) e, com apoio financeiro de um irmão, abriu uma loja na cidade.
    Você não sabe o que é a morte, então você não tem de ter medo da morte. Você tem de ter medo é da desonra, dela você tem de ter medo, isso mata você."
    Alencar, em 30 de dezembro de 2007
      Hoje, a Coteminas S.A., controlada pela família de Alencar, é a maior empresa do setor têxtil do país e um dos mais importantes grupos econômicos do Brasil.
      Alencar causou surpresa, à esquerda e à direita, ao aceitar a posição de vice na vitoriosa chapa de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República, na campanha de 2002. Quatros anos depois, foi reeleito vice-presidente.
      Em julho de 2010, um juiz da comarca de Caratinga (MG), declarou José Alencar oficialmente pai de Rosemary de Morais, que passou a assinar Gomes da Silva. A sentença faz parte de uma ação de reconhecimento de paternidade ajuizada em 2001.            

      Alencar partiu de um vilarejo para construir empresa que fatura US$ 2,4 bi por ano

      Do UOL Notícias*
      Em São Paulo


        Como empresário, José Alencar cumpriu, como poucos, a trajetória de um vencedor. Filho de um pequeno comerciante de um vilarejo mineiro, começou a trabalhar cedo e deixou a família quando tinha 14 anos para se empregar numa loja em Muriaé. Nessa época, passava as noites no corredor do Hotel da Estação --o salário não era o bastante para pagar por um quarto. "Era uma pensão de categoria --vamos dizer-- uma estrela", costumava repetir o ex-vice-presidente.
      Em 1947, atrás de um emprego melhor, mudou-se para Caratinga, cidade em que conheceu Mariza, com quem se casou. Pouco antes de conhecer a mulher, teve alguns relacionamentos fortuitos. De um deles nasceu Rosemary, reconhecida por ele somente em 2010. Aos 18 anos, Alencar foi emancipado pelo pai (na época, a maioridade civil ocorria aos 21 anos) e, com apoio financeiro de um irmão, abriu uma loja.
      O ex-vice-presidente gostava de contar que morar na loja e comer na marmita faziam parte do esforço para baixar os custos. E que seu combate contra os juros começou ali. Assim, a loja "A Queimadeira" podia vender tecidos, calçados, chapéus, guarda-chuvas, sombrinhas e armarinho a preços mais competitivos que os da concorrência.

      Linha do tempo

      Hoje, a Coteminas S.A., controlada pela família de Alencar, é a maior empresa do setor têxtil do Brasil e um dos mais importantes grupos econômicos do país. Na verdade, é uma multinacional: em 2005, investiu US$ 1,6 bilhão na fusão com a gigante norteamericana Springs e formou a Springs Global, comandada pela filial brasileira, que detém 50% das ações do grupo. Desde 1992 é uma empresa de capital aberto.
      A Springs Global fatura US$ 2,4 bilhões por ano e possui 25 fábricas. Na lógica da empresa, os Estados Unidos representam um centro de distribuição e de design, além de acesso a um mercado consumidor gigantesco (nos EUA, a garota-propaganda da Springs Global era a top model Cindy Crawford).
      O Brasil, para onde algumas fábricas dos EUA foram trazidas após a fusão, entra com um grande volume de produção de tecidos a baixo custo e também de compra de algodão e outros fios artificiais e sintéticos. O México é também um centro de produção de baixo custo e de complemento de atividades industrias. A empresa busca investir na Europa e na Ásia, para diversificar o mercado.

                  

      sábado, 26 de março de 2011

      Revista “Cruzeiro” , ano I, número 1

      Editorial em 10 de novembro de 1928


      Depomos nas mãos do leitor a mais moderna revista brasileira. Nossas irmãs mais velhas nasceram por entre as demolições do Rio colonial, através de cujos escombros a civilisação traçou a recta da Avenida Rio Branco: uma recta entre o passado e o futuro. Cruzeiro encontra já, ao nascer, o arranha-céo, a radiotelephonia e o correio aéreo: o esboço de um mundo novo no Novo Mundo. Seu nome é o da constelação que, ha milhões incontaveis de annos, scintila, aparentemente immovel, no céo austral, e o da nova moeda em que resuscitará a circulação do ouro. Nome de luz e de opulencia , idealista e realistico, synonymo de Brasil na linguagem da poesia e dos symbolos.
      Timbre de estrellas na bandeira da Patria, o cruzeiro foi, desde o primeiro dia da sua historia, um talisman. Nas solidões do mar, era o fanal nocturno dos navegantes. Vera Cruz, Santa Cruz, foram os nomes sacros que impuzeram á terra nova os nautas-cavalleiros na semana mystica do descobrimento. A armada descobridora apontara á vista dos íncolas attonitos, com as vermelhas cruzes pintadas na pojadura palpitante das vélas. Na terra paradisíaca, por onde Eva andava na verde floresta mais nua do que anda hoje nas praias fulvas de Copacabana, arvorou-se em signal de posse uma cruz, em memoria daquella outra em que um Homem divino fôra crucificado no reinado do lascivo Tiberio. Volvidos quatro seculos, a bandeira nacional recolhia num losangulo de céo a constelação tutelar, restaurando na linguagem dos symbolos o nome do baptísmo de 1500. Cruzeiro é um título que inclue nas suas tres syllabas um programma de patriotismo.
      ø
      Uma revista, como um jornal, terá de ter, forçosamente, um caracter e uma moral. De um modo generico: princípios. Dessa obrigação não estão isentas as revistas que se convencionou apelidar de frívolas. A funcção da revista ainda não foi, entre nós, sufficientemente esclarecida e comprehendida. Em paíz da extensão desconforme do Brasil, que é uma amalgama de nações com uma só alma, a revista reune um complexo de possibilidades que, em certo sentido, rivalisam ou ultrapassam as do jornal. O seu raio de acção é incomparavelmente mais amplo no espaço e no tempo. Um jornal está adstricto ás vinte e quatro horas de sua existencia diaria. Cada dia o jornal nasce e fenece, para renascer no dia seguinte. É uma metamorphose consecutiva. O jornal de hontem é já um documento fóra de circulação: um documento de archivo e de bibliotheca. O jornal dura um dia. Essa existencia, tão intensa como breve, difficulta os grandes percursos. É um vôo celere e curto. O jornal é a propria vida. A revista é já um compendio da vida. A sua circulação não está confinada a uma area traçada por um compasso cujo ponteiro movel raro pôde exceder um círculo de raio superior á distancia maxima percorrivel em vinte e quattro horas. A revista circula desde o Amazonas ao Rio Grande do Sul, infiltra-se por todos os municipios, utilisa na sua expansão todos os meios de conducção terrestre, maritima, fluvial e aérea; entra e permanece nos lares; é a leitura da familia e da visinhança. A revista é o estado intermedio entre o jornal e o livro.
      ø
      Por isso mesmo que o campo de acção da revista é mais vasto, a sua interpretação dos acontecimentos deve subordinar-se a um criterio muito menos particularista do que o do jornal. Um jornal póde ser um órgão de um partido, de uma facção, de uma doutrina. Uma revista é ums instrumento de educação e de cultura: onde se mostrar a virtude, animá-la; onde se ostentar a belleza, admirá-la; onde se revelar o talento, applaudi-lo; onde se empenhar o progresso, secundá-lo. O jornal dá-nos da vida a sua versão realista, no bem e no mal. A revista redu-la á sua expressão educativa e esthetica. O concurso da imagem é nella um elemento preponderante. A cooperação da gravura e do texto concede á revista o privilegio de poder tornar-se obra de arte. A politica partidaria seria tao incongruente numa revista do modelo de Cruzeiro como num tratado de geometria. Uma revista deve ser como um espelho leal onde se reflecte a vida nos seus aspectos edificantes, attraentes e instructivos. Uma revista deverá ser, antes de tudo, uma escola de bom gosto.
      ø
      Porque é a mais nova, Cruzeiro é a mais moderna das revistas. É este o título que, entre todos, se empenhará por merecer e conservar: ser sempre a mais moderna num paiz que cada dia se renova, em que o dia de hontem já mal conhece o dia de amanhã; ser o espelho em que se reflectirá, em periodos semanaes, a civilisação ascensional do Brasil, em todas as suas manifestações; ser o commentario multiplo, instantaneo e fiel dessa viagem de uma nação para o seu grandioso porvir; ser o documento registrador, o vasto annuncio illustrado, o film de cada sete dias de um povo, eis o programma de Cruzeiro.
      É pelo habito de modelar o barro que se chega a bem esculpir o marmore. Esta revista será mais perfeita, mais completa, mais moderna amanhã do que é hoje.
      Capa da primeira ediçãocruzeirocap01

      quinta-feira, 24 de março de 2011

      Japão reconstrói rodovia destruída por terremoto em apenas seis dias


      Estrada fica em Naka, na província de Ibaraki.
      Foi recuperado trecho de 150 m que faz ligação com Tóquio.

      Uma rodovia destruída pelo terremoto do dia 11 de março em Naka, na província de Ibaraki, no norte do Japão, foi reconstruída em apenas seis dias pela empresa responsável. Foi recuperado um trecho de 150 metros que faz ligação com a capital Tóquio.
      Imagem tirada no dia 11 de março mostra rodovia destruída por terremoto em Naka. (Foto: AP)Imagem tirada no dia 11 de março mostra rodovia destruída por terremoto em Naka. (Foto: AP)
      Imagem tirada no dia 17 de março mostra a rodovia já restaurada. (Foto: AP)Imagem feita no dia 17 de março mostra a rodovia já restaurada. (Foto: AP)

      O novo Lula

      quarta-feira, 23 de março de 2011

      Praia de nudismo pode virar resort e cria polêmica entre naturistas e prefeitura

      Valéria Sinésio
      Especial para o UOL Notícias
      Em João Pessoa (PB)     

      Naturistas passeiam pelas areias da praia de Tambaba (PB), que pode ser transformada em resort 

        A praia de Tambaba, localizada no litoral sul da Paraíba, vive mais uma entre as tantas polêmicas que já viveu nos últimos 20 anos, desde que foi criada, em 1991. A Sociedade Naturista Amigos de Tambaba (Sonata) está denunciando a pretensão da prefeitura do Conde de querer ceder parte da área naturista a empresários estrangeiros que, segundo a Sonata, ergueriam ali um resort de padrão internacional.

      O temor de ameaça à prática naturista levou os adeptos a rapidamente se mobilizarem para elaborar um abaixo-assinado pedindo à prefeitura a criação de uma Área Especial de Interesse Turístico (AEIT).

      Onde estão as praias de nudismo do Brasil

      O objetivo do pedido é um só: garantir que, mesmo que o resort seja construído no local, a prática do naturismo não sofra nenhuma forma de intervenção e que seus adeptos possam continuar a frequentando "numa boa".

      O presidente da Sonata, Daniel Santos, disse ao UOL Notícias que mais de 3.000 pessoas já assinaram o documento, a ser entregue até o final de março à Secretaria de Turismo do Conde, município onde está localizada a praia.

      “Nossa intenção é preservar a filosofia naturista e os hábitos de quem é adepto da sua prática", disse Santos. "Essa não é a primeira vez que nós, naturistas de Tambaba, nos sentimos ameaçados, não podemos ser prejudicados por interesses particulares."

      A atividade turística em Tambaba é forte. Nos fins de semana cerca de 3.000 visitantes tiram as roupas e circulam pela faixa de areia reservada aos nudistas. Nos feriados, o número dobra. Em cada grupo de dez visitantes, nove chegam de outros Estados e países.

      A praia é dividida em duas partes: uma aberta ao público em geral e outra aberta somente a naturistas. As duas são divididas por uma escada de acesso. Os governos do município do Conde e do Estado da Paraíba garantem a segurança dos turistas.

      Outro lado

      O secretário de Turismo do Conde, Saulo Barreto, admitiu à reportagem do UOL Notícias a possibilidade de construção de resorts em Tambaba, mas garantiu que a prática do naturismo não será prejudicada.

      “A área é intocável, trata-se de um importante destino turístico no Estado”, afirmou Barreto. Segundo ele, a construção do resort se daria em cima da falésia e em nada afetaria a 'liberdade' dos adeptos do naturismo. “Há muitos grupos estrangeiros interessados em construir resorts na área, mas ainda estamos na fase apenas de planejamento.”

      Onde fica

      Tambaba está localizada no município do Conde, 40 quilômetros ao sul de João Pessoa (PB). Para chegar à praia de Tambaba de carro é preciso fazer o acesso pela BR-101 ou pela PB-008, em direção ao município do Conde. Ambos os caminhos são bem sinalizados com placas indicativas. Após passar em Jacumã, outro destino turístico da Paraíba, chega-se ao Conde.

      domingo, 20 de março de 2011

      Confissão de José Roberto Arruda (ex-DEM) detona o DEM, PSDB e a Veja

      O ex-governador José Roberto Arruda deu uma entrevista à revista Veja e denunciou: todo o partido se beneficiou do esquema montado em Brasília. Arruda afirmou que “tudo sempre foi feito com o aval do deputado Rodrigo Maia (então presidente do DEM)”. 
      O ex-governador ainda classificou de “desleais” alguns colegas de partido: “As mesmas pessoas que me bajulavam e recebiam a minha ajuda foram à imprensa dar declarações me enxovalhando”.

      A revista Veja (que antes do escândalo considerava Arruda um exemplo de estadista) publicou a entrevista essa semana, mas o advogado de Arruda declarou ao jornalista Ricardo Noblat que a entrevista foi concedida em setembro, antes das eleições.

      Qual o interesse da Veja em publicar a entrevista apenas nesse momento e não antes das eleições, quando teria maior impacto?
      A nova direção do DEM está alinhada com Aécio Neves (PSDB/MG). A entrevista seria um recado de José Serra aos demos que se aproximam do senador mineiro?
      Reproduzimos a seguir a entrevista publicada no site da Veja.
      *****
      Arruda diz que ajudou líderes do DEM a captar dinheiro
      Segundo o ex-governador, dinheiro da quadrilha que atuava em Brasília alimentou campanhas de ex-colegas como José Agripino Maia e Demóstenes Torres
      José Roberto Arruda foi expulso do DEM, perdeu o mandato de governador e passou dois meses encarcerado na sede da Polícia Federal (PF), em Brasília, depois de realizada a Operação Caixa de Pandora, que descobriu uma esquema de arrecadação e distribuição de propina na capital do país. Filmado recebendo 50 mil reais de Durval Barbosa, o operador que gravou os vídeos de corrupção, Arruda admite que errou gravemente, mas pondera que nada fez de diferente da maioria dos políticos brasileiros: “Dancei a música que tocava no baile”.
      Em entrevista a Veja, o ex-governador parte para o contra-ataque contra ex-colegas de partido. Acusa-os de receber recursos da quadrilha que atuava no DF. E sugere que o dinheiro era ilegal. Entre os beneficiários estariam o atual presidente do DEM, José Agripino Maia (RN), e o líder da legenda no Senado, Demóstenes Torres (GO). A seguir, os principais trechos da entrevista:
      O senhor é corrupto?
      Infelizmente, joguei o jogo da política brasileira. As empresas e os lobistas ajudam nas campanhas para terem retorno, por meio de facilidades na obtenção de contratos com o governo ou outros negócios vantajosos. Ninguém se elege pela força de suas ideias, mas pelo tamanho do bolso. É preciso de muito dinheiro para aparecer bem no programa de TV. E as campanhas se reduziram a isso.
      O senhor ajudou políticos do seu ex-partido, o DEM?
      Assim que veio a público o meu caso, as mesmas pessoas que me bajulavam e recebiam a minha ajuda foram à imprensa dar declarações me enxovalhando. Não quiseram nem me ouvir. Pessoas que se beneficiaram largamente do meu mandato. Grande parte dos que receberam ajuda minha comportaram-se como vestais paridas. Foram desleais comigo.
      Como o senhor ajudou o partido?
      Eu era o único governador do DEM. Recebia pedidos de todos os estados. Todos os pedidos eu procurei atender. E atendi dos pequenos favores aos financiamentos de campanha. Ajudei todos.
      O que senhor quer dizer com “pequenos favores”?
      Nomear afilhados políticos, conseguir avião para viagens, pagar programas de TV, receber empresários.
      E o financiamento?
      Deixo claro: todas as ajudas foram para o partido, com financiamento de campanha ou propaganda de TV. Tudo sempre feito com o aval do deputado Rodrigo Maia (então presidente do DEM).
      De que modo o senhor conseguia o dinheiro?
      Como governador, tinha um excelente relacionamento com os grandes empresários. Usei essa influência para ajudar meu partido, nunca em proveito próprio. Pedia ajuda a esses empresários: “Dizia: ‘Olha, você sabe que eu nunca pedi propina, mas preciso de tal favor para o partido’”. Eles sempre ajudaram. Fiz o que todas as lideranças políticas fazem. Era minha obrigação como único governador eleito do DEM.
      Esse dinheiro era declarado?
      Isso somente o presidente do partido pode responder. Se era oficialmente ou não, é um problema do DEM. Eu não entrava em minúcias. Não acompanhava os detalhes, não pegava em dinheiro. Encaminhava à liderança que havia feito o pedido.
      Quais líderes do partido foram hipócritas no seu caso?
      A maioria. Os senadores Demóstenes Torres e José Agripino Maia, por exemplo, não hesitaram em me esculhambar. Via aquilo na TV e achava engraçado: até outro dia batiam à minha porta pedindo ajuda! Em 2008, o senador Agripino veio à minha casa pedir 150 mil reais para a campanha da sua candidata à prefeitura de Natal, Micarla de Sousa (PV). Eu ajudei, e até a Micarla veio aqui me agradecer depois de eleita.
      O senador Demóstenes me procurou certa vez, pedindo que eu contratasse no governo uma empresa de cobrança de contas atrasadas. O deputado Ronaldo Caiado, outro que foi implacável comigo, levou-me um empresário do setor de transportes, que queria conseguir linhas em Brasília.
      O senhor ajudou mais algum deputado?
      O próprio Rodrigo Maia, claro. Consegui recursos para a candidata à prefeita dele e do Cesar Maia no Rio, em 2008. Também obtive doações para a candidatura de ACM Neto à prefeitura de Salvador.
      Mais algum?
      Foram muitos, não me lembro de cabeça. Os que eu não ajudei, o Kassab (prefeito de São Paulo, também do DEM) ajudou. É assim que funciona. Esse é o problema da lógica financeira das campanhas, que afeta todos os políticos, sejam honestos ou não.
      Por exemplo?
      Ajudei dois dos políticos mais decentes que conheço. No final de 2009, fui convidado para um jantar na casa do senador Marco Maciel. Estávamos eu, o ex-ministro da Fazenda Gustavo Krause e o Kassab. Krause explicou que, para fazer a pré-campanha de Marco Maciel, era preciso 150 mil reais por mês. Eu e Kassab, portanto, nos comprometemos a conseguir, cada um, 75 mil reais por mês. Alguém duvida da honestidade do Marco Maciel? Claro que não. Mas ele precisa se eleger. O senador Cristovam Buarque, do PDT, que eu conheço há décadas, um dos homens mais honestos do Brasil, saiu de sua campanha presidencial, em 2006, com dívidas enormes. Ele pediu e eu ajudei.
      Então o senhor também ajudou políticos de outros partidos?
      Claro. Por amizade e laços antigos, como no caso do PSDB, partido no qual fui líder do Congresso no governo FHC, e por conveniências regionais, como no caso do PT de Goiás, que me apoiava no entorno de Brasília. No caso do PSDB, a ajuda também foi nacional. Ajudei o PSDB sempre que o senador Sérgio Guerra, presidente do partido, me pediu. E também por meio de Eduardo Jorge, com quem tenho boas relações. Fazia de coração, com a melhor das intenções.

      sábado, 19 de março de 2011

      Superlua: ‘perigeu lunar’ será observado hoje

      Sábado terá espetáculo no céu
      Sábado terá espetáculo no céu
      Um fenômeno conhecido como perigeu lunar poderá ser visualizado hoje, dia 19: trata-se da maior aproximação do satélite da Terra, provocando uma ‘superlua’ cheia.
      É esperado um espetáculo visual quando a lua se aproximará da Terra a uma distância de 221,567 milhas da órbita – chegará mais próxima do nosso planeta desde 1992.
      A lua cheia poderá aparecer no céu 14% maior e 30% mais luminosa, especialmente quando nascer no horizonte do oriente ao pôr-do-sol ou em condições atmosféricas bem favoráveis.

      Superlua
      O fenômeno denominado de ‘Superlua’ muito se tem escrito sobre a influência do mesmo na ocorrência de grandes catástrofes naturais. Um fenômeno que a ciência desmistifica.
      São várias as notícias apocalípticas que têm vindo a circular nas últimas semanas na internet sobre a possibilidade de ocorrerem graves catástrofes naturais uma semana antes e uma semana depois do dia 19 de março.
      Porquê? Porque em 19 de março a lua vai atingir o ponto mais próximo da Terra desde 1992, ou seja, passará a 356.577 quilômetros.  Este fenômeno é reportado como o mais relevante assunto sobre ‘supermoons’ que está conectado com fenômenos geológicos -  como os terremotos, vulcões e tsunamis.
      A última vez que a lua passou tão próxima da Terra foi no dia 10 de janeiro de 2005, nos dias próximos dos terremotos na Indonésia que registrou 9.0 na escala Richter.
      O furacão Katrina em 2005 também foi associado com a lua cheia incomum.
      Previsões de ‘supermoons’ aconteceram em 1955, 1974 e 1992 – cada um destes anos tivemos a experiência de fortes manifestações climáticas.


      PORTAL CORREIO
       

      Paulo Nogueira Batista Jr: A influência do Brasil no exterior é crescente, inclusive no FMI

      Era comum na década de 1990 ouvir que os investimentos públicos do Brasil estavam condicionados às diretrizes do Fundo Monetário Internacional (FMI). Tudo que era proposto pelo Estado brasileiro precisava da chancela do Fundo, que tutelava o governo e o povo. Contudo, no governo Lula esse tempo passou e quem voltou a dar as cartas sobre os investimentos públicos é o Estado brasileiro.
      Em entrevista ao Dilma na Web, o diretor executivo pelo Brasil e mais oito países no FMI, Paulo Nogueira Batista Junior, analisa esse novo momento do país e comemora o abandono das ilusões da globalização e fim do Estado inoperante que apostava apenas no mercado.
      Qual a avaliação sobre o desempenho dos países em desenvolvimento na crise financeira mundial, iniciada em 2008?
      Foi uma grande surpresa. Os países em desenvolvimento, em sua maioria, enfrentaram a crise razoavelmente bem. O Brasil se destacou nesse particular. Muito do prestigio atual do país se deve à percepção de que o Brasil soube lidar bem com os choques externos em 2008 e 2009. Houve a maior crise desde a Grande Depressão dos anos 1930, e o Brasil não só não teve grandes problemas em suas contas externas, como virou credor do FMI! Quem diria!
      Que significado tem dentro e fora do FMI a mudança de posição do Brasil de devedor para credor externo?
      Hoje a nossa posição é outra. A influência do Brasil no exterior, inclusive no FMI, G20, é crescente. O Brasil tem demonstrado capacidade de atuar de forma independente. Nem todos os emergentes têm essa capacidade. Houve, acredito, uma mudança enorme na posição internacional do país. Temos que trabalhar para manter e consolidar essa posição mais forte. Para isso, é importante, entre outras coisas, manter as contas em ordem e evitar a dependência de capitais externos.
      Quais vantagens competitivas o senhor vê no Brasil em relação aos outros países?
      O Brasil é um país-continente. É um dos maiores do mundo em termos de PIB [Produto Interno Bruto], população e extensão geográfica. Tem recursos naturais abundantes. Uma população ativa e criativa. Sempre acreditei, mesmo nos piores momentos durante os anos 1980 e 1990, no futuro do país e no seu potencial. Passamos por muito sofrimento, muita decepção, mas agora tomamos o rumo do desenvolvimento com independência. “A independência é para os povos, o que a liberdade é para o individuo”, dizia De Gaullle. Depois de muita cabeçada, parece que finalmente o Brasil encontrou o seu caminho, abandonando as ilusões sobre “globalização”, fim do Estado nacional e outras que nos seduziram na década de 1990.
      O Brasil pode se tornar a 5ª maior economia do mundo, como alguns preveem?
      É difícil prever. Mas o Brasil deve continuar crescendo mais do que a média mundial. Para continuar crescendo, é importante manter políticas econômicas sólidas, estimular o investimento e não se deixar inibir pelas estimativas pessimistas que muitos economistas fazem sobre o nosso “crescimento potencial”. Essas estimativas são mais incertas do que se imagina. Não me parece exagerado buscar metas de crescimento ambiciosas, digamos, de 6% ao ano nos próximos anos.
      Como o senhor vê os recentes desdobramentos da crise mundial na União Europeia e sobretudo os riscos para países em desenvolvimento?
      A crise europeia não está resolvida. A tensão diminuiu, mas o quadro é de fragilidade. A perspectiva é de estagnação ou crescimento lento. Como ela representa mais de 20% do PIB mundial, um efeito adverso no resto do mundo é inevitável. Para o Brasil, o mercado europeu é importante e, portanto, a crise afeta as nossas exportações e provavelmente os preços das commodities (soja, minério de ferro) exportadas pelo país. Mas a posição brasileira é bastante boa. Temos reservas altas, contas razoavelmente sólidas, crescimento econômico robusto. A imagem do Brasil no exterior é muito favorável. A principal fragilidade, a meu ver, é o desequilíbrio crescente das contas externas correntes. Isso resulta da combinação de crescimento rápido e moeda valorizada. O Brasil está crescendo bem mais do que a maioria das principais economias. E os nossos juros são muito mais altos do que os praticados pelos principais bancos centrais do mundo.
      Como andam as discussões para reformar o sistema financeiro internacional e até mesmo o FMI?
      As reformas do FMI estão caminhando. A grande resistência é dos europeus, que estão super-representados na instituição e relutam muito em ceder espaço. Muito dinheiro foi e está sendo colocado no FMI desde a crise global. A briga interna, a disputa pelo poder dentro da instituição, se intensificou. Quanto à reforma financeira, houve progresso, mas não tanto quanto se poderia esperar. Afinal, as deficiências do sistema financeiro, da sua regulação e supervisão, tanto nos EUA como na Europa, provocaram uma crise fenomenal. O problema é que a influência dos lobbies financeiros é enorme. Os governos, pressionados pela opinião publica, estão enfrentando esses lobbies, com maior ou menor sucesso, mas a batalha é dura.

      Você sabe Português? (5)

      39 Estava “paralizada” de medo. O s existente entre duas vogais no substantivo também está presente no verbo: Estava paralisado (de paralisia) de medo. Igualmente paralisante, paralisação/ Vamos analisar (de análise) os resultados/ Carro com catalisador (de catálise polui menos/ A moda agora é alisar (de liso) os cabelos.

      40 Vamos “organizar” a festa É izar a terminação que indica ação de fazer e se agrega a um adjetivo ou substantivo terminado em r, l, n ou vogal:Vamos organizar a festa? Ouros exemplos: horror, horrorizar; banal, banalizar; cânon, canonizar; cota, cotizar; suave, suavizar; escravo, escravizar.

      41 Relacione todas as “excessões”. O certo é exceções. Veja outras grafias errada e, entre parênteses, a forma correta: “beneficiente” (beneficente), “xuxu” (chuchu), “cicoenta” (cinquenta), “zuar” (zoar), ‘frustado’  (frustrado), “advinhar” (adivinhar), “benvindo” (bem-vindo), “ascenção” (ascensão), “pixar” (pichar).
      42 Não admito “previlégios”. A palavra escreve com i: Não admito privilégios. Outros usos do e ou i: empecilho (e não impecilho); calcário (e não  calcaréo), mexerico (e não “mixirico”), aborígene (e não aboregene), despendido (e não dispendido), prevenir (e não previnir).
      43 Ela não sai do “cabelereiro”. Relacione palavras para evitar erros. Ela não sai do cabeleireiro (de cabeleira)./Era um encontro prazeroso (e não  prazeiroso – vem de prazer),  Atenção , vamos maneirar (e não manera” -  vem de  maneiro).
      44 “”Porisso. Duas palavras, por isso,  como de repente e a  partir de.
      45  Recusa-se a fazer “hora-extra”.  Não existe hífen: Recusa-se a fazer hora extra. Também não tem hífen: meio ambiente, peso pesado, ponto de vista, guarda mirim bom humor, mau cheiro, fim de semana, salário mínimo.
      46 Havia falta de “matéria prima”. Existe hífen: Havia falta de matéria-prima. O sinal aparece também em:  mão-de-obra, infra-estrutura, primeira-dama, vale-refeição, terceiro-mundista, mato-grossense, mal-estar, alto-astral, seguro-desemprego, sem-terra, cara-pintada, posto-chave, público-alvo.
      47 Esbanjava “tranquilidade”.  O u pronunciável depois de q e g e antes de e e i exige trema (o sinal não foi revogado):  tranqüilidade, tranqüilo, conseqüência, lingüiça, agüentar, Birigui, eqüinio.
      48 Não “pode” vir ontem. Pôde, passado, recebe circunflexo para não se confundir com pode (pôde): Não pôde vir ontem. O mesmo ocorre com pôr (por causa de por,  preposição):  Vamos pôr tudo em pratos limpos./ É hora de pôr a mesa.
      49 Ele não para nunca. Pára, do verbo parar, tem acento:  Ele não pára nunca. Igualmente: pára-quedas, pára-lama. Veja outros acentos diferenciais: pêlo e pêlosI (cabelo, cabelos), péia (substantivo- bola no jogo – ou forma verbal), pêlo (verbo pelar) , pólo e pólos.
      50 Foi de (Itú) para “Jau”. Palavra oxítona termina em u tem acento apenas se houver vogal do u: Foi de Itu para Jaú. Outros exemplos: Pacaembu, Tambaú, Mundaú, Jacus, Crateús.
      51 Chegou de “Jacareí”. A regra anterior vale também para o i ou o is: Chegou de Jacareí. Outros exemplos: pareci, Jundiaí, saí, ergui, Tucuruvi, caí.
      52 Seu “prejuizo” foi elevado. Nas palavra paroxítonas, o i isolado na frase e seguido ou não de s leva acento agudo: Seu prejuízo foi elevado. Também: sa-í-da, ate-ís-mo, suíço, ruína, Paraíba, caíram, raízes, incluído, atraía, países.
      53 Tinha muito boa “saúde”. A regra anterior também se aplica ao u: Tinha muito boa saúde. Igualmente:  A-ra-ú-jo, balaústre, saúva, miúdo, fei-ú-ra, reúne e conteúdo.
      Veja também SINGULAR/PLURAL, os erros de CONCORDÂNCIA, REDUNDÂNCIAS  e no uso dos PRONOMES

      sábado, 12 de março de 2011

      A vingança do cabra Damião

      Por Francisco Frassales Cartaxo
      Padre Cícero
      e Floro Bartolomeu,
      uma ligação quase platônica era
      insinuada pelos seus opositores
      Quando os homens de Floro Bartolomeu da Costa e padre Cícero Romão Batista invadiram a casa de José Joaquim de Brito, no município de Várzea Alegre, sua mulher reuniu os filhos, todos menores de idade, e passou uma ordem severa:
      - Não quero ouvir ninguém chorar nem debaixo de peia, tá entendido?
      Minha avó, Joana Sales de Brito, tentava evitar o pior: a volta desesperada de seu Zuza da Inácia, como era conhecido meu avô, do capão de mato próximo a sua casa. Zuza avisara que só sairia do esconderijo se ouvisse choro ou grito dentro de casa. Damião, leal cabra da família, a tudo escutou, embora não fosse dirigida a ele tal recomendação. Ele era habituado a tarefas muito mais difíceis naquele mundo de cangaceiros, polícia violenta, fanatismo religioso e coronéis prepotentes do começo do século 20. Naquele dia o cabra de confiança passaria por mais uma provação. Quando da “visita” à fazenda de meu avô, os homens de Floro bateram em Damião sem dó nem piedade, deixando-o quase morto, a ponto de precisar deslocar-se a Juazeiro para tratar os maus-tratos. Por isso, não seguiu com seu Zuza para São João do Rio do Peixe, fato que deixou a todos preocupados, como narrava minha mãe. Ela dizia também que seu pai foi obter em Juazeiro um salvo-conduto do padre Cícero para não ser molestado na viagem à Paraíba. Pasme o leitor, ouvi de minha mãe, inúmeras vezes, que seu Zuza teve de pagar pelo salvo-conduto em moeda corrente!
      Além das sequelas físicas sofridas, Damião tinha motivo mais forte para retardar sua mudança para a Paraíba. Carregava no peito uma dor bem maior do que as pancadas, pontapés e coronhadas dos capangas de Floro Bartolomeu. Ele conhecia os agressores e, na primeira oportunidade, executou com as próprias mãos a tarefa imposta pelos costumes da época. E o fez com o inseparável punhal de estimação. Reza a tradição oral de minha família que Damião ajudou a abreviar a viagem definitiva de três devotos do padim Ciço... Por isso, demorou a emigrar para São João do Rio do Peixe. Antigo delegado de polícia em sua terra natal, Várzea Alegre, (possivelmente no curto governo do coronel Franco Rabelo), José Joaquim de Brito não se surpreendeu quando Damião lhe explicou o motivo de tanta demora:
      - Major, pra viajar em paz eu carecia primeiro fazer um serviço.
            Após a deposição do coronel Franco Rabelo do governo cearense, no coroamento da chamada “sedição do Juazeiro”, em 1914, Fortaleza invadida por cangaceiros e fanáticos, José Joaquim de Brito vendeu sua pro- priedade, localizada no município de Várzea Alegre, a Antonio Ferreira, pai do empresário Raimundo Ferreira, e foi reorganizar sua vida e seus negócios em São João do Rio do Peixe. Ali permaneceu até que a necessidade de educar quatro filhas moças e três homens o induziu a transferir-se para Cajazeiras, onde continuou como discreto negociante, igual a outros cearenses expulsos de sua terra por força de perseguições político-religiosas na região mais conturbada do Nordeste no começo do século 20. Minha avó Joana, nascida no hoje distrito de São José de Lavras, morreu em 1952, com quase 80 anos, numa casa em frente ao Estádio Higino Pires, onde mais tarde residiu o médico Antonio Vituriano. Hoje, lá existe o bonito edifício da CERVAP, construído na profícua, séria, eficiente e eficaz gestão do engenheiro Stanley Lira. Mudou a rua. Também mudaram os costumes sociais e políticos.